Direcção do PS espera nova ofensiva interna, com o regresso de Sócrates do
auto-exílio. Comentário na RTP começa em cima do congresso. Socráticos pediram
censura ao Governo.
O anúncio do regresso de José Sócrates à política abalou a direcção de
Seguro e fez rejubilar o sector de apoiantes do ex-primeiro-ministro, que é
maioritário na bancada parlamentar do PS.
A partir de Abril, aos domingos, mesmo em cima do congresso do PS, Sócrates
vem de Paris para comentar a política nacional, todas as semanas na RTP. «Não
há dúvida que ele vem tentar refazer a história dos seus Governos. Porque
entende que a direcção do PS não o defendeu» – diz ao SOL fonte do Largo do
Rato.
António José Seguro tentou passar uma mensagem de tranquilidade, quando
instado a comentar o regresso do antecessor: «Vejo como uma coisa normal. Há
vários ex-dirigentes de partidos que fazem comentário político».
Na sua
direcção, o regresso era esperado, mas não agora. E vêm um dedo de Miguel
Relvas, o responsável pela RTP, neste timing. «Foi uma chico-espertice do
Relvas, para dividir o PS», opinava um dirigente socialista. «É uma tentativa
de cerco: o Governo, por fora, e os deputados socráticos, cá dentro»,
desabafava um segurista.
Do lado do PSD, o deputado Campos Ferreira, diz ao SOL que lhe agrada o
regresso de Sócrates porque «tem muito a explicar». «Mas deixa com toda a
certeza Seguro muito mais nervoso, preocupado e precipitado», acrescenta.
Na coligação, há quem lamente que seja a televisão pública a dar espaço à
bête noire socialista, como Duarte Marques ou Ribeiro e Castro. Relvas, porém,
não intervirá. Mas o CDS quer chamar ao Parlamento o director de informação da
televisão pública, PauloFerreira, para explicar os critérios da escolha.
O que dirá Sócrates
Nestes quase dois anos de ‘exílio’, Sócrates manteve total contacto com a
evolução da política portuguesa e com muitos socialistas. Os seus mais próximos
sabem com que análise contarão nos domingos televisivos (que começará com uma
grande entrevista, sobre a sua ‘herança’): que o memorando original foi
renegociado por Passos e Gaspar, que a dose de austeridade aplicada foi
largamente superior à que ele negociou e que o Governo está sem qualquer margem
de saída.
Quanto à Europa, aquele que se apresentou em tempos como amigo de Angela
Merkel tem-se mostrado um feroz opositor da linha ditada pela chanceler.
Sobretudo, em relação ao discurso moral e de culpabilização dos países
periféricos pela sua situação.
História de amor e ódio
Se Sócrates faz tremer a direcção, há quem veja no seu regresso uma
oportunidade para separar as águas no PS. Os anti-corpos de Sócrates ficaram à
vista na petição que logo começou a correr, para impedir o programa na RTP.
«Nós, cidadãos e contribuintes portugueses (...) recusamos a presença do
ex-primeiro-ministro José Sócrates em qualquer programa da RTP, televisão essa
que é paga com dinheiros públicos dos contribuintes que sofrem do resultado da
má gestão deste senhor», diz o texto. Rapidamente a petição recolheu mais de 50
mil assinaturas, até meio do dia de ontem. Uma contra-petição, a favor de
Sócrates, reunia, na mesma altura menos de mil. «Parece que ele tem lepra»,
comentava Ascenso Simões, antigo apoiante do ex-primeiro-ministro. Já Renato
Sampaio, que divulgou a moção pró-Sócrates, desabafava: «Já percebi que anda
muita gente com receio e mesmo medo da sua participação cívica».
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