A lágrima de soldado é ter lutado pela
soberania deste país e ajudado a escrever a sua história com o suor da sua pele
e o sangue do seu corpo e hoje ver o seu sabre honrado e glorioso ser esquecido
e menosprezado.
É ter lutado nas guerras internas para
preservar a unidade nacional colocando toda a sua alma ao serviço do seu país e
do seu povo e hoje ver a sua história ser descolorida e reinterpretada em nome
de interesses ideológicos.
É ver a sua instituição de tradições
seculares – constituída por profissionais honestos e honrados, de alma pura e
adornada de civismo – ser deslustrada e desvalorizada, de forma maliciosa, pela
média e por pessoas que exercem temporariamente o poder.
É ver a importância da sua Instituição ser
esvaziada para atender a doutrinas ideológicas, por meio de cortes no orçamento,
perda de benefícios, abatimento salarial, desvalorização das chefias.
É ver o esplendor da sua espada receber
qualificações depreciativas e gratuitas por parte de pessoas interessadas em
desfigurar os valores éticos, morais e cívicos que brilham, de foram permanente,
sob os uniformes militares.
É ter espírito de servidão, identidade com a
democracia, solidariedade para com os humildes, respeito às leis e aos direitos
das pessoas e ser configurado, de forma constante, como autoritário e
prepotente.
É não ter o reconhecimento, por parte das
autoridades, do tempo que permanecem nas fronteiras distantes e insalubres; das
horas que ficam no seu posto de sentinela, sentindo o vento frio do Inverno ou o
calor ardente do Verão; do tempo que ficou de serviço di e noite no quartel,
sem qualquer remuneração extra.
É não ver reconhecida a grandeza do trabalho,
que se inicia quando algumas estrelas ainda permanecem acesas no céu e termina
quando os horizontes arroxeados pelos raios de sol poente; é preparar-se para
defender a soberania do seu país e não ter a profissão dignamente remunerada,
como se a soberania não tivesse importância para os portugueses.
É ver muita gente apagar a luz que ilumina a grandeza de um soldado; é não ser lembrado
nos momentos de festa, mas apenas nos instantes de dor; é ser discriminado,
mesmo sabendo que ele tem a alma alegre e solidária da nossa gente.
É ser um lutador incansável pela glória do
seu país, treinando sem qualquer apoio governamental e, mesmo assim, conquistando medalhas nas Olimpíadas Internacionais
e não ser citado pela média como soldado de Portugal.
É ter que responder com silêncio e disciplina
às injustiças, ofensas, ingratidões e perseguições, todas motivadas por um
espírito revanchista, é saber que os palácios não ouvem a sua voz nem vêm s
suas dificuldades, causadas pelos baixos salários que o governo lhe paga.
É ver pessoas, em manifestações públicas em
favor de um vida melhor, sabendo da existência de vários crimes contra o povo,
no desvio de recursos públicos, que poderiam ser usados na educação e na saúde.
É sonhar com um Portugal novo, com justiça
social, e ver um Portugal velho, vestido de desigualdades; é sonhar com a
honestidade no exercício das funções públicas e encontrar o desvio dos impostos
pagos pelo cidadão; é sonhar com a esperança de que a democracia traga mudanças
e assistir à continuação das velhas práticas políticas; é sonhar com um novo
dia e perceber que a noite parece não ter fim.
É sonhar com uma assistência médica de
qualidade e ver pessoas morrer ns filas de espera dos hospitais públicos; é
sonhar com uma escola pública de qualidade e ver a decadência da educação; é
sonhar coma Primavera e não ver as flores; é sonhar com as estrelas e não ver o
céu; é sonhar com o maar e não ver a águ.
É ver o amor que os homens políticos têm
pelas mordomias; é ver a vocação da sua maioria para a pr´tic de actividades
ilícits e desonestas; é ver os políticos portugueses usarem o mandato e o cargo
paara lcançar benefícios pessoais, seja desviando recursos públicos, seja
exercendo tráfico de influência.
É ver que os nossos políticos têm a podridão dos rios poluídos que cortam as cidades e não a pureza das águas glaciais que
descem dos polos; é ver que as eleições não trazem esperanças novas aos
eleitores; é ver que a corrupção e o nepotismo têm ainda longa vida neste país.
A lágrima de soldado é ver Portugal ser um país
rico e ter gente a dormir nas ruas e a passar fome; é ter pessoas à porta dos
hospitais a lutar pelo direito de enfrentar a morte; é ter mães implorando por
vagas nas escolas e creches, è saber que a verdadeira democracia ainda não
chegou ao nosso pís. É ainda um sonho…
Mesmo com lágrimas nos olhos, o soldado
continua em frente, no cumprimento do seu dever, com sua alma vestida de fé e esperança,
acreditando sempre em Portugal, na democracia e no fim das desigualdades, que
tanto envergonham s pessoas de bem, que vivem neste solo onde a balança a
rubro-verde da bandeira da nossa terra.
Esse soldado – simples, valoroso, dedicado,
portador das mais caras virtudes continua com o seu passo firme e cadenciado,
esperando que um di a impunidade seja lançada ao mar e este povo sofrido possa
ouvir não um toque de silêncio mas o de uma nova alvorada e acordar com uma
nova democracia.
D. P. L.
Sem comentários:
Enviar um comentário