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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

«O APELO DE UMA MÃE»

«Nasci de uma família rica atormentada por demónios escondidos durante gerações nos recantos da nossa árvore genealógica, A minha infância foi, sob todos os aspectos, um constante horror. Antes dos meus 2 anos, a minha mãe morreu vítima de um aborto a que foi forçada pelo meu pai.

Fomos viver com a minha avó paterna, mulher rígida e farisaica, considerada um pilr da comunidade e da igreja. Todas as minhas recordações da infância estão ligadas a um terror imenso do meu pai, que me batia praticamente todos os dias com um cinto de couro, perante a aprovação da minha avó. Outras vezes castigava-me fechando-me num quarto escuro.

Imagens desse tempo de horror ainda hoje me inquietam o espírito.

Uma das mais terríveis era uma “habilidade de salão” que meu pai gostava de fazer: pegava em mim, segurava-me bem em cima dos seus ombros e, rindo-se muito, dançava pela sala. Depois, atravessava uma porta de propósito para que eu batesse com a cabeça na parede por cima da porta.

Tinha uns 6 anos quando meu pai me levou para a sua cama. Além da violação, as práticas sexuais com que abusava de mim são incontáveis. Não sei como sobrevivi fisicamente. Ainda hoje, o mau cheiro do meu pai continua a atormentar o meu espírito.»

‘O pai morreu quando ela tinha 7 anos. Durante. Durante os seis anos seguintes, viveu com a avó, que continuou a bater-lhe brutalmente. Ela tina a certeza de que ela batera no pai com igual violência.’

«Pouco depois de acabar o liceu, apaixonei-me por um belo veterano da marinha que conhecera na nossa igreja. Era um homem muito tímido e delicado, qualidades par mim  tão raras que, quando me pediu em casamento, senti uma enorme alegria.

Quando casámos, eu confiava plenamente que o nosso amor permitiria construir uma família saudável, apesar das carências e da minha infância. Estava ansiosa por ter filhos porque tinha muita sede de os amar e ser amada por eles. Não sabia que estava marcada por um germe de violência tão devastador e inevitável como um doença genética.

Maltratei os meus filhos quase desde o princípio – gritando com os mais novos e batendo nos mais velhos com um cinto de couro (nunca lhes batia na presença do meu marido, pois ele encontrava-se quase sempre em viagens de negócios). Maltratava o mor-próprio dos meus filhos como maltratava os seus corpos – sob muitos aspectos, esses ferimentos eram talvez piores que os físicos.

O meu filho mais velho tornou-se o meu alvo principal. Enquanto lhe batia furiosamente nos braços e nas costas, segurava-o por um braço para o impedir de fugir. Ele fixava-me directamente nos olhos com um ar firme e calmo que instantaneamente me catapultava ás cenas sombrias da minha infância – e eu chicoteava-o com mais força. Acabava tudo numa mortificação crescente até o chicote vencer o seu orgulho e os seus olhos se toldarem de dor e medo.

Foi  irmã mis velha que lhe deu uma réstia de esperança. Sabíamos havia muito tempo que ele era dotado de extraordinária resistência e coordenação, e a irm~levou-o par as suas aulas de bailado quando ele tinha 10 anos. Já tenho pensado que ela pretendia pô-lo a salvo de mim.

À medida que progredia nas escolas de dança com desempenhos brilhantes e aclamados pelos seus professores, o meu filho ia alimentando hábitos toxicofílicos: bebia muitíssimo e consumia drogas. Contou certa vez a um entrevistador: “consigo bons desempenhos e a seguir castigo-me com drogas, tentando destruir-me a mim próprio.” Este sentimento de fracasso, de falta de auto-estima, foi o temível legado que deixei a meu filho.

Quanto mais brilhante se tornava a carreira de bailarino, mais ele abusava da cocaína e do álcool. Pouco tempo depois de mais uma tentativa de desintoxicação, a noiva encontrou-o morto por overdose. Tinha apenas 30 anos.

Quando recebi esta triste notícia, fiquei doente com os remorsos. Era para mim dolorosamente claro que fora eu a culpada do seu trágico fim. Nesta altura, um tratamento psiquiátrico tinha-me já feito compreender o mal que fizera aos meus próprios filhos – e porquê. Mas era demasiado tarde para voltar atrás. Tinha tirado a meu filho tudo o que ele necessitava para vencer na vida.»

‘Para uma pessoa normal, é quase impossível compreender como é que uma mãe consegue maltratar um filho.

Não acredito que nenhum simples mortal, sem ajuda, tenha força para sair deste ciclo de horror; a minha esperança é que ninguém mais tenha de suportar o dilacerante sofrimento que foi a vida daquela mulher e de seu filho.


E que ninguém tenha dúvidas de que esta caso é totalmente verídico.

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