As primeiras “folhas volantes” que circularam
em Portugal, de mão em mão, umas sem qualquer recato, outras a ocultas, datam
dos princípios do século XVII e visavam atacar o governo dos chamados reis
intrusos (Filipes de Espanha). Algumas delas eram impressas, outras não
passavam de cópias manuscritas.
A sátira e a invencionice davam-se as mãos
nesses pequenos folhetos, o que levou Filipe III a determinar que tais “papéis
volantes” ou “relações” – como então eram já conhecidos – não podiam circular
(os impressos, bem entendido) sem exame prévio, este da competência dos
desembargadores do paço.
Com esta origem remota da imprensa periódica
nascia também a censura. Ainda não obediente à regra da publicação regular que
veio mais tarde a caracterizar e definir a própria imprensa periódica, porém
muitas vezes já indicado, e com fundada razão, como o mais antigo jornal
português, foi o que redigiu Mnuel Severim de Faria com o título de Relação
Universal do Que Sucede em Portugal e mais Províncias do Ocidente e do Oriente,
com dois exemplares conhecidos: abrangia o primeiro notícias e comentários relativos
ao período decorrido de Março a Setembro de (impresso em Lisboa) e o segundo o
período que alcançava o mês de Agosto, impresso em Évora, enquanto em Braga era
reimpresso o primeiro.
Pela forma como escrevia sobre os
acontecimentos da sua época e pela novidade que era a divulgação dos seus
escritos, a Relação despertou o
interesse público. Porém, só decorridos mais dez anos, e com o movimento da
Restauração, é que surge em Lisboa, impressa com regularidade por Lourenço de
Anvers, a Gazeta em Que se Relatam as Novas Todas Que Ouve Nesta Corte e Que
Vieram de Várias Partes…
Convinha levar ao conhecimento de todos os
portugueses o que havia sido, na verdade, o movimento do 1º de Dezembro e
animá-los a prosseguir a luta encetada, para que nunca mais perdessem as
vantagens alcançadas ao libertarem-se de Espanha. A iniciativa da publicação da
Gazeta – esta, sim, verdadeiramente o primeiro jornal português, na opinião de
muitos autores – terá sido inspirada pelo exemplo da Gazette de France, patrocinada
por Richelieu. Por outro lado, proliferavam,de par com a gazeta e com
objectivos idênticos, folhas avulsas, em geral anónimas, que também mereciam
boa aceitação da parte do público.
Porque não serviam, de acordo com o critério
de então e de sempre, os interesses do Estado, veio uma lei a determinar proibição das gazetas e desses papéis.
Com a Revolução de 24 de Agosto de 1820 surge
no Porto, como, aliás, na capital e outras localidades, a imprensa de acentuado
carácter noticioso, sem menosprezo da divulgação da doutrina que estivera na
origem da mesma revolução. Entendia-se, como a própria Constituição de 1822 veio
a estabelecer, que o mais precioso dos direitos do homem era o da livre
comunicação do seu pensamento. Outro tanto foi a Carta Constitucional de 1826.
Para o caso particular do Porto – aí por óbvias razões, porém com iniciativas de
idêntico teor ou objectivo em Lisboa e outras localidades, como foi dito –
sucedem-se os jornais, sendo o primeiro a vir a público, apenas dois dias pós a revolução, o Diário Nacional.
No mês seguinte era substituído por outro, a
Regeneração de Portugal, que por sua vez, e também daí a pouco, cedia o lugar
aao Correio do Porto, de publicação suspens em 1834.
Quando da entrada das tropas liberais no Porto apenas se publicava um jornal: o
Correio do Porto. Daí para o futuro, os jornais vão prosseguir a sua acção
política e dos seus favores dependia a publicação das pequenas quatro páginas
de cada um. Desligou-se da regra, visando os seus editores outras receitas que
não as exclusivamente dependentes da venda de exemplares, o Diário Portuense:
declaradamente, era publicado par explorar o negócio (rendoso?) do anúncio…
Na primeira metade do século XX, a traduzir,
de certa maneira, o que acontecia em todo o território, a imprensa periódica
portuense vive, de forma mais acentuada, à sombra dos grupos ou instituições
que ocupavam posições diferentes, não apenas no campo político como também no
das ideias e crenças.
Ao seu serviço revelam-se então muitos
escritores e periodistas, desde Camilo Castelo Branco a Ramalho Ortigão. A
imprensa periódica, passado o período das grandes perturbações e mudanças
surge, definitivamente, na segunda metade do século passado, visando o mesmo
fim, apoiar uma das facções em luta.
Todavia, não é ousado admitir a possibilidade
que, no seu conjunto, todos os periódicos, os seculares e os episódicos,
oferecem, para através dos seus títulos, dos nomes dos seus responsáveis e
colaboradores e dos lugares da sua publicação ser elaborado, no domínio da
cartografia, o mapa de expressão pública de grupos e tendências que intervieram
no governo de Portugal, desde há século e meio. Subsídio fundamental, sem
dúvida, para apurar algo de interesse para o estudo da evolução da própria
sociedade portuguesa.
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