Aqueles que dizem, que do latim ao português,
existe o mesmo parentesco que da mãe à criança, e parece quase impossível
conhecer honoravelmente a língua de Camões sem ter pelo menos alguma
familiaridade com a de Cícero…
Sabe-se, com efeito, como o português foi
pouco a pouco constituído: a partir desse latim popular, que falavam os
soldados e os mercadores vindos de Roma e que suplanta, pouco a pouco, o
céltico dos lusitanos vencidos.
Daí vem que em favor do acento tónico “testam”
e não “caput”, deu “catre”; que “cavalo” não deve nada a “equus”, mas deriva de “caballum”…
Entretanto, o latim clássico, mantido na
igreja até mais de meados do século 20, mas que ainda hoje é mantido nos livros
sagrados, fazia nscer seguidamente um grande número de palavras sábias, literalmente
decalcadas da língua original: “capitalis”, por exemplo, transmutava-se em “capital”,
e “equestris” em “equestre”.
Por vezes, vocábulos da mesma origem, mas em
que um era de formação popular, o outro de formação erudita, acabavam rm
sentidos diferentes: assim, “hospitalis” dava nascimento a “hotel” e “hospital”,
“auscultáre” em “ouvir” e “auscultar”, etc. A existência destes “doublets”
seriam suficientes para provar a influência determinante, diga-se mesmo
geradora, do latim sobre o português.
Em contrapartida, a morfologia latina sofreu
muito importantes alterações: os seis casos da declinação reduziram-se a dois –
um caso sujeito e um caso regime (complemento) – que, por uma nova
significação, só o último subsista.
E a frase portuguesa devia adoptar a ordem
que se lhe conhece hoje e segundo a qual, em geral, o sejeiro precede o verbo e
este o complemento.
Assim, desde o início da Idade Média, o
português enriquece os termos que a invasão dos francos introduziu no
vocabulário militar, tinha estabelecido a autonomia de uma maneira quse
definitiva em relação à língua mãe.
Mas o português – ou antes o portugalês – não
era então que um dos numerosos dialectos da língua lusitana, saída do latim
sobre o solo de Portugal. Se ele triunfou a outros dialectos concorrentes, foi
sobretudo porque o Condado Portucalense, onde estava em uso, se tornou num
centro político e religioso da Nação.
E hoje. Que língua se fala em Portugl? E que
dialecto se escreve, depois de terem assassinado a original? Uma mescla de
brasileiroangolanoguineenseemoçambicano, com ajustes de cabo-verdiano e sãotomense,
polvilhados de francesismos e inglesismos que deturpam completmente a língua
camoniana, tudo só porque fica bem imitar eles, fazer como eles e dizer mal do
que estava bem.
“Mas, como fica baril e bué de fixe, alguns até
colocam abaixo dos seus escritos, ‘este artigo foi escrito ao sabor do novo
acordo ortográfico’”, ou de acordo com ele.
E tudo o demais, não passa de um “fait-divers”!
Sem comentários:
Enviar um comentário