Qualquer alienação funciona segundo o mesmo
princípio. A miséria dos homens permitiu
criação, possibilitou a santidade do dinheiro. Nas suas sublimações, as
civilizações exprimem o que constitui aquilo que lhes falta e, depois, os seus
deuses ou, pelo menos, o seu Deus.
E esta falta, transfigurada em ser, cintila e
fascina porque é interdito à maioria, um
grande número de pessoas, por estar resguardado nas mãos de alguns.
De modo que parece assim demonstrada a
raridade e, portanto,a natureza preciosa de um
fetiche que se tornou mundo. O luxo manifesta este Deus invisível, ele é
a sua epifania. Através da hierarquia instaurada, ele possibilita leitura do que faz a miséria, a saber, a
ausência deste Deus, a impossibilidade, para a maioria, de uma comunhão na
hóstia que é o vlor proposto depois da transubstanciação.
Não há soberania individual sem participação
nesta religião.
Os excluídos, os rejeitados, alimentam o povo
dos danados, dos interditos de enriquecer, privados do ter e, portanto,
paorbidos de ser.
Giratórios, circulantes, febris ou
flutuantes, estes capitais são inacessíveis àqueles cuja existência é
consagrada a movimentá-los, a possibilitar os seus fluxos. Nem a terra, nem o
trabalho, permitem a renda ou o salário.
Hoje,apenas o capital trabalha para
interesses tanto maiores quanto a soma em jogo é considerável.
Raramente o empobrecimento terá sido tão vil
e cínico até este ponto. Não há esperança para os que nada têm para ganhar mas
que tudo têm a perder, se puderem deixar
o seu estatuto de danado; tudo permanece possível para os eu têm o suficiente
para empatar uma parte da sua fortuna; há ganhos quase assegurados para os que
promulgam as regras do jogo que jogam, do qual controlam o princípio e o
funcionamento lúdico, recuperando percas eventuais pelos jogos compensatórios,
aos quais só eles têm acesso. Os pobres irão empobrecendo à medida que os ricos
irão enriquecendo.
O culto prestado ao capital flutuante é
inversamente proporcional à participação, directa ou diferida, dos impetrantes.
Os rejeitados anseiam tanto mais pelo que lhes falta quanto os felizes
desfrutam do que é para eles uma realidade.
O futuro permanece um fantasma para os outros,
um desejo investido como tal, porque possuído pelos outros. O desejo mimético
faz do escravo um guardião do templo onde
comungam os seus mestres, porque ele espera, contudo, em vão, que um dia possa
participar nos festins, mesmo que só tenha os restos.
Eis o motivo porque a religião do capital, sob o seu modo virtual, dispõe de
tantos sectários: os que dele desfrutam, evidentemente, e os que julgam poder
um dia desfrutá-lo e que, por esse motivo, desejam a conservação das regras do
jogo na única esperança de poderem, amanhã, sentar-se perante o tapete verde.
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