Nasci num tempo em que se viviam gravíssimas
dificuldades sociais, tempo esse que talvez ultrapassasse os tempos de hoje,
pelo menos na “educação”, na maneira de agir para com os seus semelhantes, onde
não existia uma separação, como existe hoje, entre pobres e ricos, entre
educados, educadores e ou professores.
Sou, pois, de uma geração que sabia pedir por
favor, que dizia bom-dia, boa-tarde e boa-noite a todos, que sabia dizer gostar
dos amigos e das mulheres, respeitando-as, que sabia dizer até logo e, sobretudo,
“obrigado!”.
Na minha geração havia respeito pelos pais,
pedia-se licença e saudava-se com um sorriso.
Nos eléctricos ou autocarros, sabíamos
levantar-nos para oferecer o lugar a um velhinho, uma senhora grávida ou
alguém deficiente.
Gostava-se das pessoas pelo que eram e não
pelo que elas podiam dar-nos.
Ah! Também aprendi a tratar as pessoas, fosse
qual fosse a sua condição social, com carinho, lealdade e honestidade.
Assim fui educado em casa de meus Pais, não
necessitando dos ensinamentos escolares. E hoje?
Não façam juízos errados, pois de modo algum
criticarei a actual geração; jamais me arvoraria em crítico, mas devo dizer
existirem muitas diferenças no modo de ser e de estar na vida, e talvez sejam
precisamente os da minha geração a terem errado.
Tentei que meus filhos recebessem pelo menos
parte dos ensinamentos familiares que também minha esposa e eu recebemos.
Tarefa difícil? Não! Apenas difícil, mas que felizmente foi conseguida.
Difícil? Porquê? Ora, quando meus filhos eram rapazes, tudo
tinha mudado de tal maneira que cheguei sentir “náuseas” pelo caminho que as
coisas tomavam.
Já se notava o egoísmo, o individualismo, a
inveja, a falta de companheirismo, de lealdade, de amizade interpessoal. Um
dia, li um artigo que atribuia aos computadores – essas novas tecnologias “castradoras”
da personalidade sadia – e fui obrigado a concordar, em parte, com ele.
Tentei evitar viciar-me neles. Tentei que
meus filhos se viciassem neles. Mas, quando entraram para a escola
secundária, já os professores exigiam
que fizessem os trabalhos de casa ao computador, que usassem a calculadora.
Afinal, essa febre mundial tinha chegado a
Portugal. Ora, o computador em si é estúpido e estupidificante, apesar de toda
a sua utilidade, que deveria ser mais moderadamente usado.
Um dia, quando menos esperava, veio o meu
filho mais velho dizer-me que iria
frequentar o curso de engenharia electrónica. Limitei-me a perguntar-lhe
porquê, respondendo-me que era daquilo que gostava.
Eu tinha jurado a mim mesmo não interferir na
vida amorosa e profissional de meus filhos. Como poderia, então, negar-me a
aceitar semelhante ideia? Era o futuro dele que estava em jogo. Como poderia
vir a suportar um dia, no futuro, que era minha a culpa se derivasse para a
frustração?
Limitei-me a acompanhá-lo e a pedir, após a
matrícula no curso, quais os materiais necessários para que pudesse
desenvolver-se na matéria, sem esperar apenas as aulas. O professor a quem me dirigi
olhou-me e apertou-me a mão, dizendo-me que era dos poucos pais que ainda se
importavam com o futuro dos filhos, ligado à sua vontade.
Fez-me uma lista e chamei alguém que fizesse
as instalações eléctricas necessárias para que pudesse trabalhar convenientemente.
O mesmo fiz em ralação aos outros. Hoje
trabalham e o mais velho já me presenteou com duas netinhas maravilhosas, as
meninas dos meus olhos, as meninas que minha esposa adora também, pelo que digo
ser um homem feliz, apesar de tudo o que me rodeia, toda essa miséria, toda
essa fome, todas essas pantominas políticas.
Se falo da minha geração, é porque hoje em
dia, por vezes, nem os jovens sabem o que querem, e muito menos alguns pais
querem saber, pois existe uma espécie de desmotivação generalizada e um
desinteresse quase total em relação ao futuro dos filhos.
Só me falta dizer que nunca me arrependi de
ter jurado não me imiscuir na vida amorosa e nas escolhas de meus filhos quanto
ao seu futuro profissional, lamentando
que haja tanta incompreensão e tanta falta de respeito entre pais e filhos,
pais que muitas vezes deveriam aprender o significado da palavra “não”, mas
conhecer também o significado do “sim”!
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