Ferro Rodrigues acusou hoje o Presidente da República de tentar
"pôr o PS entre a espada e a parede".
Em declarações à agência Lusa, após a
comunicação ao país de Cavaco Silva, Ferro Rodrigues apontou que "no
décimo dia de uma grave crise política criada pelas divergências entre os
chefes dos partidos da coligação de direita [Pedro Passos Coelho e Paulo
Portas] o Presidente da República acrescentou confusão à confusão".
"É
compreensível que o Presidente da República não tenha pretendido carimbar por
baixo e apoiar a solução governativa que, com pompa e circunstância, lhe tinha
sido apresentada ao país uns dias antes pelos líderes do PSD e do CDS-PP e é
também aceitável que o Presidente da República levante dificuldades à
realização de eleições antecipadas brevemente, mas já não é compreensível nem
aceitável que pretenda trocar a realização de eleições daqui a um ano e três
meses por um compromisso do PS com as políticas de austeridade que levaram o
país ao desastre económico, social e político", sustentou o ex-líder
socialista.
Para Ferro
Rodrigues, com a sua declaração ao país, o chefe de Estado tentou "pôr o
PS entre a espada e a parede, o que é inaceitável".
"O
Presidente da República acabou por transformar uma crise política que já era
grave numa crise política gravíssima, gerando uma situação dramática. Todos os
partidos foram colocados numa situação insustentável: Os partidos que não foram
citados [para o acordo de médio prazo] e que têm representação parlamentar [PCP
e Bloco de Esquerda]; os partidos da coligação governamental PSD/CDS, que viram
rasgada a sua proposta; e o PS que é alvo deste tipo de pressões", disse.
O deputado
socialista e ex-secretário-geral do PS considerou mesmo que a atual situação é
de enorme gravidade "para o próprio Presidente da República e para as
instituições democráticas, porque a solução que apontou, sem eleições, não tem
pernas para andar".
"Há
muito tempo que defendo que deveria haver um Governo muito amplo,
inclusivamente mais amplo do que o proposto pelo Presidente da República, mas
só há condições políticas para a formação desse executivo após a realização de
eleições e não antes. Neste momento, dois anos depois, seria impensável que o
PS viesse dar cobertura a políticas gravosas dos pontos de vista político, social
e económico e que não conseguem quaisquer resultados para Portugal",
advertiu Ferro Rodrigues.
Neste
contexto, o ex-líder do PS e ex-ministro dos governos de António Guterres
deixou um apelo a Cavaco Silva: "Não prolongue este estertor, porque não é
verdade que este Governo esteja com toda a sua legitimidade - e isso só é
verdade formalmente".
"Do
ponto de vista político, com o ministro Álvaro [Santos Pereira] na Economia,
com [Paulo] Portas a ministro dos Negócios Estrangeiros, estamos perante um
Governo morto. Estar a prolongar esta situação de estertor é mau para o país, é
mau para o Governo, é mau para a oposição e é mau para as instituições
democráticas e para o Presidente da República", defendeu.
Ferro
Rodrigues afirmou mesmo acreditar que, se Cavaco Silva não retirar rapidamente
a sua proposta de acordo de médio prazo de salvação nacional, "será
forçado a recuar de uma forma desorganizada".
"Ou o
Presidente da República marcará eleições mais cedo do que quer, ou acabará por
dar posse a um Governo PSD/CDS em condições de maior enfraquecimento, ou
tentará construir um Governo intermédio de iniciativa presidencial, que não
terá condições políticas nem mesmo para uma aprovação no parlamento, quanto
mais para levar á prática medidas gravosas para os portugueses",
acrescentou.
=Económico=
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