«Nasci de uma família rica atormentada por
demónios escondidos durante gerações nos recantos da nossa árvore genealógica,
A minha infância foi, sob todos os aspectos, um constante horror. Antes dos
meus 2 anos, a minha mãe morreu vítima de um aborto a que foi forçada pelo meu
pai.
Fomos viver com a minha avó paterna, mulher
rígida e farisaica, considerada um pilr da comunidade e da igreja. Todas as
minhas recordações da infância estão ligadas a um terror imenso do meu pai, que
me batia praticamente todos os dias com um cinto de couro, perante a aprovação
da minha avó. Outras vezes castigava-me fechando-me num quarto escuro.
Imagens desse tempo de horror ainda hoje me
inquietam o espírito.
Uma das mais terríveis era uma “habilidade de
salão” que meu pai gostava de fazer: pegava em mim, segurava-me bem em cima dos
seus ombros e, rindo-se muito, dançava pela sala. Depois, atravessava uma porta
de propósito para que eu batesse com a cabeça na parede por cima da porta.
Tinha uns 6 anos quando meu pai me levou para
a sua cama. Além da violação, as práticas sexuais com que abusava de mim são
incontáveis. Não sei como sobrevivi fisicamente. Ainda hoje, o mau cheiro do
meu pai continua a atormentar o meu espírito.»
‘O pai morreu quando ela tinha 7 anos.
Durante. Durante os seis anos seguintes, viveu com a avó, que continuou a
bater-lhe brutalmente. Ela tina a certeza de que ela batera no pai com igual
violência.’
«Pouco depois de acabar o liceu, apaixonei-me
por um belo veterano da marinha que conhecera na nossa igreja. Era um homem
muito tímido e delicado, qualidades par mim
tão raras que, quando me pediu em casamento, senti uma enorme alegria.
Quando casámos, eu confiava plenamente que o
nosso amor permitiria construir uma família saudável, apesar das carências e da
minha infância. Estava ansiosa por ter filhos porque tinha muita sede de os
amar e ser amada por eles. Não sabia que estava marcada por um germe de
violência tão devastador e inevitável como um doença genética.
Maltratei os meus filhos quase desde o
princípio – gritando com os mais novos e batendo nos mais velhos com um cinto
de couro (nunca lhes batia na presença do meu marido, pois ele encontrava-se
quase sempre em viagens de negócios). Maltratava o mor-próprio dos meus filhos
como maltratava os seus corpos – sob muitos aspectos, esses ferimentos eram
talvez piores que os físicos.
O meu filho mais velho tornou-se o meu alvo
principal. Enquanto lhe batia furiosamente nos braços e nas costas, segurava-o
por um braço para o impedir de fugir. Ele fixava-me directamente nos olhos com
um ar firme e calmo que instantaneamente me catapultava ás cenas sombrias da
minha infância – e eu chicoteava-o com mais força. Acabava tudo numa
mortificação crescente até o chicote vencer o seu orgulho e os seus olhos se
toldarem de dor e medo.
Foi
irmã mis velha que lhe deu uma réstia de esperança. Sabíamos havia muito
tempo que ele era dotado de extraordinária resistência e coordenação, e a
irm~levou-o par as suas aulas de bailado quando ele tinha 10 anos. Já tenho
pensado que ela pretendia pô-lo a salvo de mim.
À medida que progredia nas escolas de dança
com desempenhos brilhantes e aclamados pelos seus professores, o meu filho ia
alimentando hábitos toxicofílicos: bebia muitíssimo e consumia drogas. Contou
certa vez a um entrevistador: “consigo bons desempenhos e a seguir castigo-me
com drogas, tentando destruir-me a mim próprio.” Este sentimento de fracasso,
de falta de auto-estima, foi o temível legado que deixei a meu filho.
Quanto mais brilhante se tornava a carreira
de bailarino, mais ele abusava da cocaína e do álcool. Pouco tempo depois de
mais uma tentativa de desintoxicação, a noiva encontrou-o morto por overdose.
Tinha apenas 30 anos.
Quando recebi esta triste notícia, fiquei
doente com os remorsos. Era para mim dolorosamente claro que fora eu a culpada
do seu trágico fim. Nesta altura, um tratamento psiquiátrico tinha-me já feito
compreender o mal que fizera aos meus próprios filhos – e porquê. Mas era
demasiado tarde para voltar atrás. Tinha tirado a meu filho tudo o que ele
necessitava para vencer na vida.»
‘Para uma pessoa normal, é quase impossível
compreender como é que uma mãe consegue maltratar um filho.
Não acredito que nenhum simples mortal, sem
ajuda, tenha força para sair deste ciclo de horror; a minha esperança é que
ninguém mais tenha de suportar o dilacerante sofrimento que foi a vida daquela
mulher e de seu filho.
E que ninguém tenha dúvidas de que esta caso
é totalmente verídico.
Sem comentários:
Enviar um comentário