Jornais europeus sublinham recusa do Presidente da República em
convocar eleições antecipadas, bem como o pedido feito aos principais partidos
para que se unam em torno de um "compromisso patrótico". Na sua
maioria, entendem que Cavaco continua a apoiar a coligação PSD/CDS.
Salvação nacional e unidade: foram estas as palavras que ecoaram
na imprensa estrangeira após a comunicação do Presidente da República ao país,
na quarta-feira à noite. Os jornais destacam a recusa de Cavaco Silva em
convocar já eleições antecipadas e o apelo ao acordo entre PSD, CDS e PS. E
embora não arrisquem grandes interpretações sobre o discurso, vários jornais
consideram que o Presidente mantém o apoio à coligação de centro-direita e deu
carta-branca à solução proposta pelo Governo. Outros preferem sublinhar que
este está a prazo.
O diário
espanhol El País começa por descrever Cavaco Silva como
“um agente activo embora silencioso na crise política que o país tem vivido e
na sua solução”. Sobre o discurso de cerca de 20 minutos transmitido na
televisão, destaca que o Presidente não considera “oportuno” a realização de
eleições antecipadas como pediram os partidos da oposição. Lembrando que Cavaco
Silva pode dissolver o Parlamento – mas preferiu não o fazer, pelo menos para
já –, sublinha que este deixou claro que a única forma de garantir a
estabilidade de que o país necessita é “alcançar um compromisso de salvação
nacional” de médio prazo entre os partidos no Governo, PSD e CDS, e o maior
partido da oposição, PS.
O jornal espanhol titula que “O
Presidente português pede um ‘compromisso de salvação nacional’”, mas antevê
que este “será difícil de alcançar” tendo em conta a resposta dos socialistas,
que recusam participar no Governo sem que haja primeiro eleições.
“Aparentemente, as pontes estão cortadas”, observa o diário na sua edição
online, onde a notícia não tem grande destaque.
Também o El
Mundo sublinha que
Cavaco Silva “pôs um prazo ao actual Governo de coligação conservadora” até
Junho de 2014, data em que está prevista a saída da troika de Portugal. O diário espanhol
interpreta a proposta de “compromisso de salvação nacional” feita por Cavaco
Silva como um pedido aos sociais-democratas, centristas e socialistas que
“deixem os seus interesses partidários de lado e assumam um ‘compromisso
patriótico’ para cumprir os compromissos assumidos por Portugal e permitir o
regresso aos mercados”.
O jornal considera que Cavaco “deu
a sua aprovação a esta solução política mas deixou claro que o actual Governo
continua porque realizar eleições antecipadas seria mais prejudicial” para o
país. Isto porque, como explicou Cavaco Silva, se houvesse eleições em Setembro
o orçamento para 2014 não entraria em vigor antes de Março do próximo ano, o
que seria insustentável perante a actual conjuntura económica.
Europa
"nervosa" com a crise política portuguesa
Em França, o Le Monde destaca na sua edição online o apoio dado por Cavaco Silva à coligação “para pôr fim à grave crise política que destabilizou o Governo e inquietou os parceiros europeus” de Portugal. O diário relembra os episódios que levaram a essa crise: a demissão de Portas, que “destabilizou o Governo e suscitou receios na Europa de que Portugal siga um caminho semelhante ao da Grécia”. Portas “bateu com a porta”, escreve o Le Monde, em desacordo com a nomeação de Maria Luís Albuquerque para substituir Vitor Gaspar, “o grande arquitecto do rigor”, no Ministério das Finanças.
Em França, o Le Monde destaca na sua edição online o apoio dado por Cavaco Silva à coligação “para pôr fim à grave crise política que destabilizou o Governo e inquietou os parceiros europeus” de Portugal. O diário relembra os episódios que levaram a essa crise: a demissão de Portas, que “destabilizou o Governo e suscitou receios na Europa de que Portugal siga um caminho semelhante ao da Grécia”. Portas “bateu com a porta”, escreve o Le Monde, em desacordo com a nomeação de Maria Luís Albuquerque para substituir Vitor Gaspar, “o grande arquitecto do rigor”, no Ministério das Finanças.
