A sala das Quatro-Colunas, onde se encontram
os deputados e a imprensa, não viu muitas vezes tantas televisões estrangeiras:
Arábia Saudita, Irão, Tunísia, Colômbia, Grâ-Bretanha, Rússia, China, Japão…
também a portuguesa; todos os olhares pareciam estáticos na Assemblea Nacional
Francesa, onde o primeiro-ministro foi explicar a posição do governo sobre a
questão síria.
Uma hora antes da tomada da palavra pelo PM
Ayrault, os deputados afluiram, como os jornalistas, dando a impressão de que
formaram mais que uma massa, correndo por todos os lados. Nenhum deles,
deputados, fugiu às linhas dos seus partidos, face ao terrível explosivo que é
a Síria, afirmando alguns ser necessário respeitar o direito internacional,
não intervir sem mandato das Nações Unidas.
De todos os lados, porém, surgiam opiniões
graves e diferentes, afirmando uma maioria que se deveria seguir a via
diplomática, até porque se vai causar um mal maior, a guerra e a morte de
crianças inocentes. E, de qualquer modo, não está provado o uso de armas químicas
por parte das forças de Bachar al-Assad.
A comunidade internacional deverá sempre
respeitar as Nações Unidas e suas decisões, o que não acontece mais uma vez,
lançando o descrédito sobre a Instituição internacional. Não existem provas de
que se usaram armas químicas, como s não havia em relação o Iraque, e os países
ocidentais que decidiram atacar a Síria, pretendem apenas provocar mais uma
guerra, não olhando a meios par tingirem os seus fins.
Eis que surge um deputado que afirma que o
presidente François Hollande não poderá manter durante muito tempo as suas
posições, e todos os franceses ficarão numa situação periclitante e muito
perigosa.
Um outro deputado diz não fazer sentido uma
discussão sem voto e que se trata da evolução da democracia, seja ela
parlamentar ou presidencial, como nos Estados Unidos: o voto dá uma
legitimidade à intervenção da França, que não deveria intervir sobretudo após a
experiência no Iraque, onde não havia quaisquer armas químicas, as de
destruição massiva.
Ora, nunca constou que o regime sírio
fabricasse ou importasse armas químicas, pelo contrário, sempre afirmava ser
necessário reiterar o seu não uso. E, de qualquer modo, não haverá uma solução
durável de saída da crise, que não passe pela política diplomática, sendo
necessário implicar todas as partes, Irão, Rússia e China no jogo das
discussões, pois trata-se da estabilidade no Médio Oriente.
Será necessário ver que se não trata de uma
intervenção para estabelecer um regime, para desestabilizar uma região e
substituir uma tirania por outra pior, como já aconteceu recentemente.
No Hemiciclo, após os
fortes aplausos dos deputados socialistas, caiu forte e prolongado silêncio,
esperando pelo discurso de Ayrault. O tom cerimonioso, olhar e atitude grave.
Palavras como “agonia”, “cadáveres de crianças”, “morte silenciosa”, “drama”, “terror”,
encadeiam-se no fluxo que deixa a Assembleia muda… alguns minutos.
Mas, subitamente,
alguém se levanta e evoca a guerra contra o Iraque, gritando que todos os
motivos apresentados se basearam em mentiras e mais mentiras, tal como hoje,
desconfiando-se mesmo de que tudo não passa de um plano traçado pelos
americanos.
São retomados os
murmúrios do costume por parte de socialistas e da UMP, criticando que a
esquerda não ouve a direita, ouvindo sim a extrema-direita, recusando mesmo
ouvir o que diziam, abandonando o hemicíclo, o que aconteceu também quando
tomaram a palavra os comunistas.
Por parte dos
socialistas de Hollande e dos adeptos da UMP só a sua opinião conta, mesmo se a
curto prazo os cidadãos franceses poderão viver graves momentos de terror na
sua própria casa.
L.A.V.
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