Houve uma época da vida no passado recente,
em que uma esmagadora maioria dos portugueses sobrevivia, praticamente, a pão e
água, sobretudo as crianças e os trabalhadores rurais, entre os muitos outros.
As crianças levavam para a escola, quando
esta começou a ser obrigatória até à 4ª classe, um naco de boroa com uma
sardinha em cima. Levavam também, uns poucos, uma garrafa de vinho, com o qual
faziam descer o belo manjar.
Do lauto almoço, variava apenas da sardinha
para um carapau ou uma cavala. Havia, então, uma taxa de alcoolismo infantil
bastante forte, porque os professores decidiram proibir o vinho na ementa.
Alguns, bastantes, foram criticados,
agredidos pelos pais, queixas foram apresentadas quer nas Direcções Escolares
quer na GNR, já que por essas aldeias fora o vinho era o sangue de Cristo e a boroa
o sustento.
Tornava-se necessária a ajuda dos padres das
freguesias, que ofereciam a sua ajuda aos professores, desde que frequentassem
a igreja, como forma de exemplo para o povo.
Aliás, nas aldeias havia três figuras
predominantes: o professor, o padre e o presidente da junta, embora os mais
abastados formassem uma elite sempre ouvida em determinadas reuniões permitidas
e consideradas úteis para dominar melhor a população ignorante e embrutecida
pelo uso do alcool desde crianças.
As coisas passavam-se deste modo, enquanto o
cardeal Cerejeira proferia elogios ao vinho, afirmando que dava de comer a
milhão e meio de portugueses.
Mas hoje, senhoras e senhores, as coisas são
diferentes, embora de certo modo iguais, no sentido de que muitas crianças
passarem fome e levarem-na consigo para a escola, tendo sido inventados uns
refeitórios onde é fornecida uma refeição e uma merenda às crianças de menores
recursos.
No entanto, muitas delas calam-se; sentem
vergonha de dizer que sentem fome, que a vivem diariamente e que, por tal
motivo, passam o dia sem o naco de boroa e sem a sardinha, que hoje é coisa
para ricos.
O actual governo conseguiu, em apenas dois
anos, fazer regressar Portugal a um passado degradante e miserável devido aos
cortes feitos nos salários, nas pensões ou subsídios, acusando sempre as razões
de tal situação ao anterior governo, que nem teve nada a ver com o fim das pescas
e o abate dos barcos, com a transformação das searas alentejanas em campos de
golfe e o terrível desemprego que assola o povo português.
E quando as oposições falam, são criticadas
de imediato pelos “vozeadores” que apoiam o governo e seus actos, por mais “criminosos”
que sejam.
Acabamos de adoptar dois gatos traumatizados,
que recebem melhor tratamento que muitas crianças deste país e que, com as suas
carícias acabaram por ser eles a adoptarem-nos.
Mas não se limita, toda a austeridade pelo
senhor Pedro e seus seguidores, a lesar gravemente as crianças, pois também os
velhos, que trabalharam toda uma vida e tudo deram pelo desenvolvimento de
Portugal, colaborando para o enriquecimento dos eternos “queridos capitalistas”
que são, contra-natura, quem mais ordena.
Espero que no futuro não longínquo, aliás
todos esperamos e sabemos que surgirá uma geração, se não apareceu já, que se
veja obrigada a viver como se vivia então, permitindo apenas um naco de boroa,
um quarto de sêmea para cada um e um pouco de água da corrente doméstica, mas
também muitas doenças que começam a surgir e se pensava definitivamente
banidas.
A culpa caberá exclusivamente ao actual
governo e presidente da República que preferem olhar para o ar a assobiar
baixinho..!
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