Relatório
encomendado pelo Governo revela que Carris é a empresa mais afectada na Grande
Lisboa. Está em preparação um estudo para o Porto.
As fraudes
custam um milhão de euros por ano ao Metro de Lisboa
A fraude está a custar mais de oito milhões de
euros por ano aos transportes públicos de Lisboa. Um estudo encomendado pelo
Governo mostra que a taxa máxima de infracção chega a 59% numa carreira da
Carris, a empresa mais penalizada por funcionar em rede aberta. Perante estes
resultados, vão ser pedidas medidas urgentes às administrações das
transportadoras do Estado e negociadas com o fisco soluções para aumentar a
eficácia da cobrança de multas.
O
relatório, a que o PÚBLICO teve acesso, foi realizado pela Autoridade
Metropolitana de Transportes de Lisboa (AMTL) entre Maio e Agosto, por meio da
observação directa da utilização dos serviços da Carris, da Metro de Lisboa e
de duas estações da CP que têm entrada fechada (Rossio e Cais do Sodré).
Das três
empresas, a Carris é a mais penalizada. O estudo conclui que a taxa média de
fraude na rede pública de autocarros da capital é de 15,2%, já que das 35.014
observações realizadas foram detectados 5307 passageiros sem título de
transporte válido.
Mas os
níveis de infracção atingem patamares muito mais elevados em algumas carreiras
(na 15, 793 e 794 a taxa média ultrapassa os 30%). E há determinados dias e
horas em que as percentagens disparam: a carreira 794 chegou a alcançar um
patamar de 59% numa observação feita no período da tarde, em Junho.
Estes
resultados contrastam com os dados que têm vindo ser divulgados pela Carris.
Recentemente, a empresa referiu ao PÚBLICO que, no primeiro semestre, a taxa de
fraude detectada rondou os 5,09%. Além disso, são reveladores do hiato que
existe entre o transporte público e o privado. O estudo da AMTL também analisou
as taxas de fraude de três operadores rodoviários privados da Grande Lisboa
(Rodoviária de Lisboa, Vimeca e Transportes Sul do Tejo) e conclui que, nas 17
carreiras analisadas, a taxa média de fraude ronda os 3% (cinco vezes menos do
que os níveis na Carris).
CP e Porto
em análise
No relatório, a AMTL estima que a fraude na Carris está a provocar prejuízos mensais superiores a 400 mil euros, o que significa que o impacto negativo nas contas poderá superar os cinco milhões de euros ao final de um ano. A este valor somam-se os efeitos negativos destas infracções na Metro de Lisboa (que o estudo calcula em cerca de um milhão de euros anuais). E, na CP, estima-se que a perda de receitas atinja 2,5 milhões anualmente. Ou seja, a fraude está a custar mais de oito milhões de euros por ano nestas três transportadoras públicas de Lisboa.
Nas duas
últimas empresas os níveis de infracção detectados no relatório são muito
inferiores aos encontrados na Carris por dois motivos: no Metro de Lisboa a
rede é fechada (a entrada é controlada por meio de portas automáticas) e na CP
a validação não é feita dentro dos comboios, como acontece nos autocarros, pelo
que o trabalho de campo só foi realizado em duas estações.
No que se
refere à Metro de Lisboa, o estudo concluiu que a taxa média de fraude nas 18
estações analisadas (cerca de 35% do total) se situa em 1,1%, apesar de haver
casos em que ultrapassa os 2%, como acontece em Odivelas, Aeroporto e Senhor
Roubado. Já nas duas estações da CP observadas, Rossio e Cais do Sodré, o nível
de infracção fixou-se em 2,3%.
No
relatório explica-se que “a dimensão e complexidade da rede” desta
transportadora “não permitiram a identificação de um valor para a fraude
sustentado numa amostra de maior dimensão”. A AMTL ainda está a preparar uma
análise mais aprofundada sobre a situação da empresa.
O mesmo
está acontecer no Porto, onde a autoridade metropolitana da região está
igualmente a preparar um estudo sobre a fraude na Metro do Porto e na STCP. Em
Setembro, a primeira transportadora pública referiu ao PÚBLICO que o nível de
fraudes aumentou 78% de 2011 para 2012.
Nas
conclusões do relatório, a AMTL alerta o Governo para a necessidade de “reforço
da fiscalização”, mas avisa que este passo terá de ser acompanhado por um
“aumento de capacidade de cobrança efectiva das coimas”, sem o qual a primeira
medida “se revelará pouco eficaz”.
Estes dois
pontos têm sido apontados como cruciais para travar a fraude, que o Governo
acredita ser uma das principais causas para a perda de passageiros nos
transportes públicos. No primeiro semestre, estas empresas venderam menos 34
milhões de bilhetes face ao mesmo período de 2012. Mas há outros factores
importantes, como os impactos que o desemprego tem tido na mobilidade e os
sucessivos aumentos de preços.
Multas nas
mãos do fisco
Nesta quarta-feira, à margem da cerimónia de comemoração dos 141 anos da Carris e depois de ter anunciado a existência do relatório da AMTL, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações afirmou aos jornalistas que os resultados serão agora enviados aos diferentes conselhos de administração das empresas, para que estes “proponham medidas” de combate à fraude.
Sérgio
Monteiro fez ainda referência às negociações que começaram no ano passado com a
Autoridade Tributária e Aduaneira com o objectivo de alterar o sistema de
cobrança de multas, hoje nas mãos do Instituto da Mobilidade e dos Transportes.
“Havia um diferendo quanto à dimensão do problema”, que o governante acredita
que o relatório da AMTL será capaz de resolver. A intenção é que o fisco passe
a cobrar as coimas, como já acontece actualmente nas portagens.
Todas estas
medidas deverão estar no terreno antes de o Governo avançar com a concessão dos
transportes públicos a privados, prevista para 2014. Um tema que tem sido
central na campanha para as autárquicas. Tanto António Costa (PS) como Fernando
Seara (PSD), que são candidatos a Lisboa, têm defendido uma maior intervenção
dos municípios na gestão destas empresas e contestado a sucessiva perda de
passageiros.
=Público=
Sem comentários:
Enviar um comentário