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sábado, 6 de julho de 2013

«A CULTURA ERUDITA E A CULTURA POPULAR»

Quando se deseja evitar os simples ou os esotéricos, os populistas ou os elitistas, o primeiro excesso consiste em  actuar como émulo de Jean Dubuffet; recusa pura e simples de toda a cultura considerada burguesa.

Ora, este eolgio niilista supõe, a montante, todo o luxo que se pode permitir um conhecedor da dita cultura. Bem se pode lançar pela borda fora todo o saber par outrem, quando ele constituiu uma ocupação para si próprio. Pois a utilização burguesa da cultura está errada, não por se tratar dessa cultura, mas pelo modo como ela é utilizada.

A cultura asfixiante só o é, e só adquire esse estatuto, na condição de se dispor de uma imensa cultura. A sua recusa permanece um gesto cultural, seja o que for que fizermos. Atendendo ao que é privado, este luxo parece um ostentação.

O segundo excesso, depois do esquecimento, consiste em promover e em ensinar o ódio pela cultura, em recusá-la, desprezá-la, desconsiderá-l, até mesmo em redefini-la, no intuito de a fazer coincidir com práticas já factuais.

Os indigentes, os elitistas e os niilistas na matéria, acabam por jogar o mesmo jogo e contribuem para tear as fogueiras onde perecem todas as obras dignas desse nome, deixando o lugar para os dejectos do mercado, longe de qualquer circulação de ideias.

A desconsideração da cultura assinala o triunfo do princípio liberal. Os números indicam a frequentação de museus, as vendas de livros e de discos, a frequentação de exposições ou de concertos, alimentam uma sociologia das práticas culturais úteis pra legitimar a oferta, segundo os princípios de um procura fabricada de alto a baixo. Consome-se cultura, portanto, é-se culto.

Uma estética generalizada reata com o gramscismo, para quem a cultura fornece à resistência e à insubmissão uma arma libertária e não liberticida, libertadora e não liberal.

O cifrão, o número, a quantidade, os princípios e as leis do mercado nunca determinam a qualidade.  Equação liberal não se esconde: a quantidade é igual à qualidade.

Alinhadas a este axioma, s produções conhecem tanto mais a mediatização quanto pouparem cuidadosamente o sistema graças ao qual devem a sua existência.

Uma cultura digna desse nome expõe menos a excelência da regra do jogo liberal do que a opção libertária declinada sob todas as suas costuras.

 Utilização burgesa da cultura supõe o enfeudamento do saber à concorrência, ao consumo, a qualquer empreendimento de distinção social e de agregação de classes.

Supõe um assimilação das obras a bens de consumo culturais com a ajuda dos quais se organizam as afinidades, as relações gregárias e os funcionamentos miméticos que autorizam o reconhecimento do semelhante, quando não a expulsão do que não é frequentável, do indesejável.

Instrumento de dominação liberal, a cultura circula nas redes frequentadas pelas mercadorias e pelos bens de consumo habituais –têxtil ou electrodomésticos, agro-alimentar ou equipamento automóvel.


Por isso se vê tanta patacoada de onde menos se esperaria!

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