Muito
gostaria de os ver trabalhar “seriamente” em favor dos trabalhadores, neste
caso funcionários públicos, em vez de os ver usar de todo o oportunismo
populista, para ver se ficam bem na fotografia e se conseguem amealhar mais uns
votos nas eleições, sejam as autárquicas que se aproximam ou noutras.
Vou
tentar dar alguns exemplos, que espero sejam de grande utilidade para que
aprendam, de uma vez por todas, a fazerem a oposição que deve ser feita.
Referirme-ei
mais aos trabalhadores de saúde e ao SNS, uma vez que foi aí que exerci durante
mais de quarenta e seis anos.
Todos
tinham horário de entrada, mas nenhum de nós sabia se podia sair à hora
estipulada. E, todo aquele que trabalhava conscientemente e ciente dos seus
deveres para com os doentes, jamais poderia, com certeza, afirmar que se
limitaria a cumprir o seu horário preestabelecido e pelo qual era pago.
Bastava
que um doente piorasse e tivesse necessidade de assistência cinco minutos antes
do horário de saída, para, e quantas vezes isso aconteceu, infelizmente, para
que nos víssemos obrigados a mantermo-nos ao serviço, prestando-lhe toda a
assistência e, tentar salvar-lhe a vida que corria grave risco.
Nenhum
de nós pensava abandonar o doente. Nenhum de nós o podia fazer e se ficasse
mais umas horas no serviço e conseguisse salvar aquele ser humano que tinha a
vida por um fio, se dava por feliz.
Quantas
vezes, chegado a casa, ligava para o serviço a perguntar qual o seu estado?
Alguém acha que deveria meter a conta das chamadas telefónicas? Nem sequer se
pensava enviar par os serviços administrativos qualquer papel, explicando tudo
quanto se passara na tentativa de receber horas extraordinárias.
Quantas
vezes, no SU, minutos antes de sair de serviço dava entrada um doente cujo
estado de saúde requeria toda a atenção e nos obrigava a prolongar o horário? É
que na saúde, doente entrado durante o horário de qualquer equipa, deveria
receber assistência por essa equipa.
Também
nestes casos se não requeria o pagamento das horas extraordinárias, e, por
vezes, horas seguidas e no bloco operatório.
Sabem
o que não se fazia nesse tempo? Era a acumulação de serviço noutros locais,
como clínicas privadas!
E,
havia aquele humanismo que tanta falta faz hoje nos serviços de saúde, onde o
doente, todo o doente era tratado de igual modo, fosse qual fosse a sua
condição social.
Também
não havia. No SU ou nas Consultas externas, aqueles enormes tempos de espera,
nem, tão-pouco, o tempo de espera para uma intervenção cirúrgica.
Sabem
porquê? Porque raramente olhávamos par o relógio, que no meu caso andava sempre
no bolso, nem para ver se eram horas de sair, ou se eram horas de me dirigir ao
segundo emprego. Não, meus senhores, pois os doentes eram a nossa razão de ser
nos serviços hospitalares ou nos Centros de Saúde, consoante o local de trabalho
de cada um.
Também
é importante dizer que, se um dia tivesse a necessidade, por motivos
particulares, de sair meia ou uma hora mais cedo, pedia ao colega que me
substituísse mais cedo, pois abandonar os doentes, nunca.
Agora,
os senhores decidem lutar contra o governo – do qual não sou adepto, pelo
contrário, porque aumenta de 35 para 40 horas semanais o horário de trabalho,
cinco horas que não serão remuneradas. Mas, em contrapartida, ficaram muito
satisfeitos quando o horário de trabalho baixou de 42 horas par as 40 e depois as
35 horas semanais, sem perda de vencimento.
É
preciso ser-se racional. Respeito o princípio pelo respeito de quem trabalha,
mas convenhamos que em relação à meia hora a mais por dia, nada tenho a opor,
pelo contrário. E se os médicos e os enfermeiros podem acumular serviços
noutros locais, clínicas ou hospitais privados, bem que podem dar mais meia
hora de serviço em prol dos doentes.
Sobre
outros sectores, siga-se o mesmo princípio e acabemos de uma vez por todas com
estas guerrilhas sem qualquer nexo. Lute-se contra os cortes nos salários e nas
pensões, lute-se contra as agressões aos deficientes, lute-se com a dignidade
de que o governo nos pretende privar, mas saiba-se ceder no que se deve.
Saiba
dizer-se não!, a toda a indigência que actualmente preside no país!!!
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