“Primeiro símbolo da integridade da Pátria”
Roma não ignorava quão arriscado era sujeitar
ao jugo estranho, o bravo lusitano, e bem avisada andara, ao enviar à Ibéria o
astuto Pretor, a quem, no Capitólio, o austero tribuno Catão incriminara de se
ter servido, para vencer, de caviloso ardil; crime grave de que só se absolveu,
ao declarar a seus julgadores ter sido essa a única maneira de poder triunfar
de tão fero quanto incómodo inimigo.
Diz-se que, havendo esse temido Capitão
negociado, de má fé, uma paz aceitável, com o generoso luso, sob a condição de
o adverso depor as armas, depois de o achar desarmado, ordenado aos trombeteiros
o toque de degolar, sem dó nem piedade, mandou passar a fio de gládio todo o
indefeso exército, deixando, depois, um rasto triste de sangue inocente, de
velhos, mulheres e de crianças, que, pelo caminho fora, ia, maldosamente
trucidando.
Não ficou imune, não! O horrível massacre,
pois logo após, se viu, qual fera embravecida, descer de lá das brenhas dos Hermínios, o forte, o rude Viriato, que, despertado pelos ecos lastimosos de
seus infortunados irmãos, vinha dar o grito de revolta, que fez acorrer a si,
sedentos de vingança, todos os sobreviventes patrícios que, cerrando fileiras,
constituíram a hoste invencível com que defrontou a abominável infâmia.
Aclamado pela sua gente, General, Duce e
chefe, foi Viriato, em marchas célebres, até à bela Carpetónia, hoje a
venerável cidade de Toledo, onde, então, se encontrava o novo Cônsul da Hispânia
Ulterior, Cneyo Cornélio Lentulo, para aí, à vista do principal acampamento da
milícia imperial, na Ibéria, sacrificar em holocausto a Marte, Deus da guerra,
um robusto cavaleiro romano aprisionado por seus soldados, e depois, com a mão
direita bem dentro das ensanguentadas entranhas desse imolado, jurar, firme e
solenemente, jamais abandonar a lança e a adarga, enquanto não fosse liberto o
oprimido povo lusitano.
Cumprida foi a jura! E não tardou que se
visse, em arrancos sucessivos de indómita bravura, esse formidável batalhador
vencer s adestradas legiões de Marco Vitílio, Cayo Pláucio, Cláudio Unimano, Cayo
Nigídio e tantos outros famosos Pretores desbaratados, colhendo, então, os mais
florescentes lauréis da vitória, nos campos gloriosos de Ourique, de Évora, de
Viseu e de mais sítios.
E, se não for a vil conjura de Quinto
Servílio Scipião, traiçoeiro Cônsul, haver conseguido que, peitados por
dinheiro, os pérfidos comandantes dos esquadrões estrangeiros, aliados dos
lusos, Dictalião, Minuro e Aulaces, o tivessem, pela traição, assassinado,
quando, acampado junto da velha cidade de Numância, dormia sono solto, na sua tenda de campanha, não só
ele teria abatido, para sempre, do solo pátrio, as áureas aquilas imperiais, como
haveria feito desfraldar, nos agressivos muros de Roma, as impávidas bandeiras
da Nobre Lusitânia!
De e para que serviram todos os sacrifícios
quer de Viriato quer dos lusitanos, se hoje se vende a Pátria a retalho, não a
Roma ou simplesmente a Bruxelas, Berlim ou Paris.., senão a quem der mais..?
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