Se Hegel, Marx e Freud representam, na sua
história das ciências humanas, os grandes marcos de um estruturalismo genético
simultaneamente compreensivo e explicativo, nem por isso é, entretanto, menos
certo que, na época em que a sua obra foi elaborada, o lado estruturalista e
compreensivo do seu método foi suficientemente pouco notado, tanto por eles próprios
como sobretudo pela ciência oficial.
A perspectiva da explicação causal não compreensiva
dominava a tal ponto o pensamento científico que se viu no marxismo sobretudo
uma explicação pelos factores económicos e na psicanálise uma explicação da
líbido.
Um dos aspectos mais importantes da
contribuição destes pensadores permanecia inteiramente na sombra e,
curiosamente, só foi traduzido à luz mais tarde e independentemente deles por
um pensador cujas descobertas lhe asseguraram umm renome considerável, embora
as suas análises estejam elaboradas a um tal nível de diletantismo e de “cultura
geral” que me parecem inteiramente inutilizáveis do ponto de vista da
investigação positiva: Dilthey, frequentemente visto como aquele que introduziu
a ideia de compreensão em ciências humanas e históricas: este mal-entendido
deve-se provavelmente ao facto de ter insistido longamente no conceito
metodológico de compreensão, enquanto Hegel, Marx e Freud, que há muito o tinham
magistralmente utilizado, quase nunca tinham falado dele.
A tomada de consciência metodológica da ligação
entre os conceitos de compreensão e os de estrutura, parece ser devida, numa
grande parte medida ao desenvolvimento da fenomenologia e, estreitamente
ligadas a ela, ao das posições estruturalistas não genéticas em psicologia e em
ciências sociais, em primeiro lugar, claro está, ao da psicologia da Gestalt.
Finalmente, é nesta situação e neste contexto
que têm de mencionar-se os dois pensadores contemporâneos que, um nas ciências
humanas e outro em psicologia, introduziram com clareza metodológica
excepcional o conceito de estrutura genética, empregando-o ao mesmo tempo, de
modo positivo, em investigações concretas cuja importância seria impossível
sobrestimar.
Seria impossível de analisar aqui as obras
concretas de Jean Piaget e de George Lukács, cada uma das quais podia ser objecto de todo um congresso.
Gostaria apenas de notar que o encontro entre
as suas posições metodológicas e as de Marx parecem constituir um argumento de
peso contra a acusação, tão frequente dirigida ao marxismo, de se fundar em
princípios a priori.
Pois hoje, apesar de se fazerem anunciar
socialistas e derivados, preferem designar-se “socialistas democráticos”, nada
influenciados por Marx, que reencontrou, empiricamente na investigação todas as
posições fundamentais das ciências sociais.
Pessoalmente, penso que um estruturalismo
genético supõe uma síntese entre os juízos de facto e os juízos de valor, entre
a compreensão e a explicação, entre o determinismo e o finalismo.
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