Devo, antes de mais, apresentar-me: “sou um
português, filho de portugueses, neto de combatentes na primeira guerra
mundial, que chegaram a notabilizar-se durante essa guerra de trincheiras em
França e na Flandres”.
Por minha vez, sem me notabilizar, fui
combatente na Guiné, durante a famigerada guerra colonial, apesar de tere
também combatido o fascismo salazarista/marcelista, de ter sido uma das vítimas
da Pide, ter sido, apesar de ferido na Guiné, enviado para aquela colónia
balnear designada pelo Tarrafal.
Por tal motivo, fui demitido compulsivamente
antes de viajar rumo à tal colónia, de onde consegui escapar-me para a Argélia,
de onde consegui passar para França, onde vivi, como refugiado político durante
uns bons anos.
Adorava, e adoro o meu país, pelo que,
quando aconteceu o 25 de Abril de 1974, passado um mês, regressei ao país,
sentindo-me “novo” e livre.
Mas, o tempo foi passando sem que se visse ou
soubesse que os ex-pides eram levados a tribunal e julgados pelos crimes
cometidos durante a ditadura. Vá-se lá saber porquê, senhor presidente da
República…
Nunca fui julgado por crime algum! Todavia,
outros, que já então faziam parte da ladroeira que existia em Portugal, foram
julgados e destituídos em parada dos seus galões, conseguindo, após o Glorioso
Movimento dos Capitães, com certos conhecimentos, recuperar os títulos
perdidos, voltando a receber os seus direitos civis e políticos, desempenhando
cargos que proporcionavam belíssimos tachos e gamelas, continuando a fazer
falcatruas grossas sem que lhes acontecesse nada de mal. Talvez porque
pertencessem ao mesmo partido que aquele que liderou.
Quando os portugueses livres, que sempre lutaram contra a ditadura e o
fascismo pensavam poder viver em paz e sossego, surgiram em cena novas leis e
muitos perdões, perdões aos Pides a quem deram a liberdade para se reinstalarem
comodamente, e em muitos casos, em cargos políticos.
Talvez um dia dedique uma crónica a esses
indivíduos, aos locais que frequentavam, aos lugares que ocupavam em Portugal
ou no estrangeiro e até, imagine, onde moravam, e alguns deles onde moram hoje
e o que fazem. Isto, senhor Silva, sem qualquer medo de ser incomodado pelas
autoridades ou por tentativa de difamação.
Depois de tudo isto, vamos ao que interessa;
como sabe, muitos portugueses eram enviados para as ex-colónias em África,
sobretudo Angola, onde havia muitos diamantes. Tinham as suas profissões, mas,
por trás da cortina, exerciam o papel de Pides e, em colaboração com o exército
e a GNR, mais esta corporação do Estado Novo, se dedicavam a exercer a devida
pressão, ganhando a dois carrinhos, a sua profissão e a Pide, enquanto seus
filhos se arvoravam em donos e senhores da então colónia para onde tinham sido
enviados pelo governo fascista.
Quando aconteceu o 25 de Abril, foram os
primeiros a abandonar a ex-colónia, pois se o não fizessem seriam passados
pelas armas.
Faço-lhe uma pergunta: “saberá o senhor Silva
onde se encontram alguns desses “heróis nacionais” dos tempos salazaristas?
Alguns já entregaram a alma ao Diabo e aos diabos do inferno; outros, mantêm-se
vivinhos da costa e alguns deles em lugares de destaque em Portugal.
Compreenderá V. Excia. porque não avança o país e porque motivo cerca de dois
milhões e meio de portugueses vivem na mais profunda miséria?
«Porque eles comem tudo e não deixam nada!»
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