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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

«A MINHA GERAÇÃO»

Nasci num tempo em que se viviam gravíssimas dificuldades sociais, tempo esse que talvez ultrapassasse os tempos de hoje, pelo menos na “educação”, na maneira de agir para com os seus semelhantes, onde não existia uma separação, como existe hoje, entre pobres e ricos, entre educados, educadores e ou professores.

Sou, pois, de uma geração que sabia pedir por favor, que dizia bom-dia, boa-tarde e boa-noite a todos, que sabia dizer gostar dos amigos e das mulheres, respeitando-as, que sabia dizer até logo e, sobretudo, “obrigado!”.

Na minha geração havia respeito pelos pais, pedia-se licença e saudava-se com um sorriso.

Nos eléctricos ou autocarros, sabíamos levantar-nos para oferecer o lugar a um velhinho, uma senhora grávida ou alguém deficiente.

Gostava-se das pessoas pelo que eram e não pelo que elas podiam dar-nos.

Ah! Também aprendi a tratar as pessoas, fosse qual fosse a sua condição social, com carinho, lealdade e honestidade.

Assim fui educado em casa de meus Pais, não necessitando dos ensinamentos escolares. E hoje?

Não façam juízos errados, pois de modo algum criticarei a actual geração; jamais me arvoraria em crítico, mas devo dizer existirem muitas diferenças no modo de ser e de estar na vida, e talvez sejam precisamente os da minha geração a terem errado.

Tentei que meus filhos recebessem pelo menos parte dos ensinamentos familiares que também minha esposa e eu recebemos. Tarefa difícil? Não! Apenas difícil, mas que felizmente foi conseguida.

Difícil? Porquê?  Ora, quando meus filhos eram rapazes, tudo tinha mudado de tal maneira que cheguei sentir “náuseas” pelo caminho que as coisas tomavam.

Já se notava o egoísmo, o individualismo, a inveja, a falta de companheirismo, de lealdade, de amizade interpessoal. Um dia, li um artigo que atribuia aos computadores – essas novas tecnologias “castradoras” da personalidade sadia – e fui obrigado a concordar, em parte, com ele.

Tentei evitar viciar-me neles. Tentei que meus filhos se viciassem neles. Mas, quando entraram para a escola secundária,  já os professores exigiam que fizessem os trabalhos de casa ao computador, que usassem a calculadora.

Afinal, essa febre mundial tinha chegado a Portugal. Ora, o computador em si é estúpido e estupidificante, apesar de toda a sua utilidade, que deveria ser mais moderadamente usado.

Um dia, quando menos esperava, veio o meu filho  mais velho dizer-me que iria frequentar o curso de engenharia electrónica. Limitei-me a perguntar-lhe porquê, respondendo-me que era daquilo que gostava.

Eu tinha jurado a mim mesmo não interferir na vida amorosa e profissional de meus filhos. Como poderia, então, negar-me a aceitar semelhante ideia? Era o futuro dele que estava em jogo. Como poderia vir a suportar um dia, no futuro, que era minha a culpa se derivasse para a frustração?

Limitei-me a acompanhá-lo e a pedir, após a matrícula no curso, quais os materiais necessários para que pudesse desenvolver-se na matéria, sem esperar apenas as aulas. O professor a quem me dirigi olhou-me e apertou-me a mão, dizendo-me que era dos poucos pais que ainda se importavam com o futuro dos filhos, ligado à sua vontade.

Fez-me uma lista e chamei alguém que fizesse as instalações eléctricas necessárias para que pudesse trabalhar convenientemente.

O mesmo fiz em ralação aos outros. Hoje trabalham e o mais velho já me presenteou com duas netinhas maravilhosas, as meninas dos meus olhos, as meninas que minha esposa adora também, pelo que digo ser um homem feliz, apesar de tudo o que me rodeia, toda essa miséria, toda essa fome, todas essas pantominas políticas.

Se falo da minha geração, é porque hoje em dia, por vezes, nem os jovens sabem o que querem, e muito menos alguns pais querem saber, pois existe uma espécie de desmotivação generalizada e um desinteresse quase total em relação ao futuro dos filhos.


Só me falta dizer que nunca me arrependi de ter jurado não me imiscuir na vida amorosa e nas escolhas de meus filhos quanto ao seu futuro  profissional, lamentando que haja tanta incompreensão e tanta falta de respeito entre pais e filhos, pais que muitas vezes deveriam aprender o significado da palavra “não”, mas conhecer também o significado do “sim”!

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