Desde 1846 que a Filosofia da Miséria não
deixou de ser actual. O valor, a qualidade do trabalho, a sua quantidade, a
relação mantida com o dinheiro, a pressão fiscal, a espiral do crédito, o
direito ao alojamento, a desigualdade perante o “ter” sob todas as suas formas,
eis a matéria com que estabelecer prioridades para uma ética política que
submeta o tecnicismo da economia a um projecto de sociedade.
Pelo seu lado, Proudhon desenvolveu múltiplas
teorias: os ateliers em cooperativa, o mutualismo, o federalismo, os bancos
populares, os créditos mútuos, o todo procurando a expressão de uma economia
social, de uma democracia industrial onde surgiriam propriedades de exploração
individuais ao lado de uma agricultura de grupo, empresas em regime de
propriedade colectiva acopladas a ateliers autónomos, companhias operárias
animadas pela participação, federações industriais de produtores e de
consumidores, organizações cooperativas de serviços, o conjunto gerando uma
socialização liberal, ou até um socialismo libertário.
André Gorz,
seguido por alguns, de entre os quais Alain Lipietz, efectuou
recentemente uma crítica da racionalidade económica ocidental e propôs uma
revolução do trabalho.
A sua “busca de sentido” procura uma redução
do tempo de trabalho como propedêutica ao domínio do tempo pelos indivíduos,
acompanhada por um ateísmo consumista.
Trabalhar menos, de outra maneira e melhor,
desemparelhar o ganho da quantidade de trabalho, tudo isto deve procurar uma
economia posta ao serviço dos homens, da sua libertação e da reconquista de si
mesmos.
Não se pode dar melhores indicações daquilo
que significa a possibilidade de um projecto político hedonista no qual a
economia se torna uma força positiva, e não uma ciência do lúgrube que existe
sempre no seu cariz liberal…
O projecto pode ser elaborado, esmerado,
afinado com economistas profissionais que, enriquecidos com estas linhas de
força, prepararão as economias alternativas em que as finalidades serão o
trabalho humanizado, a produção regularizada, as riquezas melhor distribuídas
pela nação e por entre as nações de um bloco ou, até, de um hemisfério ao
outro, em que o alojamento será um direito para todos, o consumo uma
possibilidade oferecida indistintamente, tanto às classes desfavorecidas como
às outras.
Para tal é preciso submeter a economia a um
princípio dionisíaco e fazer dela uma técnica que celebre as pulsões da vida, o
que permitiria uma redefinição da economia libidinal desejada por Lyotard.
Deixar de celebrar o ideal ascético e as
pulsões de morte, de submeter o político e o histórico à tirania de uma
economia funcionando no único intuito de aumentar o empobrecimento e de
possibilitar a riqueza dos ricos graças a uma maior pobreza dos pobres. Eis com
que fornecer matéria para transvaloração.
Sem comentários:
Enviar um comentário