Perceba-se: seja ou
não o preguiçoso intelectualmente dotado, estamos, praticamente, sempre, diante
do mesmo problema.
No máximo,
poder-se-ía dizer que um certo dom intelectual, reconhecido e determinado,
tornaria o problema mais fácil. Mas não o resolve e deixa-o, no fundo,
idêntico, senão pior.
Torna-se, nada mais,
nada menos, de sacudir uma apatia física e psíquica que se reflecte sobre todo o
comportamento do preguiçoso, mas, especialmente, sobre o seu esforço
intelectual.
O preguiçoso não
deixará de ser preguiçoso – supondo-se que possa fazê-lo – a não ser sob uma
única condição, que é essencial: que se consiga fazer funcionar o mecanismo,
dar-lhe o arranque inicial, movimentá-lo de qualquer maneira.
Evidência que salta
aos olhos, mas que seria bom se tomasse em conta.
Neste momento, um
exame aprofundado impõe-se: tem ou não tem o preguiçoso uma disposição
particular? Gosta de fazer alguma coisa, qualquer que seja?
E fá-la, por
consequência, em virtude de uma espécie de instinto, de uma tendência
profunda, que não é facilmente inibida?
Em caso afirmativo,
esse preguiçoso está salvo. Se não, nada o salvará, a não ser – o que é muito
aleatório – que se lhe desperte artificialmente o gosto por determinada
actividade.
Mas se ele não possui
esse dom, se um exame atento no-lo revela, analisemo-lo com cuidado, sem
prejulgamentos. Toda a cura depende disso. Por isso, seria imperdoável tomar um
tendência secundária por um impulso verdadeiro, profundo, inato.
Infelizmente, é isso
que mais comummente acontece.
Por exemplo, não é
porque um político gosta de construir castelos de areia que tem uma real
disposição para ser empreiteiro de obras públicas. É talvez, e da mesma forma,
um poeta.., um lírico em potencial.
Ou, mais
simplesmente, um político que se aborrece, que se sente vazio, e como que em
disponibilidade.
Há somente um sinal
que não engana: a invenção, a criação num determinado campo.
De fcto, para
inventar e criar é necessário que se movam todas as nossas faculdades – e as
mais elevadas – num determinado sentido.
O preguiçoso, ou o
político que, num domínio qualquer, tente criar o que quer que seja, possui
aquela disposição particular que, mais estimulada, dirigida, orientada, pode
também transformá-lo – coisa curiosa! – não nalguns anos ou meses, mas em poucas
horas, imediatamente. “Quanto rende?”
Faça-se dele um
comerciante, isto é, aquilo para o que ele é feito.
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