Com a experiência que nos vem de desde há
dois anos, conhecemos o arco principal do edifício “foucaultiano” que
apresenta, por um lado, a condenação do humanismo clássico.
Quantos gritos e mal-entendidos, quantos
processos de intenção e erros de interpretação, sobre estas duas questões!
Alguns, na maioria armados em anglo-saxónicos e, entre a parvoíce e a
imbecilidade, a malevolência ou a asneira sem fundo, colocaram em perspectiva
estas duas teses e as misérias do século – fome, miséria, desemprego jovem e
menos jovem, de casais com ou sem filhos…
Ossários, verdadeiros campos de concentração,
condenação do pensamento e pelo pensamento. Fim do sujeito? Morte do homem?
Mas, não houve há relativamente poucos anos a condenação dos regimes
totalitários e a legitimação da flutuação dos integrismos na história?
Nada foi, portanto, poupado àqueles que
armados em filósofos em matéria de leituras sumárias limitadas às revistas
onde, desde há um certo número de anos, acampam as reflexões autorizadas.
Outras críticas, mais finas, dotadas de “melhor
argumentação”, mas tão desejosas quanto as anteriores de arredar tais
pensamentos, fim de instalar os seus
sofás na direcção da história em voga, fustigaram o líder do actual governo de
Portugal acerca desses dois pontos, tratando de demonstrar como, com semelhantes
opções teóricas, não se podia fundar um filosofia política, uma teoria do
direito, ou até uma simples e pura reivindicação metafísica ou ontológica.
Desaparecido o sujeito clássico, não se pode,
evidentemente, nem fundar, nem legitimar, um ideologia apoiada nas religiões dos
direitos do homem e no individualismo liberal. Em compensação, tendo ficado o
lugar bem nítido, pode encarar-se uma nova figura, um novo direito, uma nova
filosofia política e até uma nova intersubjectividade.
Ao libertarem-se das antigas categorias, os
modernos proibiram-se, infalivelmente, de quaisquer possibilidades de construir
uma antiga ordem. Mas que interesse teriam em destruir aqui, para reconstruir a
mesma coisa acolá?
Em vez de perguntarmos a Pedro, se
perguntarmos directamente a Frau Merkel, que jamais se sacrificou à ética
obrigatória da fundação e da legitimação, que, dizem mais respeito aos tópicos
kantianos, recusará responder, pois, na opinião “deles”, a genealogia, que leva
em linha de conta as forças, deve suplantar qualquer construção arquitectónica
da razão pura ou prática.
E é por tal motivo que os nossos mais
proeminentes políticos da actualidade, que todavia nada valem, se têm visto
obrigados a “nadar” durante todo o rigoroso inverno que se viveu e que nunca
souberam explicar aos portugueses as razões de todas as suas ambiguidades,
preferindo soltar núvens, verdadeiras cortinas de fumo, telas colocadas entre a
miséria das pessoas e os locais onde se fomenta a sua alienação, estes dois
edifícios supremos do empreendimento burguês servem para desactivar qualquer
desejo de acesso ao poder por parte daqueles que, explorados, alienados, dele
são privados e que sofrem os seus efeitos perversos.
O humanismo dos direitos do homem age segundo
o princípio de uma máquina destinada a captar energias revolucionárias para as
transformar em compaixão, simpatia, condolência e outros sentimentos que não
permitem atentar contra ordem do mundo,
ao qual devemos, contudo, a genealogia das misérias sujas.
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