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sábado, 21 de setembro de 2013

«O REENCANTAMENTO DO MUNDO»

Desde 1846 que a Filosofia da Miséria não deixou de ser actual. O valor, a qualidade do trabalho, a sua quantidade, a relação mantida com o dinheiro, a pressão fiscal, a espiral do crédito, o direito ao alojamento, a desigualdade perante o “ter” sob todas as suas formas, eis a matéria com que estabelecer prioridades para uma ética política que submeta o tecnicismo da economia a um projecto de sociedade.

Pelo seu lado, Proudhon desenvolveu múltiplas teorias: os ateliers em cooperativa, o mutualismo, o federalismo, os bancos populares, os créditos mútuos, o todo procurando a expressão de uma economia social, de uma democracia industrial onde surgiriam propriedades de exploração individuais ao lado de uma agricultura de grupo, empresas em regime de propriedade colectiva acopladas a ateliers autónomos, companhias operárias animadas pela participação, federações industriais de produtores e de consumidores, organizações cooperativas de serviços, o conjunto gerando uma socialização liberal, ou até um socialismo libertário.

André Gorz,  seguido por alguns, de entre os quais Alain Lipietz, efectuou recentemente uma crítica da racionalidade económica ocidental e propôs uma revolução do trabalho.

A sua “busca de sentido” procura uma redução do tempo de trabalho como propedêutica ao domínio do tempo pelos indivíduos, acompanhada por um ateísmo consumista.

Trabalhar menos, de outra maneira e melhor, desemparelhar o ganho da quantidade de trabalho, tudo isto deve procurar uma economia posta ao serviço dos homens, da sua libertação e da reconquista de si mesmos.

Não se pode dar melhores indicações daquilo que significa a possibilidade de um projecto político hedonista no qual a economia se torna uma força positiva, e não uma ciência do lúgrube que existe sempre no seu cariz liberal…

O projecto pode ser elaborado, esmerado, afinado com economistas profissionais que, enriquecidos com estas linhas de força, prepararão as economias alternativas em que as finalidades serão o trabalho humanizado, a produção regularizada, as riquezas melhor distribuídas pela nação e por entre as nações de um bloco ou, até, de um hemisfério ao outro, em que o alojamento será um direito para todos, o consumo uma possibilidade oferecida indistintamente, tanto às classes desfavorecidas como às outras.

Para tal é preciso submeter a economia a um princípio dionisíaco e fazer dela uma técnica que celebre as pulsões da vida, o que permitiria uma redefinição da economia libidinal desejada por Lyotard.


Deixar de celebrar o ideal ascético e as pulsões de morte, de submeter o político e o histórico à tirania de uma economia funcionando no único intuito de aumentar o empobrecimento e de possibilitar a riqueza dos ricos graças a uma maior pobreza dos pobres. Eis com que fornecer matéria para transvaloração.

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