Quais são as peças deste humanismo que opera
desde “há séculos” e, sobretudo hoje? Este aparelho de guerra ideológico
funciona na, por e para captação. Apodera-se das energias rebeldes para as alterar,
para as reduzir e, depois, destruí-las.
Trata-se de desmontar as forças, de as
decompor, para reduzir a nada qualquer veleidade de rebelião.
À saída desta máquina que tudo digere,
encontramos, desmiolados, os indivíduos submetidos pelo conjunto dos mecanismos
adaptados a esse efeito: da escola à família, dos média a outros locais onde
circulam os saberes dominantes,, da edição às universidades, ou o inverso, tudo
isto está concebido para dirigir as forças reactivas rumo a cristalizações
humanistas que reivindicam mais decência, justiça, considerações e dignidade.
Para tal, contentam-se com proclamações de
boas intenções, interditando que se vá mais longe, enquanto familiar da
operação e do método genealógico para ver de onde vêm essas misérias, qual a
proveniência dessas dores, de que fonte brota esse negativo, como se poderia
atacar o problema pela raíz, lá onde os nietzscheanos lhe querem pegar, e não
na sua extremidade, onde se instalam os humanistas.
A compaixão permanece uma virtude inoperante,
mesmo quando dobrada pela “caridade”, lá onde a subversão supõe uma força
activa, sobretudo quando é completada pela acção.
A ideologia estruturou uma malha cerrada da
qual não se pode sair sem danos. Daí o sentido e a necessidade do derrube de um
platonismo o que, metaforicamente, equivale a um convite para rasgar essa rede
metafísica.
De que é constituída? De um certo número de
crenças ou de verdades propostas no absoluto, intocáveis e apresentadas sob a
forma de fetiches que se devem adorar a fim de possibilitar essa “religião
filosófica consensual”.
Da origem do pensamento à sua expansão
contemporânea, os pontos fixos permanecem os mesmos.
O humanismo radica, nesta confusão entre as
liberdades interiores reais e as liberdades exteriores formais, entre a total
autonomia conceptual destes princípios e a limitação radical da sua projecção
no mundo.
Os conceitos matam a vida, as ideias
desvitalizam e interditam o real.
Robustecidos por estas antinomias que permitem colocar continuamente o problema no
terreno do absoluto, negligenciando e esquecendo as condições de uma
experimentação, de uma encarnação na vida quotidiana, os defensores da “religião
humanista”, que são também os defensores da mitologia dos direitos do homem,
ilustram a opção realista na antiga querela com os nominalistas.
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