A revista alemã Der Spiegel também não
deixou passar em branco o discurso do Presidente da República português. Diz,
em título, que Cavaco “apela aos partidos para a unidade”. E escreve, logo no
início da notícia, que “a crise do Governo em Portugal está a deixar a Europa
nervosa”. Na sua edição online, nota ainda que Cavaco Silva rejeitou convocar
eleições antecipadas porque estas poderiam enfraquecer a confiança no país e
comprometer os progressos conseguidos ao longo do programa de ajustamento.
No site da BBC, o discurso de
Cavaco não merece destaque de primeira página mas é a segunda notícia mais
importante relativa à Europa – a seguir à demissão do primeiro-ministro do
Luxemburgo, Jean-Claude Juncker. Com o título “Presidente de Portugal Cavaco
Silva rejeita eleições antecipadas”, a cadeia televisiva britância escreve que
Cavaco “aprovou uma remodelação da coligação”, citando o discurso do
Presidente. “O actual Governo tem toda a autoridade para exercer as suas
funções”, disse Cavaco.
Relembrando que Portugal
“mergulhou na crise política quando os ministros das Finanças e dos Negócios
Estrangeiros se demitiram na semana passada”, a BBC observa que Cavaco Silva
pediu aos principais partidos que cheguem a um compromisso para evitar que o
país seja submetido a um segundo resgate internacional.
A cadeia britânica salienta que
Cavaco instou os partidos da coligação a “porem de lado as suas diferenças e a
chegarem a um acordo alargado com a oposição socialista” para a realização de
eleições apenas após a saída da troika. E lembra os números
que espelham a crise portuguesa: o do desemprego, que está nos 17,5%, com
“milhares de licenciados a procurar trabalho no estrangeiro”, e a contracção da
economia em 2,3% estimada para este ano.
Silêncio de
Cavaco sobre remodelação gera dúvidas
Na imprensa económica, o Financial Times sublinha que o Presidente português pediu um acordo de “salvação nacional” entre a coligação e o principal partido da oposição até à realização de eleições antecipadas em Junho de 2014. “O apelo de Aníbal Cavaco Silva a um compromisso patriótico para um acordo entre os partidos destina-se a garantir a estabilidade após uma crise do governo desencadeada pela demissão de dois ministros. Mas os analistas avisam que isso [o acordo] pode causar grande incerteza”, escreve o jornal.
Na imprensa económica, o Financial Times sublinha que o Presidente português pediu um acordo de “salvação nacional” entre a coligação e o principal partido da oposição até à realização de eleições antecipadas em Junho de 2014. “O apelo de Aníbal Cavaco Silva a um compromisso patriótico para um acordo entre os partidos destina-se a garantir a estabilidade após uma crise do governo desencadeada pela demissão de dois ministros. Mas os analistas avisam que isso [o acordo] pode causar grande incerteza”, escreve o jornal.
Segundo o Financial Times, esperava-se de Cavaco Silva uma
aprovação da remodelação proposta pelo primeiro-ministro Passos Coelho, numa
tentativa de evitar eleições antecipadas e “curar” a ferida aberta entre os
dois partidos da coligação. “Em vez disso, pediu aos dois partidos no Governo e
aos socialistas de centro-esquerda (PS), o maior partido da oposição, que
elaborem um ‘acordo de médio prazo’ para garantir ‘a governabilidade do país, a
sustentabilidade da dívida pública e o controlo das contas externas’”, escreve
o económico. Sublinha ainda que embora tenha recusado convocar eleições antecipadas,
deixou claro que estas vão realizar-se em Junho de 2014, um ano antes do
previsto.
O jornal nota que apesar de Cavaco
Silva ter dito que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas continua com
plenos poderes, os comentadores políticos acreditam que o silêncio do
Presidente sobre a proposta de remodelação apresentada pelo primeiro-ministro
foi um sinal de aprovação, e não o contrário.
=Público=
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