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sábado, 23 de março de 2013

PS espera nova ofensiva interna com regresso de Sócrates


Direcção do PS espera nova ofensiva interna, com o regresso de Sócrates do auto-exílio. Comentário na RTP começa em cima do congresso. Socráticos pediram censura ao Governo.

O anúncio do regresso de José Sócrates à política abalou a direcção de Seguro e fez rejubilar o sector de apoiantes do ex-primeiro-ministro, que é maioritário na bancada parlamentar do PS.

A partir de Abril, aos domingos, mesmo em cima do congresso do PS, Sócrates vem de Paris para comentar a política nacional, todas as semanas na RTP. «Não há dúvida que ele vem tentar refazer a história dos seus Governos. Porque entende que a direcção do PS não o defendeu» – diz ao SOL fonte do Largo do Rato.

António José Seguro tentou passar uma mensagem de tranquilidade, quando instado a comentar o regresso do antecessor: «Vejo como uma coisa normal. Há vários ex-dirigentes de partidos que fazem comentário político». 

Na sua direcção, o regresso era esperado, mas não agora. E vêm um dedo de Miguel Relvas, o responsável pela RTP, neste timing. «Foi uma chico-espertice do Relvas, para dividir o PS», opinava um dirigente socialista. «É uma tentativa de cerco: o Governo, por fora, e os deputados socráticos, cá dentro», desabafava um segurista.

Do lado do PSD, o deputado Campos Ferreira, diz ao SOL que lhe agrada o regresso de Sócrates porque «tem muito a explicar». «Mas deixa com toda a certeza Seguro muito mais nervoso, preocupado e precipitado», acrescenta.

Na coligação, há quem lamente que seja a televisão pública a dar espaço à bête noire socialista, como Duarte Marques ou Ribeiro e Castro. Relvas, porém, não intervirá. Mas o CDS quer chamar ao Parlamento o director de informação da televisão pública, PauloFerreira, para explicar os critérios da escolha.

O que dirá Sócrates

Nestes quase dois anos de ‘exílio’, Sócrates manteve total contacto com a evolução da política portuguesa e com muitos socialistas. Os seus mais próximos sabem com que análise contarão nos domingos televisivos (que começará com uma grande entrevista, sobre a sua ‘herança’): que o memorando original foi renegociado por Passos e Gaspar, que a dose de austeridade aplicada foi largamente superior à que ele negociou e que o Governo está sem qualquer margem de saída.

Quanto à Europa, aquele que se apresentou em tempos como amigo de Angela Merkel tem-se mostrado um feroz opositor da linha ditada pela chanceler. Sobretudo, em relação ao discurso moral e de culpabilização dos países periféricos pela sua situação.

História de amor e ódio

Se Sócrates faz tremer a direcção, há quem veja no seu regresso uma oportunidade para separar as águas no PS. Os anti-corpos de Sócrates ficaram à vista na petição que logo começou a correr, para impedir o programa na RTP. «Nós, cidadãos e contribuintes portugueses (...) recusamos a presença do ex-primeiro-ministro José Sócrates em qualquer programa da RTP, televisão essa que é paga com dinheiros públicos dos contribuintes que sofrem do resultado da má gestão deste senhor», diz o texto. Rapidamente a petição recolheu mais de 50 mil assinaturas, até meio do dia de ontem. Uma contra-petição, a favor de Sócrates, reunia, na mesma altura menos de mil. «Parece que ele tem lepra», comentava Ascenso Simões, antigo apoiante do ex-primeiro-ministro. Já Renato Sampaio, que divulgou a moção pró-Sócrates, desabafava: «Já percebi que anda muita gente com receio e mesmo medo da sua participação cívica».



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