Uma abordagem sintética da história da
agricultura portuguesa, exige que se considerem apenas alguns dos seus
aspectos mais relevantes, pondo de lado muitos outros, e isto por duas ordens
de razão principais.
Em primeiro lugar, pelo facto de ter constituído
até aos tempos contemporâneos a actividade económico-social de longe mais
importante na sociedade portuguesa; a afirmação torna-se mais geral caso se
considerem ainda actividades que lhe andam intimamente associadas, como sucede
com a pecuária e a pastorícia, com a silvicultura e com actividades industriais
de base agrária.
Pode mesmo dizer-se que, verdadeiramente,
essa preponderância no conjunto da vida económico-social portuguesa só cederia
durante os anos 80/90. Em segundo lugar, porque sob a designação de “agricultura”
(literalmente, “cultivo dos campos”) se cobre uma realidade extremamente vasta
e complexa sistematicamente interligada.
Excluem-se pois desta referência histórica
aspectos sociológicos da vida rural-agrária, culturais, ideológicos e mesmo
muitas facetas económicas e sociais, como preços e rendimentos, relações
agricultura-indústria-transportes, estruturas demográficas e sua evolução
secular, aspectos demo-económicos – posições de titulares da terra, de
mediadores realizando o seu aproveitamento directo quando diferentes desses
titulares – “arrendamento” num sentido muito genérico e em certa medida
histórico – assalariados.
Todos estes aspectos e muitos outros (que não
podem deixar de escapar uma notícia tão
sintética como esta, explicam a eclosão de tensões sociais pós o 25 de Abril de
1974, em especial no Alentejo, com aquilo que sucedeu na chamada “zona de
intervenção da reforma agrária”.
Ao mesmo tempo intensificou-se a tendência
para a contracção da percentagem de consumo de artigos agrícolas pela produção
interna, em especial alimentares.
Naquela data, ao lado do Alentejo e do
Ribatejo, onde a percentagem de assalariados por patrão oscilava entre 37,8
(Santarém) e 84,4 (distrito de Évora), o nível tecnológico relativo continuava a
revelar a sua fraqueza congénita: o país, por 1000 há de terra arável, dispunha
em 1976 de 16 tractores, contra 80 na França, 26 em Espanha ou 125 na Bélgica; e
em 1974 o consumo de fertilizantes por habitante era menos de metade do consumo
francês, metade do grego ou quase cinco vezes menor do que o belga.
Por isso o défice da balança do comércio
externo de produtos agrícolas ( preços correntes) passava de 8,9 milhões de
contos em 1974 para 17,5 milhões no ano de 1977, segundo um processo que se
agravaria posteriormente, isto é, quando foi assinado determinado tratado e
fornecidos diversos substanciais subsídios para deixar de produzir, de
trabalhar as terras.
Mas, também as pescas sofreram devido aos
subsídios oferecidos par se abaterem os barcos de pesca costeira e intermédia.
Quem estava na liderança do governo nessa
altura? Alguém que hoje diz precisamente o contrário de tudo quanto incentivou
com os tais subsídios para deixar de se produzir produtos agrícolas e pescar
nas vastas águas ao longo de toda a costa marítima nacional.
O presidente da República, que então era o primeiro-ministro do país,
que até foi o “pai do monstro”, proferiu hoje, dia dez de
Junho de 2013, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades que deveria
envergonhá-lo por tudo quanto fez relativamente à agricultura, mas também por
não ter uma única palavra sobre o tremendo desemprego que causa o gravíssimo
flagelo que ataca os portugueses na actualidade.
Aliás, mostrou uma verdadeira obsessão pelo
pós-troika, como pretendendo mudar as preocupações da esmagadora maioria da
cidadania portuguesa, como pretendendo também virar a sua tenção para outros
horizontes.
Não que esperasse um discurso coerente com a
actual realidade nacional, pois do actual presidente da República,
efectivamente, só se pode esperar calinada sobre calinada como por exemplo
negar-se a ver o que realmente se vive, e como se vive no Portugal de hoje.
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