Será que aqueles que me acompanham na idade e
na maneira de pensar se recordam como era a vida no país antes da Revolução dos
Cravos? Será que ainda se recordam de certas passagens da nossa história,
sobretudo aquela em que havia homens de palavra, em que para eles valia mais a
honra que mil honrarias?
Estou certo que sim, porque os homens e as
mulheres do meu país não se esqueceram de continuar a lutar pela dignidade da
sua vida e do seu ser. E, tal como eu, sabem da existência de um cego e surdo,
mudo quando lhe convém que geralmente se encontra ali para os lados de Belém…
Dizem que Portugal se transformou a partir de
Abril 1974 e, desde a minha modesta opinião, concordo com quem faz tais
afirmações, uma vez que são de tal modo grandes – as transformações – que o país
se tornou quase irreconhecível.
Enquanto antigamente um aperto de mão valia
mais que mil assinaturas, hoje, tornou-se tão banal que nada vale para alguns,
especialmente se valores mais altos se levantam para eles.
Dos lados de S. Bento, as coisas também se
transformaram e transfiguraram de tal modo, que já ninguém sabe que dizer,
sabendo, todavia, que fazer, mas que se sentem “peados” pelos altos poderes da
Nação, que defendem apenas os seus interesses,
quando deveriam defender os interesses nacionais.
Coisa curiosa, também, é o uso de termos cujo
significado parece desconhecerem, como esse “irrevogável” que alguém pronunciou
em relação uma sua decisão que, então,
deveria impedi-lo de dar o dito por não dito, já que “irrevogável” significa ”que
não se pode fazer voltar atrás, irreversível reacção que prossegue até ao fim e
que não é limitada pela reacção inversa,
que não pode seguir senão numa única direcção, como a marcha histórica,
irremissível”, mas que, segundo parece acaba por conseguir um novo significado:
“dá-me o que pretendo e a irrevogabilidade termina por aqui”!
Mas há muito mais no que respeita aos valores
que cada um defende – cada um desse mundo “obseceno” que é o da política
nacional.
Do alto dos seus “tronos” olha-se vagamente
para a nação reunida, e nada se vê. Olha-se para as ruas plenas de gente que
clama pelos seus direitos, nada se ouve. Mas, também nada se diz, fazendo
lembrar aquele paranoide imperador romano, Nero, quando mandou incendiar Roma,
para depois culpar os cristãos que começavam a emergir na sociedade milenar
romana.
E, se Nero via no cristianismo uma forte
ameaça para a continuidade do Império, também hoje em Belém e em S. Bento se vê
nas ameaças vindas das ruas das cidades portuguesas uma ameaça para os desejos
e anseios de alguns, sobretudo aquele que preconizava há muito – “um governo e
um presidente” - tudo fazendo para
evitar devolver a palavra ao povo português, que certamente não voltaria a cair
no mesmo erro, votar num e nos outros!
Portanto, como poderemos ter confiança em
quem nos mente descaradamente e tão constantemente como só o sabem fazer
aqueles que acabam de gastar ao erário público a soma de 3,8 mil milhões de
euros em tão poucos dias e graças às suas birras peçonhentas e às suas ideias
megalómanas?
E, se em Roma, na Roma daqueles tempos
imperiais, o Nero teve, como era de esperar um fim trágico, que se poderá
esperar para todos os portugueses que não pertençam a essa burguesia estúpida
que abusa da boa vontade da cidadania nacional?
O calor que se faz sentir em Portugal pode
nada ter a ver com tudo quanto se passa, mas somado ao calor que se vive do
ponto de vista político, transforma o país num autêntico braseiro ao qual é
necessário pôr termo, queiram ou não esses “fantoches” que se divertem à custa
da nossa dignidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário