Quando tomamos conhecimento de algo que nos
prejudica, que nos marginaliza e que faz com que nos sintamos minimizados,
respiramos demasiado depressa para sermos capazes de captar as coisas em si
próprias ou de denunciar a sua fragilidade. O nosso ofegar postula-as e
deforma-as, cria-as e desfigura-as, e amarra-nos a elas.
Agito-me e portanto emito um mundo tão
suspeito como a minha especulação, que o justifica, adopto o movimento que me
transforma em gerador de ser, em artesão de ficções, ao mesmo tempo que a
minha veia cosmogónica me faz esquecer que, arrastado pelo turbilhão dos actos,
não passo de um acólito do tempo, de um agente de universos caducos.
Empanturrados de sensações e do seu
corolário, o devir, somos seres não libertos, por inclinação e por princípio,
condenados de eleição, presas da febre do visível, pesquisadores desses enigmas
de superfície que estão à altura do nosso desânimo e da nossa trepidação.
Revolto-me e revoltam-se as minhas entranhas
quando vejo tantas injustiças sobre o povo, de que faço parte integrande, é
tratado como uma certa espécie animal que, deve obedecer àquela espécie também
animal, de que fazem parte os políticos, que usufruem de direitos e regalias
especiais.
O povo, crianças, adolescentes, jovens,
adultos e velhos vivem na miséria? Azar o deles Não foram eles quem elegeu os
políticos para que os massacrassem com miséria e fome? Não foram eles quem
entregou o ouro aos bandidos que, não satisfeitos com ele, espezinham esse povo
mártir e escravizado?
Estimados concidadãos: se queremos recuperar
a nossa liberdade, devemos pousar o fardo da sensação, deixar de reagir ao
mundo através dos sentidos, romper os nossos laços. Ora, toda a sensação é um
laço, tanto o prazer como a dor, tanto a alegria como a tristeza. Só se liberta
o espírito que, puro de toda a convivência com seres ou com objectos, se aplica
à sua vacuidade.
Resistir à sua felicidade é coisa que a
maioria consegue; a infelicidade, no entanto, é muito mais insidiosa. Já a
provaram? Jamais se sentirão saciados, procura-la-ão com avidez e de
preferência nos lugares onde ela não se encontra, mas projectá-la-ão neles,
porque, sem ela, tudo parecerá inútil e baço.
Onde quer que a infelicidade se encontre, expulsa o mistério ou torna-o luminoso. Sabor
a chave das coisas, acidente e obsessão, capricho e necessidade, far-nos-á amar
a aparência no que tem de mais poderoso, de mais duradouro e de mais
verdadeiro, e amarrar-nos-á para sempre porque, “intensa” por natureza é, como
toda a “intensidade”, servidão, sujeição.
A alma indiferente e nula, a alma
desentravada – como chegar até ela? E como conquistar a ausência? Tal liberdade
jamais figurará entre os nossos costumes, tal como neles não figurará o sonho
do espírito infinito.
Todos os políticos, todos eles sem excepção,
pactuam com a miséria do povo e com uma vida – deles – própria de quem se crê
senhor da Nação!...
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