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sábado, 3 de agosto de 2013

«PERSONALIDADE DE CADA UM»

Se se considera este duplo facto: primeiro, que toda a personalidade procura afirmar-se tal qual é, e segundo o que é, mas é frequentemente embaraçada, reprimida, obstada por uma força que, por determinado motivo, a excede; e, depois, que esse impulso frustrado inevitavelmente dá origem a um fenómeno de compensação, que assume a forma de protesto, é evidente, a priori, que há duas ordens de remédios contra a indisciplina habitual.

De início, aqueles que se aplicarão para não ferir sem motivo a personalidade de cada qual. Depois, todos aqueles que procurarão eliminar, na medida do possível, o fenómeno de compensação em que consiste, essencialmente o comportamento considerado indisciplinado das gentes de esquerda.

Demos uma olhada pela Europa: Berlusconi condenado, Sarkozy derrotado, Rajoy acusado de meter a mão ao saco, e mais outros.., todos da direita política, que alguns pretendem ser “exemplar” e o melhor para todos, pretendendo não admitir o contrário e o ideal de cada um…

Falar de Portugal e de seus políticos dominantes é gastar tempo inutilmente, a não ser dizer uma vez mais que melhor fariam demitir-se e permitir que o povo viva com um mínimo de dignidade.

Quem poderá admirar-se, pois, que os portugueses deixem de ser, subitamente, o melhor povo do mundo, para passarem a constituir um povo que se limita a contestar um governação que de inteligente e racional nada tem?

Nenhum político é um “virtuose” que a política requer, já que para isso é necessário um dom autêntico e grande firmeza pelo respeito ao seu semelhante, mesmo pelos mais humildes, coisa que em Portugal nunca existiu nem existirá enquanto o povo não se emancipar de forma definitiva.

Da paciência à fraqueza não há mais que um passo!

Mas, suponhamos, por exemplo, que todo o diagnóstico político acerca dos cidadãos revela que a cidadania “indisciplinada” só o é em virtude do seu orgulho ferido.

Em cada discussão, a personalidade intelectual ultrapassa, domina e esmaga e dos políticos. Que farão eles então?

Sabe-se muito bem. Sempre que pode, protesta contra essas contrariedades que os colocam em inferioridade, procurando algures uma superioridade, embora imaginária.

O povo desobedece, talvez, mesmo, “insulta” com termos permitidos pela correcção humana e social. Evidentemente, os políticos sentem-se “ofendidos” e dentro deles sentem sede de vingança, que se traduz em sempre mais austeridade, mais cortes nos salários e pensões, mais dificuldades na vida da cidadania, reservando dezenas de milhões par se mostrarem, aos olhos de estrangeiros, os bons da fita.

O povo protesta contra essa inferioridade, sai às ruas clamando justiça social; e que adianta? Quem assume a realidade dos tormentos vividos pela cidadania? Não esteve o povo sempre na base da pirâmide social, onde no topo se mantinham a nobreza – hoje burguesia – o clero e bem lá no fundo o povo a aguentá-los e ao peso que representavam? Que representam?

Quando os governantes decidem punir o povo  que nada fez para ser alvo de todas as punições recebidas, e que só anseia por um trabalho que lhe permita ganhar honestamente a vida, recebe como única compensação o desemprego, a fome e a miséria, agravando-se todos os seus males.


Que haverá de mais simples que não discutir, para não ser punido? Ou, pelo menos, discutir de outra maneira, fingindo não sentir os golpes baixos e não acentuando vitória que jamais existirão!

O povo precisa de usar não a ironia, nem a zombaria, que são armas muito perigosas.

Precisa de prender a escutar com serenidade os falsos raciocínios mais evidentes. Ssim evitará, pelo menos, desencadear o mecanismo de protesto, que é, repito, a própria essência do que em sua honra designam por indisciplina popular.


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