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sexta-feira, 5 de julho de 2013

«A MELHOR DEMOCRACIA É A QUE SE PODE COMPRAR»

Trata-se, como é evidente, do financiamento privado!

Como é uma democracia em que os candidatos concorrem de forma desigual? Em que uns conseguem ocupar incontáveis espaços de propaganda, enquanto outros não conseguem sequer informar que são candidatos?

A Assembleia da República deveria ser o espelho da sociedade. Enquanto os governos reflectem as maiorias, os parlamentos deveriam representar todos os sectores da sociedade na sua devida medida.

Não é o que acontece e isso corrompe a democracia. Os lobbies povoam a AR, na medida dos recursos milionários com que fizeram as suas campanhas.

Basta mencionar que o agro-negócio tem uma imensa bancada, enquanto há apenas dois ou três representantes dos trabalhadores (comparativamente). Olhemos para a estrutura rural para ver quantos são os trabalhadores e quantos são os proprietários rurais, par nos darmos conta do falseamento da representação parlamentar.

Entre a sociedade realmente existente e a sua representação parlamentar, interpõe-se o dinheiro e todo o seu poder, com todas as desigualdades económicas da sociedade nacional, que se reflecte na enorme diferença entre a capacidade dos ricos e dos pobres em estarem ali representados.

Se a isso somarmos o monopólio privado da média – ele também reflexo da desigualdade económica – completamos um quadro de concorrência absolutamente desleal e desigual nas eleições que escolhem os que deveriam ser os fiéis representantes da sociedade.

A AR representa, assim, uma minoria, porque um parte importante dos parlamentares se elege e reelege baseada no poder do dinheiro, na riqueza das campanhas, na propriedade e na presença nos meios privados de comunicação.

O princípio mais geral da democracia é: “uma pessoa, um voto”. Mas esse princípio é desvirtuado pelo poder, totalmente desproporcional, da influência que o dinheiro permite a uns sobre os outros. Basta constatar que o rendimento médio dos parlamentares é incomensuravelmente maior do que o da média dos portugueses.

Um Parlamento que não representa os portugueses, povoado de lobbies, facilita o trabalho de que estão sempre empenhados em desmoralizar a política, os partidos, os governos, o Estado, em favor da centralidade do mercado.

Assim, o financiamento privado sabota a democracia, enfraquecendo-, e contribui para a sua desmoralização.

Os que estão a favor da continuidade do financiamento privado priveligiam o poder do dinheiro, o domínio da riqueza sobre a democracia, sobre a concorrência livre entre cidadãos. Democratizar é desmercantilizar, é debilitar o poder do dinheiro sobre o sistema político.

O financiamento público de campanhas não basta para garantir o bloqueio do poder do dinheiro, mas é condição para que se regulamente essa forma de sabotar  democracia. O financiamento privado é uma forma segura de impor o poder do dinheiro sobre as campanhas e sobre as representações parlamentares.

Porque não querem, neste momento, que haja eleições antecipadas? Pense-se apenas que ainda não houve tempo de convencer os financiadores e que é, também por esse motivo, que se pretende impor o CDS no seio do governo.



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