Trata-se, como é evidente, do financiamento
privado!
Como é uma democracia em que os candidatos
concorrem de forma desigual? Em que uns conseguem ocupar incontáveis espaços de
propaganda, enquanto outros não conseguem sequer informar que são candidatos?
A Assembleia da República deveria ser o
espelho da sociedade. Enquanto os governos reflectem as maiorias, os
parlamentos deveriam representar todos os sectores da sociedade na sua devida
medida.
Não é o que acontece e isso corrompe a
democracia. Os lobbies povoam a AR, na medida dos recursos milionários com que
fizeram as suas campanhas.
Basta mencionar que o agro-negócio tem uma
imensa bancada, enquanto há apenas dois ou três representantes dos
trabalhadores (comparativamente). Olhemos para a estrutura rural para ver
quantos são os trabalhadores e quantos são os proprietários rurais, par nos
darmos conta do falseamento da representação parlamentar.
Entre a sociedade realmente existente e a sua
representação parlamentar, interpõe-se o dinheiro e todo o seu poder, com todas
as desigualdades económicas da sociedade nacional, que se reflecte na enorme
diferença entre a capacidade dos ricos e dos pobres em estarem ali
representados.
Se a isso somarmos o monopólio privado da
média – ele também reflexo da desigualdade económica – completamos um quadro
de concorrência absolutamente desleal e desigual nas eleições que escolhem os
que deveriam ser os fiéis representantes da sociedade.
A AR representa, assim, uma minoria, porque
um parte importante dos parlamentares se elege e reelege baseada no poder do
dinheiro, na riqueza das campanhas, na propriedade e na presença nos meios
privados de comunicação.
O princípio mais geral da democracia é: “uma
pessoa, um voto”. Mas esse princípio é desvirtuado pelo poder, totalmente
desproporcional, da influência que o dinheiro permite a uns sobre os outros.
Basta constatar que o rendimento médio dos parlamentares é incomensuravelmente
maior do que o da média dos portugueses.
Um Parlamento que não representa os
portugueses, povoado de lobbies, facilita o trabalho de que estão sempre
empenhados em desmoralizar a política, os partidos, os governos, o Estado, em
favor da centralidade do mercado.
Assim, o financiamento privado sabota a
democracia, enfraquecendo-, e contribui para a sua desmoralização.
Os que estão a favor da continuidade do
financiamento privado priveligiam o poder do dinheiro, o domínio da riqueza
sobre a democracia, sobre a concorrência livre entre cidadãos. Democratizar é
desmercantilizar, é debilitar o poder do dinheiro sobre o sistema político.
O financiamento público de campanhas não
basta para garantir o bloqueio do poder do dinheiro, mas é condição para que se
regulamente essa forma de sabotar
democracia. O financiamento privado é uma forma segura de impor o poder
do dinheiro sobre as campanhas e sobre as representações parlamentares.
Porque não querem, neste momento, que haja
eleições antecipadas? Pense-se apenas que ainda não houve tempo de convencer os
financiadores e que é, também por esse motivo, que se pretende impor o CDS no
seio do governo.
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