O próprio presidente da República deve, em
determinadas circunstâncias, ter o rasgo pessoal de, ouvido o Conselho de
Estado, dissolver a Assembleia da República e devolver a palavra ao povo
português.
Ora, que o senhor presidente da República
tenha horror a eleições antecipadas, sobretudo tratando-se de um governo da sua
cor, a ele próprio e apenas diz respeito, não devendo manter a confiança
política numa coligação que está mais que podre.
Fala-se hoje das “swaps” como quem fala do
pão que falta às crianças e aos velhos deste país, diz-se ser necessário acabar
com isso, como se falou das fundações e das PPP, mas tudo se mantém
impunemente.
Do modo como está a exercer o seu último
mandato de presidente da República portuguesa, o senhor quase se limita ao
exercício dos seus já famosos “tabus”, a discursar por exemplo na PSP no seu
Dia, colocar uma condecoração na bandeira, ou, então, a promulgar documentos
que teria negado ao anterior governo.
Aliás, o cinismo com o qual anunciou, segundo
o seu pensamento, de que todos os partidos podem apresentar uma moção de
censura na Casa da Democracia Portugesa, sabendo que já foram apresentadas,
demonstra mais que bem qual o verdadeiro sentido pretendido tão cinicamente.
Sabe que, acima de tudo, existe uma coligação
que, apesar de podre, funciona, se bem que mal,
sobretudo quando o perigo da derrocada ronda as hostes dos partidos que
a compõem, o que tem feito com que sejam praticadas políticas erradas e
conducentes à miséria e à fome de milhares de portugueses que, quanto às causas
da actual crise, estão como Pilatos no Credo, sem que isso o incomode
minimamente.
Ainda cinicamente fala dos termos da
Constituição, e de modo algum afirmo que a desconhece, pelo que sou obrigado a
fazer-lhe ver que, “nos termos da Constituição e de defesa dos direitos da
cidadania nacional”, tem a obrigação de tomar a iniciativa, ouvido o Conselho
de Estado, é certo, de dissolver a dita Assembleia da República e convocar
eleições antecipadas, isto é, devolver a palavra ao povo português, o único que
mantém intacta a sua soberania.
Ninguém lhe solicita que olhe para o que se
passa nas ruas das cidades do país, onde também, nos termos da Constituição se
manifesta o povo contra a tirania e a falta
de saber de um governo que, a cada dia que passa, perde a legitimidade de
continuar a sê-lo.
O senhor tem olhos e ouvidos, que vêm e ouvem
o que fazem e dizem as pessoas que desfilam gritando slogans que definem bem a
realidade do que é a vida da sociedade nacional actual. E sabe também que a
culpa da actual crise de modo algum se pode imputar ao povo, a esse povo
martirizado pelas políticas de austeridade postas diariamente em prática.
Se prefere manter o seu cinismo, apelando, no
actual contexto às moções de censura, mesmo sabendo da antecipada derrota
devido à distorção feita pelos deputados, a maioria dos deputados da nação, no
seio dos quais grassa a corrupção segundo dizem alguns professores
universitários, mas que o senhor prefere não dar ouvidos também a esses bons
conhecedores do que realmente se passa, não deverá estranhar nem levar a mal
que haja que peça também a sua demissão, uma vez que em vez de mostrar
toda imparcialidade que deveria guiá-lo
na sua missão.
Por isso, senhor presidente, não estranhe que
também eu diga aqui e agora que se não quer compreender as ansiedades do povo
português, mais que legítimas, e porque não pode ser alvo de qualquer moção de
censura, lhe rogue solenemente que se demita.
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