Somos, todos nós, feitos de tal maneira, que desejamos estar protegidos
contra o risco. Ora, o risco é uma das constantes da acção, visto que esta é
uma perpétua escolha. Para escapar aos azares da acção, procuramos receitas. E
porque elas provaram bem, em determinados casos, creio, ingenuamente, que são
sempre infalíveis.
Revoltamo-nos, como que de um embuste, quando constatamos que a vida – os políticos
neste caso – exige de nós um espírito constantemente em vigília e voltado para
a invenção.
Tudo recomeça, sem fim, mas de maneira sempre diferente, na austeridade mas
com actos e palavras que agridem o bem-estar da cidadania nacional,
especialmente dos mais carentes, pois os políticos dão preferência aos
capitalistas e grandes empresários.
Cada caso que solicita a nossa atenção é um caso esspecífico, e o caso do
senhor Pedro, e tanto pior para nós e para os outros, se a nossa fraqueza de
espírito, o nosso instinto de “comodidade” nos incitam a tratá-lo como um caso
conhecido antecipadamente, classificado, catalogado, etiquetado e pouco
susceptível de oferecer qualquer surpresa.
Ora, em política, tudo é surpresa. Tudo é sempre novo – apesar de velho –
porque jamais há duas almas exactamente semelhantes. Pedro por vezes não parece
o pedro que todos nós infelizmente conhecemos.
E se é verdade, por exemplo, que todo o homem tem uma inteligência e uma sensibilidade, não
existem dois que possuam inteligência e sensibilidade similares, ou mesmo
análogas. Pedro não possui qualquer delas.
Se, por consequência, se quer agir eficazmente e com durável profundidade
sobre esses dois homens, será preciso renunciar de uma vez por todas às
considerações abastractas e aceitar as dificuldades de análise que oferece o
concreto.
Será conveniente renunciar, em definitivo, aos fichários e às fichas, aos
cartões e aos relatórios, para se lançar deliberadamente na vida, na bela vida
toda nova, toda fremente de ardor e sempre renovada.
Será preciso aceitar o risco de inventar sempre uma medicação específica
para casos específicos e renunciar, resolutamente, à ideia que um homem, uma
criança, um adolescente, um jovem sobretudo, são entidades ideais, e que basta
enunciar alguns princípios teóricos, logicamente deduzidos, para ter sobre eles
uma influência definitiva.
Eis o caso difícil com que deparamos hoje, que deveremos e teremos de
sabere resolver, sabendo que não pode haver em Portugal senão casos difíceis,
que só nos parecerão benignos os que examinarmos superficialmente.
Mas como examinamos profundamente as acções de Pedro, que nem são católicas nem ortodoxas, talvez antes protestantes, como poderemos querer alegrar-nos, sabendo que só nos desesperaremos enquanto se mantiver no poder esse fazedor de austeridade sobre a própria austeridade, acusando hoje e sempre os outros pelas medidas que toma em relação aos portugueses.
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