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domingo, 18 de agosto de 2013

«FILHOS DE DEUS»

Em 1212, grupos de jovens em França e na Alemanha juntaram-se para irem em peregrinação até à Terra Santa, sendo seu objectivo nada menos que libertar Jerusalém dos Muçulmanos.

Poucos, se alguns, da desorganizada turba de jovens camponeses que partiram para a Terra Santa em 1212, terão conseguido lá chegar. Contudo, a ideia de um levantamento dos pobres, inspirada por uma devoção religiosa para capturar Jerusalém, atraíra a imaginação contemporânea.

Um cronista descreveu o que se tornou conhecido como a “Cruzada das Crianças” como “um caso milagroso… nunca se ouviu falar de nada semelhante neste mundo”.

Contos mirabolantes começaram a circular sobre o que lhes teria acontecido. Alguns teriam chagado a Marselha, onde mercadores sem escrúpulos lhes teriam oferecido passagem livre para Leste. Teriam partido sete grandes barcos; dois naufragaram e os outros cinco navegaram até Alexandria, onde as crianças foram vendidas como escravos – terminando os seus dias na corte do califa de Bagdade.

O contexto destes acontecimentos pode ser encontrado n história recente das cruzadas e na devoção popular da época.

Em 1187, Saladino tinha conquistado Jerusalém e, apesar dos esforços d Ricardo, Coração de Leão, a terceira cruzada tinha efectuado poucos progressos n recuperação da Terra Santa.

Em 1204, a quarta cruzada saqueou  cidade cristã de Constantinopla em vez de combater os muçulmanos. Pensava-se que a causa destes fracassos fosse a riqueza e a vaidade dos príncipes que tinham liderado as expedições.

Por oposição, os pobres, especialmente as crianças, eram vistas como puras. O apoio ao conceito das cruzadas continuava forte: em 1212, o papado pregou contra os muçulmanos em Espanha e contra os heréticos cátaros do Sul de França.

Esta combinação de entusiasmo das cruzadas com a ideia de que os pobres eram o povo escolhido por Deus, forneceu a inspiração para a “cruzada das crianças”.

A cruzada tinha dois elementos. Em França, um jovem pastor, Estêvão,, natural de Cloyes, Ile de France, ofereceu pão a um pobre peregrino, que identificou como sendo Cristo.

Em troca da sua hospitalidade, o peregrino deu a Estêvão cartas para apresentar a Filipe II de França. Milhares de pastores reuniram-se à volta de Estêvão e todos marcharam para Saint Denis, perto de Paris, onde parece terem ocorrido milagres.

É possível que, neste ambiente fervoroso, tivessem a esperança de que o rei fosse liderar uma nova cruzada, mas em vez disso este instruiu os pastores a regressarem a casa.

A parte alemã da cruzada das crianças foi liderada por um jovem chamado Nicolau de colónia, que se sentiu guiado por Deus par reunir pessoas com o intuito de recuperar Jerusalém.

Juntaram-se grupos de jovens, alguns dos quais não tinham mais do que seis anos de idade. Estavam pobremente equipados e faltavam-lhes as armas e os cavalos para um expedição militar.

A maioria não era mais do que simples trabalhadores inspirados pela fé e pela oportunidade da aventura, uma fuga às vidas monótonas nos campos da Europa. Os seus pais ficaram consternados: quem trataria da recolha das colheitas e quem cuidaria dos animais?

Alguns clérigos estavam também incomodados: as cruzadas tinham sido autorizadas pelo pap, contudo, neste caso, s massas estavam a actuar por conta própria.

Nicolau conduziu os seus apoiantes pelo sul da Alemanha até à Itália. A travessia dos Alpes num dos verões mais quentes da época provou ser cansativa: a cruzada começou a dispersar à medida que alguns se apercebiam da impraticabilidade do seu objectivo e outros achavam a viagem simplesmente demasiado árdua.

Vários milhares dos seus seguidores continuaram com Nicolau e sabe-se que terão alcançado Génova a 25 de Agosto de 1212. Não é claro o que aconteceu a seguir.

Alguns poderão ter navegado para leste, mas a maioria desapareceu, regressando em direcção ao norte para serem ridicularizados pela sua óbvia insensatez.

Apesar de ter sido um evento inconclusivo, a cruzada das crianças deixou uma impressão notavelmente poderosa n sociedade medieval.


Mesmo hoje em dia, a aventura dessas crianças continua a ser um forte símbolo do entusiasmo religioso popular, mesmo se mal orientado.

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