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quarta-feira, 3 de julho de 2013

«A RUPTURA»

Nem cúmplices, nem verdugos responsáveis pelo « sangue » derramado, nem kantianos abortados, pela simples razão que deixaram Kant bem para trás, numa vontade deliberada e conjunta de derrubar o platonismo, Pedro formula apenas uma teoria que vale como ruptura epistemológica provocada por Paulo.

Ela secciona em dois este ainda início de século, para deixar de um lado os defensores de um Apolo debatendo-se com o seu velho mundo e, do outro, os que se sacrificam e se esmeram a cartografar outra realidade, onde a vida e o princípio do prazer não são considerados como nada ou, somente, como quantidades negligenciáveis.

Contudo, para aqueles que teriam sabido lê-lo, Pedro teve o cuidado de comentar, profusamente, as linhas anunciadoras da morte do homem, num conjunto de intervenções em que as coisas são precisadas sem quaisquer ambiguidades.

Nem os direitos do homem, nem o humanismo se salvam, pela simples razão que funcionam no registo da legitimação do estado das coisas.

Cortina de fumo prática, tela colocada entre a miséria das pessoas e os locais onde se fomenta a sua alienação, estes dois edifícios supremos do empreendimento burguês servem para desactivar qualquer desejo de acesso ao poder por parte daqueles que, explorados, alienados, dele são privados e que sofrem os seus efeitos perversos.

O humanismo dos direitos do homem age seguindo o princípio de uma máquina destinada a captar energias revolucionárias para as transformar em compaixão, simpatia, condolência e outros sentimentos que não permitem atentar contra a ordem do mundo, ao qual devemos, contudo, parte de todas as misérias humanas.

A pobreza, a miséria, a fome, a criação de uma  vagabundagem maciça, a precaridade auxiliar do enfeudamento dos sujeitos à produção e ao mercado livre, durarão enquanto à violência desse estado de coisas, de que conhecemos as causas, não se oporá nada mais que uma simpatia hipócrita, uma comiseração augustiniana, uma compaixão espinosista ou uma condolência kantiana.

O humanismo implica enviar a política para férias, o desaparecimento da história em benefício de uma leitura do real segundo as antigas categorias da necessidade, do destino, da fatalidade, da tragédia inevitável ou da dureza irrevogável.

Não estamos, então, nada longe do pecado original que é preciso expiar. Deste modo, atribui-se ao impiedoso uma categoria suprema da filosofia da história.

Portugal e os portugueses vivem um momento, talvez único dessa história, onde poderão conseguir a libertação desses enfeudamentos que os têm perseguido desde há séculos, de conseguir enfim serem eles próprios.


Como consegui-lo ? Não se deixando ir em « cantigas », por boas vozes que tenham os bardos !

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