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terça-feira, 20 de agosto de 2013

«A IMPRENSA PERIÓDICA EM PORTUGAL»

As primeiras “folhas volantes” que circularam em Portugal, de mão em mão, umas sem qualquer recato, outras a ocultas, datam dos princípios do século XVII e visavam atacar o governo dos chamados reis intrusos (Filipes de Espanha). Algumas delas eram impressas, outras não passavam de cópias manuscritas.

A sátira e a invencionice davam-se as mãos nesses pequenos folhetos, o que levou Filipe III a determinar que tais “papéis volantes” ou “relações” – como então eram já conhecidos – não podiam circular (os impressos, bem entendido) sem exame prévio, este da competência dos desembargadores do paço.

Com esta origem remota da imprensa periódica nascia também a censura. Ainda não obediente à regra da publicação regular que veio mais tarde a caracterizar e definir a própria imprensa periódica, porém muitas vezes já indicado, e com fundada razão, como o mais antigo jornal português, foi o que redigiu Mnuel Severim de Faria com o título de Relação Universal do Que Sucede em Portugal e mais Províncias do Ocidente e do Oriente, com dois exemplares conhecidos: abrangia o primeiro notícias e comentários relativos ao período decorrido de Março a Setembro de (impresso em Lisboa) e o segundo o período que alcançava o mês de Agosto, impresso em Évora, enquanto em Braga era reimpresso o primeiro.

Pela forma como escrevia sobre os acontecimentos da sua época e pela novidade que era a divulgação dos seus escritos,  a Relação despertou o interesse público. Porém, só decorridos mais dez anos, e com o movimento da Restauração, é que surge em Lisboa, impressa com regularidade por Lourenço de Anvers, a Gazeta em Que se Relatam as Novas Todas Que Ouve Nesta Corte e Que Vieram de Várias Partes…

Convinha levar ao conhecimento de todos os portugueses o que havia sido, na verdade, o movimento do 1º de Dezembro e animá-los a prosseguir a luta encetada, para que nunca mais perdessem as vantagens alcançadas ao libertarem-se de Espanha. A iniciativa da publicação da Gazeta – esta, sim, verdadeiramente o primeiro jornal português, na opinião de muitos autores – terá sido inspirada pelo exemplo da Gazette de France, patrocinada por Richelieu. Por outro lado, proliferavam,de par com a gazeta e com objectivos idênticos, folhas avulsas, em geral anónimas, que também mereciam boa aceitação da parte do público.

Porque não serviam, de acordo com o critério de então e de sempre, os interesses do Estado, veio uma lei a determinar  proibição das gazetas e desses papéis.

Com a Revolução de 24 de Agosto de 1820 surge no Porto, como, aliás, na capital e outras localidades, a imprensa de acentuado carácter noticioso, sem menosprezo da divulgação da doutrina que estivera na origem da mesma revolução. Entendia-se, como a própria Constituição de 1822 veio a estabelecer, que o mais precioso dos direitos do homem era o da livre comunicação do seu pensamento. Outro tanto foi a Carta Constitucional de 1826. Para o caso particular do Porto – aí por óbvias razões, porém com iniciativas de idêntico teor ou objectivo em Lisboa e outras localidades, como foi dito – sucedem-se os jornais, sendo o primeiro a vir a público, apenas dois dias  pós a revolução, o Diário Nacional.

No mês seguinte era substituído por outro, a Regeneração de Portugal, que por sua vez, e também daí a pouco, cedia o lugar aao Correio do Porto, de publicação suspens em 1834.

Quando da entrada das tropas liberais  no Porto apenas se publicava um jornal: o Correio do Porto. Daí para o futuro, os jornais vão prosseguir a sua acção política e dos seus favores dependia a publicação das pequenas quatro páginas de cada um. Desligou-se da regra, visando os seus editores outras receitas que não as exclusivamente dependentes da venda de exemplares, o Diário Portuense: declaradamente, era publicado par explorar o negócio (rendoso?) do anúncio…

Na primeira metade do século XX, a traduzir, de certa maneira, o que acontecia em todo o território, a imprensa periódica portuense vive, de forma mais acentuada, à sombra dos grupos ou instituições que ocupavam posições diferentes, não apenas no campo político como também no das ideias e crenças.

Ao seu serviço revelam-se então muitos escritores e periodistas, desde Camilo Castelo Branco a Ramalho Ortigão. A imprensa periódica, passado o período das grandes perturbações e mudanças surge, definitivamente, na segunda metade do século passado, visando o mesmo fim, apoiar uma das facções em luta.


Todavia, não é ousado admitir a possibilidade que, no seu conjunto, todos os periódicos, os seculares e os episódicos, oferecem, para através dos seus títulos, dos nomes dos seus responsáveis e colaboradores e dos lugares da sua publicação ser elaborado, no domínio da cartografia, o mapa de expressão pública de grupos e tendências que intervieram no governo de Portugal, desde há século e meio. Subsídio fundamental, sem dúvida, para apurar algo de interesse para o estudo da evolução da própria sociedade portuguesa.

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