A ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, considera que as
declarações do primeiro-ministro sobre as decisões do Tribunal Constitucional
não representam nenhum ataque e afirma encarar com naturalidade o escrutínio
das instituições.
"Não penso que possa ter ali um ataque ao Tribunal
Constitucional", afirma a ministra em entrevista hoje divulgada no jornal
Público, quando questionada sobre o discurso de Pedro Passos Coelho no Pontal e
sobre os alegados ataques do primeiro-ministro ao Tribunal
Constitucional.
"Nos últimos 20 anos estamos a viver alguns momentos de
condicionalismo do pensamento. Não há instituições intocáveis, como não há
pessoas intocáveis. Todas as instituições, como cada um de nós, têm a sua
liberdade e a sua responsabilidade. Não há nada neutro", afirma.
A advogada e ministra Paula Teixeira da Cruz defende que "o
Direito não é uma ciência exata" e que, por isso, "admite várias
interpretações".
Questionada sobre se acha normal que um primeiro-ministro admita
num discurso que uma lei que fez possa vir a ser considerada inconstitucional,
a ministra justifica as declarações de Passos Coelho, dizendo que "houve
vozes que vieram sufragar o entendimento de que essa lei podia e corria o risco
de ser inconstitucional, como outras houve que vieram dizer que
não".
Aludindo à situação de "excecionalidade" que o país
vive, a ministra afirma que sempre aprendeu e sempre ensinou que, no julgamento
de determinado caso, se deve atender às circunstâncias do caso concreto.
Mas, acrescenta, "o Tribunal Constitucional tem toda a
liberdade, as instituições têm que acatar as decisões do Tribunal
Constitucional, como têm que acatar de outros tribunais, o poder judicial é o
último reduto dos nossos direitos. Portanto encaro com naturalidade o
escrutínio das instituições", afirma.
Na mesma entrevista, publicada no dia em que entra em vigor o
Código do Processo Civil e na qual fala sobre os seus dois anos de Governo, a
ministra da Justiça aborda também a questão da limitação de mandatos nos cargos
executivos.
"Sempre defendi a limitação de mandatos" afirma,
admitindo, contudo, que tal como a lei está feita os autarcas possam voltar a
candidatar-se à Câmara ao lado quando chegam ao fim do seu terceiro
mandato.
"É um problema da lei. Lamento muito que o PS não tenha
querido fazer na Assembleia da República uma lei interpretativa. Agora, não me
venham falar da 'judicialização' da política", refere.
Sobre a multiplicação de recursos em tribunal dos candidatos, a
ministra sublinha que "o poder político atirou a resolução destas questões
para os tribunais, e depois queixa-se da 'judicialização' da política. Dá muito
jeito esse discurso, que não é nada inocente. (...) Se conspurcarmos, se enlamearmos
as instituições então, muito provavelmente, vamos ter aquilo que
pedimos".
Sobre a entrada em funcionamento do novo Código do Processo Civil,
Paula Teixeira da Cruz promete ir revolucionar a forma como se trabalha nos
tribunais em Portugal. Desde logo porque "põe fim a uma serie de
procedimentos burocráticos inúteis".
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