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segunda-feira, 10 de junho de 2013

«A AGRICULTURA, SENHOR PRESIDENTE…»

Uma abordagem sintética da história da agricultura portuguesa, exige que se considerem apenas alguns dos seus aspectos mais relevantes, pondo de lado muitos outros, e isto por duas ordens de razão principais.

Em primeiro lugar, pelo facto de ter constituído até aos tempos contemporâneos a actividade económico-social de longe mais importante na sociedade portuguesa; a afirmação torna-se mais geral caso se considerem ainda actividades que lhe andam intimamente associadas, como sucede com a pecuária e a pastorícia, com a silvicultura e com actividades industriais de base agrária.

Pode mesmo dizer-se que, verdadeiramente, essa preponderância no conjunto da vida económico-social portuguesa só cederia durante os anos 80/90. Em segundo lugar, porque sob a designação de “agricultura” (literalmente, “cultivo dos campos”) se cobre uma realidade extremamente vasta e complexa sistematicamente interligada.

Excluem-se pois desta referência histórica aspectos sociológicos da vida rural-agrária, culturais, ideológicos e mesmo muitas facetas económicas e sociais, como preços e rendimentos, relações agricultura-indústria-transportes, estruturas demográficas e sua evolução secular, aspectos demo-económicos – posições de titulares da terra, de mediadores realizando o seu aproveitamento directo quando diferentes desses titulares – “arrendamento” num sentido muito genérico e em certa medida histórico – assalariados.

Todos estes aspectos e muitos outros (que não podem deixar de escapar  uma notícia tão sintética como esta, explicam a eclosão de tensões sociais pós o 25 de Abril de 1974, em especial no Alentejo, com aquilo que sucedeu na chamada “zona de intervenção da reforma agrária”.

Ao mesmo tempo intensificou-se a tendência para a contracção da percentagem de consumo de artigos agrícolas pela produção interna, em especial alimentares.

Naquela data, ao lado do Alentejo e do Ribatejo, onde a percentagem de assalariados por patrão oscilava entre 37,8 (Santarém) e 84,4 (distrito de Évora), o nível tecnológico relativo continuava a revelar a sua fraqueza congénita: o país, por 1000 há de terra arável, dispunha em 1976 de 16 tractores, contra 80 na França, 26 em Espanha ou 125 na Bélgica; e em 1974 o consumo de fertilizantes por habitante era menos de metade do consumo francês, metade do grego ou quase cinco vezes menor do que o belga.

Por isso o défice da balança do comércio externo de produtos agrícolas ( preços correntes) passava de 8,9 milhões de contos em 1974 para 17,5 milhões no ano de 1977, segundo um processo que se agravaria posteriormente, isto é, quando foi assinado determinado tratado e fornecidos diversos substanciais subsídios para deixar de produzir, de trabalhar as terras.

Mas, também as pescas sofreram devido aos subsídios oferecidos par se abaterem os barcos de pesca costeira e intermédia.

Quem estava na liderança do governo nessa altura? Alguém que hoje diz precisamente o contrário de tudo quanto incentivou com os tais subsídios para deixar de se produzir produtos agrícolas e pescar nas vastas águas ao longo de toda a costa marítima nacional.

O presidente da República,  que então era o primeiro-ministro do país, que até foi o “pai do monstro”, proferiu hoje, dia dez de Junho de 2013, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades que deveria envergonhá-lo por tudo quanto fez relativamente à agricultura, mas também por não ter uma única palavra sobre o tremendo desemprego que causa o gravíssimo flagelo que ataca os portugueses na actualidade.

Aliás, mostrou uma verdadeira obsessão pelo pós-troika, como pretendendo mudar as preocupações da esmagadora maioria da cidadania portuguesa, como pretendendo também virar a sua tenção para outros horizontes.


Não que esperasse um discurso coerente com a actual realidade nacional, pois do actual presidente da República, efectivamente, só se pode esperar calinada sobre calinada como por exemplo negar-se a ver o que realmente se vive, e como se vive no Portugal de hoje.

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