Se se considera este duplo facto: primeiro,
que toda a personalidade procura afirmar-se tal qual é, e segundo o que é, mas é
frequentemente embaraçada, reprimida, obstada por uma força que, por determinado
motivo, a excede; e, depois, que esse impulso frustrado inevitavelmente dá
origem a um fenómeno de compensação, que assume a forma de protesto, é
evidente, a priori, que há duas ordens de remédios contra a indisciplina
habitual.
De início, aqueles que se aplicarão para não ferir
sem motivo a personalidade de cada qual. Depois, todos aqueles que procurarão
eliminar, na medida do possível, o fenómeno de compensação em que consiste,
essencialmente o comportamento considerado indisciplinado das gentes de esquerda.
Demos uma olhada pela Europa: Berlusconi
condenado, Sarkozy derrotado, Rajoy acusado de meter a mão ao saco, e mais
outros.., todos da direita política, que alguns pretendem ser “exemplar” e o
melhor para todos, pretendendo não admitir o contrário e o ideal de cada um…
Falar de Portugal e de seus políticos
dominantes é gastar tempo inutilmente, a não ser dizer uma vez mais que melhor
fariam demitir-se e permitir que o povo viva com um mínimo de dignidade.
Quem poderá admirar-se, pois, que os
portugueses deixem de ser, subitamente, o melhor povo do mundo, para passarem a
constituir um povo que se limita a contestar um governação que de inteligente e
racional nada tem?
Nenhum político é um “virtuose” que a
política requer, já que para isso é necessário um dom autêntico e grande
firmeza pelo respeito ao seu semelhante, mesmo pelos mais humildes, coisa que
em Portugal nunca existiu nem existirá enquanto o povo não se emancipar de
forma definitiva.
Da paciência à fraqueza não há mais que um
passo!
Mas, suponhamos, por exemplo, que todo o
diagnóstico político acerca dos cidadãos revela que a cidadania “indisciplinada”
só o é em virtude do seu orgulho ferido.
Em cada discussão, a personalidade
intelectual ultrapassa, domina e esmaga e dos políticos. Que farão eles então?
Sabe-se muito bem. Sempre que pode, protesta
contra essas contrariedades que os colocam em inferioridade, procurando algures
uma superioridade, embora imaginária.
O povo desobedece, talvez, mesmo, “insulta”
com termos permitidos pela correcção humana e social. Evidentemente, os
políticos sentem-se “ofendidos” e dentro deles sentem sede de vingança, que se
traduz em sempre mais austeridade, mais cortes nos salários e pensões, mais
dificuldades na vida da cidadania, reservando dezenas de milhões par se
mostrarem, aos olhos de estrangeiros, os bons da fita.
O povo protesta contra essa inferioridade,
sai às ruas clamando justiça social; e que adianta? Quem assume a realidade dos
tormentos vividos pela cidadania? Não esteve o povo sempre na base da pirâmide
social, onde no topo se mantinham a nobreza – hoje burguesia – o clero e bem lá
no fundo o povo a aguentá-los e ao peso que representavam? Que representam?
Quando os governantes decidem punir o
povo que nada fez para ser alvo de todas
as punições recebidas, e que só anseia por um trabalho que lhe permita ganhar
honestamente a vida, recebe como única compensação o desemprego, a fome e a
miséria, agravando-se todos os seus males.
Que haverá de mais simples que não discutir,
para não ser punido? Ou, pelo menos, discutir de outra maneira, fingindo não
sentir os golpes baixos e não acentuando vitória que jamais existirão!
O povo precisa de usar não a ironia, nem a
zombaria, que são armas muito perigosas.
Precisa de prender a escutar com serenidade
os falsos raciocínios mais evidentes. Ssim evitará, pelo menos, desencadear o
mecanismo de protesto, que é, repito, a própria essência do que em sua honra
designam por indisciplina popular.
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