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sábado, 28 de setembro de 2013

LER S F Favor

Desconheço o autor mas reconheço ser um muito bom texto.
Só que já não sei se ainda posso acreditar, apesar do meu querer.
Erro! Nome de ficheiro não especificado.


PORTUGAL: QUE FUTURO?

Trinta e cinco anos de vida.
Filho de gente humilde. Filho da aldeia. Filho do trabalho. Desde criança fui pastor, matei cordeiros, porcos e vacas, montei móveis, entreguei roupas, fui vendedor ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei chãos, comi com as mãos, bebi do chão e nunca tive vergonha. Na aldeia é assim, somos o que somos porque somos assim.
Cresci numa aldeia que pouco mais tinha que gente, trabalho e gente trabalhadora. Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico, sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta de trabalho árduo e feroz.
Cresci numa aldeia com valores, com gente que se olha nos olhos, com gente solidária, com amigos de todos os níveis, com família ali ao lado.
Cresci com amigos que estudaram e com outros que trabalharam. Os que estudaram, muitos à custa de apoios do Governo,
 agora estão desempregados e a queixarem-se de tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam a sua caminhada, a produzir para o país e a pouco se fazerem ouvir, apesar de terem contribuído para o apoio dos que estudaram e a nada receberem por produzir.
Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de Desenvolvimento e... de repente éramos já um País Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que passamos de pobretanas a ricos "fartazanas".
Cresci assim, sem nada e com tudo.

E agora, o que temos nós?

1. Um país com duas imagens.
A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
E a do interior do país, território desertificado, envelhecido, abandonado, improdutivo, esquecido, pisado.

2. Um país de vícios.
Esqueceram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores. Não interessa a tua história, interessa o lugar que ocupas. Não interessa o que defendes, interessa o que prometes. Não interessa como chegaste lá, mas sim o que representas lá. Não interessa o quanto produziste, interessa o que conseguiste. Não interessa o meio para atingir o fim, interessa o que me podes dar a mim. Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho. Não interessa que critiquem os políticos, interessa é estar lá. Não interessa saber que as associações de estudantes das universidades são o primeiro passo para a corrupção activa e passiva que prolifera em todos os sectores políticos, interessa é que o meu filho esteja lá. Não interessa saber que as autarquias tenham gente a mais, interessa é que eu pertença aos quadros. Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo mundo do trabalho, interessa é que o povo vá para o...

3. Um país sem justiça.
Pedófilos que são condenados e dão aulas passados uns dias. Pedófilos que por serem políticos são pegados em ombros e juízes que são enviados para as catacumbas do inferno.
Assassinos que matam por trás e que são libertados passados sete anos por bom comportamento!
Criminosos financeiros que escapam por motivos que nem ao diabo lembram.
Políticos que passam a vida a enriquecer e que jamais têm problemas ou alguém questiona tal fortunas.
Políticos que desgovernam um país e "emigram" para Paris.
Bancos que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar.

Um povo que vê tudo isto e entra no sistema, pedindo favores a toda a hora e alimentando a máquina que tanto critica.

4. Um país sem educação.
Quem semeia ventos colhe tempestades.
Numa época em que a sociedade global apresenta níveis de exigência altamente sofisticados, em Portugal a educação passou a ser um circo. Não se podem reprovar meninos mimados. Não se pode chumbar os malcriados. Os alunos podem bater e os professores nem a voz podem levantar. Entrar na universidade passou a ser obrigatório por causa das estatísticas. Os professores saem com os alunos e alunas e os alunos mandam nos professores. Ser doutor, afinal, é coisa banal.

5. Um país que abandonou a produção endógena.
Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas que abandonou a sua história.
Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se o afamado portátil fosse a salvação do país. Um país que julga que uma mega fábrica de automóveis dura para sempre. Um país que pensa que turismo no Algarve é que dá dinheiro para todos. Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a agricultura. Que pisa quem ainda teima em produzir e destaca quem apenas usa gravata. Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao melhor queijo regional. Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginginha deliciosa, Pastel de Tentugal tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, lacticínios dos Açores e Azeite de Portugal para vender. E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa história.

6. Um país sem gente e a perder a alma lusa.
Um país que investiu forte na formação de um povo, em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais, mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados, em médicos, em gestores, economistas e marketeers, em cursos profissionais, em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora fecha as portas e diz para os jovens emigrarem.
Um país que está desertificado e sem gente jovem, mas com tanta gente velha e sábia que não tem a quem passar tamanha sabedoria. Um país com jovens empreendedores que desejam ficar mas são obrigados a partir. Um país com tanto para dar, mas com o barco da partida a abarrotar. Um país sem alma, sem motivação e sem alegria. Um país gerido por porcaria.

E agora, vale a pena acreditar?
Vale. Se formos capazes de participar, congregar novos ideais sociais e de mudar.

Porquê acreditar?
Porque oitocentos anos de história, construída a pulso, não se destroem em 40 anos. Porque o solo continua fértil, o mar continua nosso, o sol continua a brilhar e a nossa alma, ai a nossa alma, essa continua pura e lusitana e cada vez mais fácil de amar.
(M.M.)

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