Em 1212, grupos de jovens em França e na
Alemanha juntaram-se para irem em peregrinação até à Terra Santa, sendo seu
objectivo nada menos que libertar Jerusalém dos Muçulmanos.
Poucos, se alguns, da desorganizada turba de
jovens camponeses que partiram para a Terra Santa em 1212, terão conseguido lá
chegar. Contudo, a ideia de um levantamento dos pobres, inspirada por uma devoção
religiosa para capturar Jerusalém, atraíra a imaginação contemporânea.
Um cronista descreveu o que se tornou
conhecido como a “Cruzada das Crianças” como “um caso milagroso… nunca se ouviu
falar de nada semelhante neste mundo”.
Contos mirabolantes começaram a circular
sobre o que lhes teria acontecido. Alguns teriam chagado a Marselha, onde
mercadores sem escrúpulos lhes teriam oferecido passagem livre para Leste.
Teriam partido sete grandes barcos; dois naufragaram e os outros cinco navegaram
até Alexandria, onde as crianças foram vendidas como escravos – terminando os seus
dias na corte do califa de Bagdade.
O contexto destes acontecimentos pode ser
encontrado n história recente das cruzadas e na devoção popular da época.
Em 1187, Saladino tinha conquistado Jerusalém
e, apesar dos esforços d Ricardo, Coração de Leão, a terceira cruzada tinha
efectuado poucos progressos n recuperação da Terra Santa.
Em 1204, a quarta cruzada saqueou cidade cristã de Constantinopla em vez de
combater os muçulmanos. Pensava-se que a causa destes fracassos fosse a riqueza
e a vaidade dos príncipes que tinham liderado as expedições.
Por oposição, os pobres, especialmente as
crianças, eram vistas como puras. O apoio ao conceito das cruzadas continuava
forte: em 1212, o papado pregou contra os muçulmanos em Espanha e contra os
heréticos cátaros do Sul de França.
Esta combinação de entusiasmo das cruzadas
com a ideia de que os pobres eram o povo escolhido por Deus, forneceu a
inspiração para a “cruzada das crianças”.
A cruzada tinha dois elementos. Em França, um
jovem pastor, Estêvão,, natural de Cloyes, Ile de France, ofereceu pão a um
pobre peregrino, que identificou como sendo Cristo.
Em troca da sua hospitalidade, o peregrino
deu a Estêvão cartas para apresentar a Filipe II de França. Milhares de
pastores reuniram-se à volta de Estêvão e todos marcharam para Saint Denis,
perto de Paris, onde parece terem ocorrido milagres.
É possível que, neste ambiente fervoroso,
tivessem a esperança de que o rei fosse liderar uma nova cruzada, mas em vez
disso este instruiu os pastores a regressarem a casa.
A parte alemã da cruzada das crianças foi
liderada por um jovem chamado Nicolau de colónia, que se sentiu guiado por Deus
par reunir pessoas com o intuito de recuperar Jerusalém.
Juntaram-se grupos de jovens, alguns dos
quais não tinham mais do que seis anos de idade. Estavam pobremente equipados e
faltavam-lhes as armas e os cavalos para um expedição militar.
A maioria não era mais do que simples
trabalhadores inspirados pela fé e pela oportunidade da aventura, uma fuga às
vidas monótonas nos campos da Europa. Os seus pais ficaram consternados: quem
trataria da recolha das colheitas e quem cuidaria dos animais?
Alguns clérigos estavam também incomodados:
as cruzadas tinham sido autorizadas pelo pap, contudo, neste caso, s massas
estavam a actuar por conta própria.
Nicolau conduziu os seus apoiantes pelo sul
da Alemanha até à Itália. A travessia dos Alpes num dos verões mais quentes da
época provou ser cansativa: a cruzada começou a dispersar à medida que alguns
se apercebiam da impraticabilidade do seu objectivo e outros achavam a viagem
simplesmente demasiado árdua.
Vários milhares dos seus seguidores
continuaram com Nicolau e sabe-se que terão alcançado Génova a 25 de Agosto de
1212. Não é claro o que aconteceu a seguir.
Alguns poderão ter navegado para leste, mas a
maioria desapareceu, regressando em direcção ao norte para serem
ridicularizados pela sua óbvia insensatez.
Apesar de ter sido um evento inconclusivo, a
cruzada das crianças deixou uma impressão notavelmente poderosa n sociedade
medieval.
Mesmo hoje em dia, a aventura dessas crianças
continua a ser um forte símbolo do entusiasmo religioso popular, mesmo se mal
orientado.
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