Palácio de S. Bento, 230 pessoas bem
instaladas em anfiteatro, com computadores na sua frente – cada um o seu –
frente a uma mesa onde se sentam aqueles que dizem presidir aos “trabalhos”. A um
canto sentam-se representantes da imprensa falada e escrita.
A aristocracia da profissão, as e os
redactores do costume das revistas e jornais da especialidade, sentados nas
primeiras filas daquele canto à direita, isto é, à esquerda da mesa.
Por trás daquelas e daqueles que compõem o
corpo de parasitas nacionais – excelsos deputados da nação – acima deles, nas
chamadas galerias, sentam-se algumas pessoas que devem limitar-se a ouvir e
calar, evitando assim serem expulsas do hemicíclo.
Existe uma espécie de hierarquia subtil e
cuidada, estando situados os cronistas da moda política, já que se torna
conveniente, apesar de se estarem a ouvir e a ver através de um canal
televisivo, que “decifrem” o que dizem, o que pretendem ou não dizer os
parasitas que falam; muito possivelmente porque os estimados telespectadores são
considerados estúpidos que não compreendem o que querem dizer os parasitas.
Por vezes, complicam o que foi dito, e
interrompem o que outro ou outra está a dizer. No fundo, daria para rir um bom
bocado de todo o afã jornalístico em complicar o que no fundo é tão simples.
Se estivessemos sentados a um lado de uma
passerelle sobre a qual desfilassem manequins, deveríamos ouvir as explicações
sobre o estilo, o tecido, a cor dos vestidos e fatos, a decoração do teatro
improvisado para o efeito, acerca dos tecidos de cores diferentes apresentados.
Mas, enquanto aí os manequins se movem dando
às ancas, sejam machos ou fêmeas, no hemiciclo todos os presentes, poucos,
sobretudo nas bancadas da maioria, salvo nã altura das votações, existem certas
diferenças, não muitas.
E aqueles que se pensam mais eruditos, usam
de palavras mais caras que, pressurosos, ou pressurosas, os/as jornalistas se
apressam a “traduzir” para que os estúpidos dos telespectadores possam
compreender o que disseram; por vezes nada!
Um dia, uma senhora cheia de boa vontade,
decidiu fazer determinada intervenção. Foi na sessão legislativa anterior, baptizando
alguns deputados da oposição de ignorantes, de chicaneiros e outros mimos;
mostrava-se um verdadeiro vulcão que, em vez de cuspir lava ardente,
libertava palavras e frases incisivas e realmente ofensivas e, o que é curioso,
é que a excelsa presidente consentiu nas verdadeiras alarvidades proferidas,
causando forte reboliço nos visados, que se levantaram em protesto, pretendendo
defender a honra ofendida, assim como a alguns presentes nas galerias desataram a cantar
a “Grândola Vila Morena”, motivando, aí sim, uma espécie de crise “histérica”
na senhora presidente que perdeu as estribeiras.
Como é evidente, notando-se todavia uma certa
contrariedade, os agentes da autoridade limitaram-se a obedecer, isto é, a
encaminhar os representantes do povo nas galerias, para as portas de saída, o
que conseguiu acalmar a senhora presidente.
Este episódio terá feito esquecer a senhora
presidente do anterior, sendo necessário se chamada à atenção pelos ofendidos
na sua honra (???), o que a obrigou a pedir desculpas. Estava realmente muito
perturbada, supondo eu ser desnecessário, uma vez que tinha conseguido os seus
intentos, a expulsão do malcriado do povo das galerias.
Assim, ficava tudo em família, não é verdade?
Pois bem, os “trabalhos” foram reatados, os ofendidos defenderam a honra, e mais
tarde, nos Passos Perdidos, davam abraços uns aos outros e tomavam cafés ou
umas bebidas para revigorarem a amizade que os une, seja qual for a sua cor.
É assim que gosto! Que haja paz entre os
homens e mulheres de boa vontade, porque pra guerras há outros especialistas
neste mundo cão!
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