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domingo, 4 de agosto de 2013

«A FALTA DE VITALIDADE LUSITANA»

“Entre a vida e a morte, encontrarão sempre espaço bastante para escamotear uma e outra, para evitar viver, e que se viva, para evitar morrer. Vítimas de uma catalepsia lúcida, sonhando com um status quo eterno, como reagiriam contra a obscuridade que as assedia, contra o avanço de civilizações opacas?”

Se queremos saber o que foi um povo e porque se tornou indigno do seu passado, basta-nos examinar s figuras que mais o marcaram.

O que foi Portugal, dizem-no bem os retratos dos seus grandes homens. Como é impressionante contemplar essas cabeças viris, por vezes delicadas, o mais das vezes monstruosas, a energia que irradiam, a originalidade das fisionomias, a arrogância e a firmeza dos olhares!

Depois, pensando na timidez, no bom senso, na “correcção” dos portugueses de hoje, compreendemos porque é que já não sabem representar Gil Vicente, porque é que o tornaram insípido e o castram.

Estão tão distantes dele como de Ésquilo deviam estar os gregos tardios.

Já nada têm de “isabelino”: aplicam o que lhes resta de “carácter” a salvar as aparências, a manter a fachada. Pag-se sempre caro ter-se levado a sério a “civilização”, tê-la assimilado em excesso.

Quem contribuiu para a formação de um império? Os aventureiros, as feras, os canalhas, todos os que não têm o preconceito do “homem”.

Ao sair da Idade Média, Portugal, transbordante de vida, era triste e feroz: nenhuma preocupação com a honorabilidade vinha contrariar o seu desejo de expansão.

Emanava dela essa melancolia da força tão característica das personagens vicentinas.

Os seus escrúpulos? Cria-os num deboche de energia, pelo gosto do sucesso, pela tensão de uma vontade inesgotavelmente doente.

Ninguém foi mais liberal, mais generoso para com os seus próprios tormentos, ninguém os prodigalizou tanto. Luxuriantes ansiedades!

Como se elevariam até elas os actuais portugueses? De resto, não pretendem de maneira alguma fazê-lo. O seu ideal é o homem como deve ser: aproximam-se dele perigosamente. É quase a única nação que, num universo em desalinho, se obstina ainda em pretender ter estilo.

A ausência de vulgaridade assume em Portugal uma dimensão alarmante: ser-se impessoal constitui um imperativo, fazer bocejar os outros, uma lei.

À força de distinção e de sensaboria, o português torna-se cada vez mais impenetrável e desconcerta, pelo mistério que lhe atribui, desprezando a evidência.


Será necessário compreender que Portugal só saiu da Idade Média em Abril de 1974 e, ao que parece,  ela está a pretender – através dos seus actuais governantes – regressar. 

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