Nasci e fui criado, educado a saber manter o
silêncio. Como todas as crianças, chorava quando me sentia mal ou alguma dor,
mas até nisso, sem que pudesse aperceber-me, era impedido de “incomodar” os
vizinhos…
Naquele tempo havia muito pouca tolerância,
ou nenhuma, apesar de todas as crianças chorarem, fosse com fome ou por motivos
que as mães sobretudo nada podiam fazer.
Fui crescendo como se tivesse feito um
juramento de silêncio, até que entrei para a escola primária, onde o professor
exigia, impunha fortemente o silêncio de todos e em que uma simples troca de
olhar entre dois alunos, poderia valer um “salva de bolos”, aplicada com a
famosa palmatória dos cinco olhinhos.
Seguidamente, dei entrada no Liceu, onde um
simples pestanejar podia ser considerado descabido e poderia ser punido com a
expulsão da aula, recebendo uma falta injustificável por mau comportamento.
Era o famigerado tempo da ditadura, em que
todsos eram silenciados, excepto aqueles que prestavam toda a colaboração ao
regime, através das suas forças policiais e corporações.
Entrei na faculdade e a mesmíssima música
continuava a ser tocada pela Orquestra Nacional. Só para não variar, o que era
mais difícil, pois aí já se era considerado adulto e novos horizontes de
abriram na vida. Subtilmente, podiam aflorar-se assuntos até então tabus.
Enfim, situações que a actual geração,
nascida e criada após a Gloriosa Revolução dos Cravos, que trouxe ao país e aos
cidadãos a liberdade de expressão e outras liberdades, que os políticos
pretendem, mesmo aos seus pares e “amigos”, tentando evitar assim que o povo
fale sobre o que “não deve”, segundo eles, num gesto de total submissão a esses
troikanos que dão cabo da nossa vida.
Porque, estou disso convencido, pretendem
esconder da troika, as miseráveis condições de vida da população portuguesa que
em nada contribuiu para a actual situação económica e financeira do país.
E, os actuais líderes partidários, ou seus
vice, sobretudo no PSD, começam a dar mostras de nervosismo, exigindo a
contenção das palavras críticas aos seus militantes e, se possival, aos demais
cidadãos que só anseiam ver a troica bem longe.
E, impotente, o povo assiste a um tratamento
especial oferecido aos estrangeiros que vêm ditar leis ao nosso país,
adquirindo sobre nós a soberania que perdemos, e lá vai ouvindo essas ordens de
silêncio e de contenção públicas.
Mas, como poder anuir a semelhantes “conselhos”,
se de forma constante todas as nossas esperanças num futuro melhor se esfumam,
e se os portugueses vêm desaparecer salários e pensões para serem dados a ricos
empresários e banqueiros, mirrando de fome?
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