Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 13 de junho de 2013

«UM PEDRO À RASCA»

Em sua casa, Pedro conversava com uns amigos quando, subitamente, sentiu umas tremendas cólicas intestinais Levantou-se rapidamente do seu confortável sofá, e quase correu para o quarto de banho.

Lá chegado – o pobre – teve apenas tempo de se sentar para começar a descarregar a tripa. Muito lentamente começou a sentir-se aliviado e, quando se levantava, teve de se sentar de novo, para nova descarga, desta vez acompanhada de determinados sons saídos do intestino delgado.

Mas, as cólicas teimavam em torturar-lhe as entranhas; enquanto desabafava, ia pensando; de tal modo que deu consigo próprio a pensar nos subsídios de Natal dos “chatos funcionários e aposentados”, que deveriam “pagar a ousadia de se terem manifestado e gritado palavras que nunca teria imaginado lhe fossem dirigidas por esses «poltrões»”.

Assim pensando, nem se apercebeu que tinha já terminado a “função”, e ali sentado ficou tanto tempo que alguém bateu porta perguntando se estava tudo bem. Raio  de vida a dele que nem no WC podia estar sossegado.

Mas, como tudo voltou a ficar calmo e sossegado, deu consigo a pensar que aquele lugar era o único no qual podia meditar sem ter de aturar os seus secretários e assessores, os seus motoristas e demais pessoal do ministério.

Entretanto, os minutos passavam rapidamente, sem que se desse conta desse facto e, francamente, gostou de se ver ali sentado sozinho, de poder dar largas a toda a sua vasta imaginação e meditação.

Como estava em casa, permitiu-se ser um tanto invejoso e até cínico, pois tinha descoberto, graças às suas cólicas intestinais ser aquele o local ideal de retiro, apesar de os odores sentidos não fossem exactamente um bálsamo para as suas narinas.

Se descarregasse o autoclismo, todos ouviriam e lá teria ele de abandonar o seu novíssimo paraíso tão recentemente descoberto. Não! Que esperassem mais um bocado, pois dali não sairia ele sem ter chegado a uma conclusão, apesar daquele enfadonho “aroma” que sentia e que considerava impróprio para uma pessoa como ele.

Mas, antes de mais, tratava-se de um lugar calmo e tão sossegado, que lhe permitia pensar como nunca tinha conseguido desde há dois anos, e lamentava-se por nunca se ter apercebido disso mesmo.

Mas, “noblesse oblige”, e decidiu levantar-se, arranjar-se, descarregar o autoclismo e regressar ao convívio com seus amigos, dizendo que lamentava a demora, mas deveria ter comido alguma coisa que lhe tinha dado a volta à tripa, provocando-lhe uma forte soltura, para médicos diarreia e para os pobres caganeira, como também assim era entre amigos, fosse qual fosse o seu nível social.

E lá ficaram os amigos a contar anedotas uns aos outros, todos rindo cada vez mais pois também cada vez eram mais picantes.

Enfim, nem deram conta de o tempo passar e quando o relógio da sala bateu as sete badaladas, olharam-se incrédulos, levantaram-se, tinha chegado a hora de cada um deles regressar a suas casas, excepto o Pedro que estava na sua.

Beberam mais um copo para o caminho, começaram as despedidas e o Pedro viu-se sozinho subitamente, não sem esperar, no seu íntimo, mais umas cólicas que o obrigassem a voltar ao seu novo local de meditação.


(Sem pretender fugir aos encartes, temos de verificar que todas as conversas e todas as amizades interesseiras, em Portugal acabam sempre em m…a!)

Sem comentários:

Enviar um comentário