Não sei porque razão, todos os governantes
depois de Abril de 1974, falam da “herança” recebida do governo anterior. Tal
como aquele que actualmente está em funções, que se queixam continuamente da
herança recebida do anterior governo, por vezes citando nomes, actual governo
que é mais um equívoco na história das trapalhadas que, segundo eles mesmos, a
esquerda comete sempre.
O fracasso é o grande orgulho de todos os
incompetentes, que afirmam com uma certa altivez: “Se mais não fazemos é porque
não podemos, e não podemos devido à pesada herança recebida do governo anterior!”
Ora, pelo fracasso se constrói uma espécie de
“martírio enobrecedor”, pretendendo ser impossível nos dias de hoje o
socialismo, apesar de ter derivado totalmente à direita, embora não alinhe em
determinadas políticas – segundo os seus dirigentes afirmam desde a oposição,
enquanto se aliam a ela – direita – composta por “alienados burgueses
neoliberais”.
Quando eu tinha vinte anos, era praticamente
impossível não ser de esquerda. Queria ver de perto como se lutava contra a
ditadura e como deveria agir um homem de esquerda, como aqueles heróis que
conquistaram Cuba, os longos cabelos de Camilo Cienfuegos, o charuto de Guevara
e as barbas e discursos de Fidel.
A genialidade de Marx fascinava qualquer um.
Marx estudou economia, história e filosofia e, um dia, sentou-se a uma mesa e
escreveu um progrma para reorganizar a humanidade. Era a invencíval beleza da
Razão, o poder das ideias justas, que me estimulava a largar toda e qualquer
ideia burguesa, e todos os interesses burgueses.
Entrei, então, no aparelho da oposição, com s
suas reuniões de base e, curiosamente, nunca senti qualquer decepção.
Refiro-me apenas ao racional básico,
psicológico de uma boa consciência, um ideal progressista que pretendia, já
naquela altura, proporcionar aos portugueses as liberdades de acção e de
expressão, e, como é evidente, deitar abaixo a ditadura, acabar com as
corporações então existentes, como a Pide e a Legião mas também a Mocidade Portuguesa
e com toda essa “bufaria”.
Apesar de tudo quanto possam afirmar alguns e
algumas que se passaram mais tarde para outros campos, nunca senti pressão
sobre os sentimentos que alguns dizem, não sem uma certa “piada” serem “castrados”.
Ali, mantinha e era sempre incentivado para
ser ainda melhor aluno e conseguir um lugar no seio da sociedade que me
permitisse viver e fazer viver os meus concidadãos fora do obscurantismo que
tinha tomado conta do país e dar o meu contributo para que isso acabasse de vez.
Era fácil viver sem ignorar os ignorantes, os
neuróticos e os paranóicos, os psicopatas, os burros e os sempre presentes
bufos.
Nas reuniões secretas, que nunca se
realizavam no mesmo local, delineavam-se estratégias que se transportavam para
os bancos dos liceus e das faculdades, mas também para os locais d trabalho.
Era necessário alertar, elucidar os “companheiros e camaradas” contra os
atentados às liberdades a que todo o ser humano tem direito.
Mas também, conseguir entrar nos segredos de
Estado, e sobretudo contra aquela verdadeira “invasão americana” – a Imperialista,
e alguns evitavam muitos dos diagnósticos chegados da Academia da URSS, porque
era necessário mantermos a independência do nosso país, apesar das trocas de ideias.
Em 1974/75 veio a sucessão de derrotas,
porque aqueles que sempre haviam defendido o obscurantismo e a ignorância do
povo, logo correram aos lugares chave, meteram o socialismo na gaveta, deram
início a uma nova era, a da corrupção, que tem sofrido fortes ampliações.
E, por tais
motivos, o povo português não pode livrar-se do seu fado triste e chorado,
sendo sempre o perseguido de políticos sem qualquer formação de base, que se
limitam a obedecer aos senhores do capital. Que passem fome, que vivam na
miséria e, se um dia pensarem em revoltar-se, terão à sua espera as forças
policiais armadas até aos dentes e prontas a usarem-nas contra o nobre povo que
sempre tem sido martirizado e que, se não reagir, continuará a sê-lo
desbragadamente.
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