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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

«UMA CIVILIZAÇÃO ESGOTADA»

Aquele que pertence organicamente a uma civilização não pode identificar a natureza do mal que a mina. O seu diagnóstico pouco ou nada conta; o juízo que fizer sobre ela implicá-la-á por egoísmo.

Mais desprendido, mais livre, o recém-chegado examina sem cálculo e apreende melhor as falhas. Se a civilização se perder, ele aceitará, se necessário, perder-se também atestar nela e em si próprio os efeitos do fatum. Remédios, não os possui nem os propõe. Como sabe que não se cura o destino, não se arvora em curandeiro junto de ninguém. A sua única ambição: estar à altura do Incurável…

Perante a acumulação dos seus sucessos, os países do Ocidente não tiveram dificuldade em exaltar a História, em atribuir-lhe um significado e uma finalidade. Ela pertencia-lhes, eram eles os seus agentes: a História devia, por isso, seguir uma via racional…

Colocaram-na, assim, sucessivamente, sob os auspícios da Providência, da Razão e do Progresso. Faltava-lhes o sentido da fatalidade; começam enfim a adquiri-lo, aterrados pela ausência que os espreita, pela perspectiva do seu eclipse. De sujeitos, eis que se tornam objectos, para sempre despojados dessa irradiação, dessa admirável megalomania que até hoje os protegera contra o irreparável. Hoje estão conscientes disso que medem a estupidez de um espírito pelo grau do seu apego aos acontecimentos. Nada mais normal, uma vez que os acontecimentos se passam noutro lado. Só se sacrifica aos acontecimentos quando deles se conserva uma iniciativa. Mas por pouco que se guarde a lembrança de uma antiga supremacia, continua ainda a sonhar-se ser grande, que mais não seja na desgraça.

A França, a Inglaterra, a Alemanha deixaram para trás o seu período de expansão e de loucura. É o  fim da insensatez, o início das guerras defensivas. Já não há aventura colectiva, já não há cidadãos, mas sim indivíduos pálidos e desenganados, prontos ainda a responder a uma utopia, porém sob a condição de esta chegar do exterior e de não terem de proceder ao esforço de a conceber.

Se outrora morriam pelo sem-sentido da glória, abandonam-se agora a um frenesim reivindicativo. A “felicidade” tenta-os; é o seu último preconceito, a que esse pecado de optimismo vai buscar a sua energia. Doravante, Pedro passará a sentir-se mais firme, mais seguro, enquanto manterá e aumentará mesmo a sua austeridade sobre os cidadãos portugueses, se entretanto não lhe for posto um travão.

Preferir não ver, servir, entregar-se ao ridículo ou à estupidez de uma causa – extravagâncias de que já não são capazes. Quando uma nação começa a envelhecer – como é o caso de Portugal – tende para a condição de massa. Ainda que dispusesse de mil Napoleões, não deixaria de se recusar a comprometer o seu repouso ou o dos outros.

Com reflexos vacilantes, se todos os povos se encontrassem no mesmo estádio de fossilização ou de cobardia, entender-se-iam facilmente; à insegurança sucederia a permanência de um pacto de cobardes…


Se não lutarmos em Portugal, ver-nos-emos acuados de tal maneira que demorará anos a conseguirmos reerguer-nos da miséria na qual nos colocaram mais recentemente, graças a roubos e abaixamento dos salários e pensões de reforma, continuando-se a ouvir criticar severamente aqueles que fazem cumprir a Constituição.

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