O esforço que se exige do jovem e depois do
homem, não provém exclusivamente da inteligência, embora, sem dúvida, seja dela
que depende principalmente.
Mas o mental ultrapassa o intelectual, e de
muito. É assim que, por exemplo, se as humanidades preparam o homem, e o homem
integral, exigem singular dose de vontade.
Será de espantar que assim seja, se se lembra
que o esforço exigido é longo, monótono e muito acima daquele que um espírito
mediano pode fornecer? E julga-se que mesmo a vontade baste para isso? Não será
preciso juntar-lhes uma porção de “dons”, de “gostos”, de disposições naturais?
Por exemplo: uma certa seriedade de
espírito,maturidade de julgamento, ponderação.
Analisar em profundidade só está ao alcance de
poucos; perceber as relações das palavras entre si; discernir as relações que
existem entre os membros das frases ou das proposições; perceber o equilíbrio de
uma obra ou de um conjunto de obras – tudo isso supõe uma capacidade de
julgamento acima do comum e disposições bastante raras.
Támbém, observemos que não se trata de pequena
narração, em língua vulgar, de um conto ou de uma fábula, por exemplo, mas de
uma obra-prima do pensamento grego ou romano, em que é preciso, pelo menos,
reconhecer um grande rigor nas ideias e um não sei quê de abrupto a forma.
Só
inteligência não bastará a quem pretende assimilar-se delas. Sem
vontade e sem perseverança jamais o conseguirá.
É por isso, também, que é necessário o “gosto”,uma
certa disposição “artística, uma espécie de emotividade muito especial, uma
acentuada sensibilidade às nuances.
Não adquire isso quem quer. De minha parte,
faço os melhores votos para quem, destituído desses dons, tentasse compreender.
Virgílio e Homero, Cícero e Demóstenes,
Lucrécio e Platão. O que entenderiam disso os espíritos medíocres, se alguma
vez o tentassem?
Julgarão enfadonho e rebarbativo o que excede
o seu esforço, e conhecerão a pior das estagnações: a do seu tédio.
Finalmente, para um bom curso de humanidades
é preciso também memória acima do comum;
memória tenaz para registar o vocabulário e a gramtica de duas línguas
que nunca se usam na vida diária, e cujos elementos não foram aprendidos na pequena
infância. Essas línguas, praticamente, só servem em razão do seu valor
intrínseco de formação e disciplina mentais.
Espíritos,
a “mentalidades” medíocres, La Fontaine, Racine, Molière, Bossuet, Bourdaloue
oferecem dificuldade bastante e suficiente iniciação intelectual. Que somente a
elite pretenda mais!
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