Se nesta Velha Lusitânia ainda não se tinham
resolvido, nem de longe, os problemas, depois de determinado discurso, os
problemas aprofundaram-se.
É evidente, com efeito, que não se pode
impedir toda a leitura romanesca, nem proibir não importa que “filme”. Nada
seria tão louco, porque há faíscas mais perigosas que a própria chama.
Não é recusando qualquer alimento à
imaginação e à sensibilidade de certos políticos que elas serão formadas. Ao
contrário, essa é a maneira de as deformar e, coisa curiosa, de deformá-las
exasperando-as de forma diferente.
A excitação que lhe é recusada, o político
procurá-la-á noutro lado. Talvez não saibamos de nada. E, nesse caso, até
poderemos ficar tranquilos. Mas não se deve esquecer que se está a passar ao lado
de dramas, cuja chave não se possui.
Que se deve fazer? Caso difícil… A dosagem
específica que cada individualidade reclama é problema de tentativas.
Compreender-se-á, por conseguinte, que não se
possa apresentar senão princípios gerais, desejando que cada qual os aplique com
sabedoria e discernimento.
Inicialmente, o cidadão pode bem notar o
aspecto propriamente moral do problema, por estranho que isso possa parecer, é
secundário. Já alguém viu algum político preocupar-se com a moralidade dos seus
ditos e dos seus feitos?
De facto, assistimos hoje um romance e a um filme que incitam ao mal e
que perturbam o mecanismo psicológico dos assistentes, nós.
O que é necessário prevenir, é essa
perturbação e a incitação ao mal, isto é, a conivência com a tentação não mais
existirá ou, pelo menos, os seus efeitos serão amortecidos.
Mas, apesar de tudo o que tem sido dito
nestes últimos dias, continua-se a assistir à arrogância destilada pelos que
detêm a maioria e se imaginam os proprietários legais e únicos do país e seu
povo.
Fala-se de demagogia e de irresponsabilidade,
como se poderia falar de carrascos ou vilões, de tal modo que dá impressão de estarmos a assistir a um filme
que pode causar um desencaminhamento psicológico tal que, até o político no uso
da palavra duvida do que ouve de si próprio.
Abusou-se muito desse género de filmes entre
nós e nos últimos dois anos, não sendo, portanto, estranho que experimentemos a
sua repercussão a propósito de assuntos completamente diferentes.
Nada pode enfraquecer a força de resistência,
que é a melhor protecção contra a tentação. Sim, seguramente.
Como diz o velho ditado: “Quem comeu a carne,
que roa agora os ossos”, e todos sabemos que em demasiados casos foram muitos
os que nem ossos tiveram para roer, devido a toda austeridade abusiva imposta aos cidadãos.
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