Nasci e fui criado nos tempos da ditadura,
tempos esses em que a existência do Tribunal Constitucional e outras
instituições se limitavam a fazer figura de corpo presente, obedecendo cegamente
ao ditador, temendo a PIDE e a Legião ou mesmo a Mocidade Portuguesa.
O velho ditador sempre dizia, referindo-se ao
nosso país, como a República Democrática Portuguesa, embora todos soubessem que
se vivia sob a pata da feroz ditadura salazarista.
Pra ele, de nada servia a Constituição, mesmo
aquela que fez aprovar em 1933. O povo vivia oprimido e, se pretendia evitar
problemas, deveria limitar-se a três coisas: ouvir fado, ver futebol e ir a
Fátima.
Foi-se criando um “grande rebanho de
carneiros” (…), que deveria obedecer cegamente a tudo quanto o governo decidia
fazer ou impor-nos, governo vitaliciamente liderado pelo ditador e seus
esbirros.
“Foi por vontade de Deus” que, um belo dia,
quando se repousava sentado num cadeirão, já velho a caquético, tombasse de
cabeça sobre um dos braços, de madeira, do cadeirão, fizesse um hematoma sem
remissão, pois estava alojado num local de difícil acesso cirúrgico, vindo a
falecer tempos depois de ter sido substituído por Marcelo Caetano.
O regime ficou demasiado abalado, os pides
começaram a grande debandada, os legionários calaram-se e a Mocidade Portuguesa
foi praticamente extinta, restando ainda aquelas senhoras da Condição Feminina,
mulheres de ministros e dos grandalhões do regime, que muito contribuíram,
também, para que muitos cidadãos fossem parar aos calabouços da PIDE.
Conheci alguns deles bem de perto,
infelizmente, uma vez que fui considerado subversivo e fui experimentar a “comodidade”
ds celas da PIDE quer do Porto quer depois na Guiné, onde fui ferido e ainda
hoje sinto a mazela e recebo tratamentos, o que de modo algum o impede, e ao
seu governo, de me cortar na pensão de aposentação.
O senhor e seus esbirros, como ainda ontem
aquele deputado do CDS, João de Almeida, afirmou que todos os problemas hoje
vividos são culpa do anterior governo. O velho hábito da herança do passado..!
Mas, infelizmente, não é o único, já que o
CDS nasceu da vontade de Spínola da criação de um partido que desse continuidade
à União Nacional, apesar de se afirmar do Centro, lugar que o PPD já ocupava e
que hoje é preenchido pelo PSD, embora com muitos laivos de direitismo
indecente e impróprio para o consumo nacional, embora o actual governo pretenda
que os portugueses não passam de um rebanho de carneiros à porta do açougue.
Também o senhor parece pretender-se digno
tiranete, que não sabe evitar o ridículo das suas inteções de atropelar todas
as regras da democracia e marimbar-se olimpicamente para a Constituição.
E, também, a falta de respeito pelos
trabalhadores portugueses, se outro fosse o presidente da República, já o teria
demitido quer por incompetência quer pela prepotência usada contra a cidadania.
Quando se convencerá que se acabou o tempo da
“carneirada” e que os portugueses sabem perfeitamente o que querem e lutarão
para por termo ao seu miserável governo?
J. A.
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