(Transcrevo tal e qual um documento de 1942
sobre a imagem da Senhora de Fátima que, ao que parece, tem inspirado o nosso
presidente da República. Não estranhem, pois, a linguagem, digna do mais fervoroso
fascista, como muitos havia então e que
conviria não esquecer muito depressa dado que o regime parece querer ressuscitar!)
«Impressionante manifestação de crença
religiosa foi aquela a que se assistiu nos dias 8 a 13 de Abril do corrente ano
de 1942, quando da vinda a Lisboa, promovida por iniciativa do “Congresso
Nacional da Juventude Católica feminina” nessa data aqui realizado, da Imagem
de Nossa Senhora de Fátima.
Desde o seu santuário da Cova da Iria, por
todas as cidades, vilas e povoações por onde passou, a Sagrada Imagem foi
acolhida com alvoroçado entusiasmo e profunda devoção, não só pelos habitantes
dos lugares como também, por outros que, de longe, acorriam para a saudar e lhe
imploravam, confiantes, a sua divina protecção.
E assim, no meio de luzido cortejo que a
acompanhava e por uma extensa estrada atapetada de flores que milhares de mãos
piedosas espalhavam no seu caminho, Nossa Senhora do Rosário de Fátima entrou
em Lisboa, onde, às portas da cidade, uma multidão densa a estava esperando,
vindo centenas e centenas de pessoas e muitas dezenas de automóveis engrossar o
cortejo que já trazia.
Ao encontro da Virgem de Fátima võ altas
personalidades da Igreja: os srs. Bispos de Beja, de Helenopole, de Limira, de
Bragança e de Portalegre, todos com as suas vestes carmezins. Precede-os,
envolto na capa de asperges de seda branca, com mitra e báculo doirado, o sr.
Arcebispo de Évora. Nesse momento, `entrada do Campo de Maio, festeja-se
simbolicamente a chegada de Nossa Senhora a Lisboa. Acenam lenços brancos e
rebentam morteiros e foguetes. Ouve-se, então, um toque imperioso de sentido.
São os clarins da “Legião” que saudam a Imagem Santa. Entre alas compactas de
gente que ergue lto os seus cânticos e as suas preces, o cortejo põe-se
novamente em marcha, agora precedido dos
eminentes prelados e em direcção `igreja paroquial que tem a invocação da Senhora
de Fátima.
Na extremidade do Campo 28 de mio ergue-se
vistoso arco de triunfo, todo bordado
flores naturais e onde se lêem palavras de exaltação à Virgem Mãe de Deus.
Quando por baixo dele passa o andor, um bando de pombas brancas ergue vôo largo e
uma chuva de pétalas ci sobre a Imagem.
E o cortejo, cada vez mais extenso pela massa
enorme de povo que cresce e aumenta cada
passo, vai seguindo sempre. Entretanto, a noite desceu. Acendem-se velas nas
mãos dos peregrinos e ciriais e lumes rodeiam o andor.
Chega, finalmente, em frente do templo onde,
à porta, faz guarda de honra um “terço” da Legião portuguesa, que toca a
sentido. Entram na vasta cerca da igreja e por ela se espalham em semi-círculo,
com os seus numerosos estandartes, as organizações católicas que tinham vindo a
acompanhar a procissão. Repicam os sinos e, do alto da torre sineira, onde uma
cruz grandiosa e brilhante domina tudo, desprende-se um foco intenso de luz. À entrada
do templo encontra-se o sr. Cardial patriarca, rodeado de altas
individualidades da Igreja. Depois de Sua Eminência ter pronunciado uma
comovente alocução, implorando as graças divinas para Portugal, e ter dado a
benção apostólica à multidão ajoelhada, foi a Imagem de Nossa Senhora tirada
do automóvel que a conduzia e levada para a igreja, onde ficou exposta à
adoração do público. Este, durante quatro dias consecutivos, li acorreu em
massa, a levar-lhe s suas piedosas homenagens, encontrando-se o templo, a toda a
hora, repleto de fiéis e o andor onde descansava a doce Imagem da Virgem,
sempre juncado de flores que, constantemente, lhe vinham sendo oferecidas.
N noite do dia 12, realizou-se em sua honra e
com o fim de lhe implorar a Paz para portugal e para o mundo, procissão das velas, em que tomaram parte
dezenas de milhar de pessoas e que constituiu
mais imponente manifestação de fé que jamais se viu entre nós.
Só quem
ela assistiu, pode fazer um ideia do efeito deslumbrante daquele
interminável rio de luz que percorreu durante horas algumas das principais
avenidas da capital, onde se apinhavam, o longo de todo o percurso, centenas e
centenas de milhar de pessoas, vindas de todos os bairros da cidade par a verem
passar, e onde rara era janela em que não
ardessem também velas, iluminando colgaduras brancas, vermelhas, de várias
cores, sendo lançada de muitas delas uma verdadeira chuva de pétalas de flores
sobre o andor da Virgem.
Bem mais de um hora teria decorrido, depois
que o maravilhoso rio de luz principiara a deslizar pela nossa frente, o som melodioso dos cânticos religiosos,
entremeado com o ruído metálico dos clarins militares, quando a venerada Imagem
da Senhora de Fátima – num trono de flores e banhada por um luz suave que não
se sabia de onde vinha e a iluminava toda – apareceu finalmente- Todos os
joelhos se dobravam e todos os lábios murmuravam orações, palavras de súplica,
de fé…
Depois, mais luzes, mais cânticos e por fim,
um pálio rico, sob o qual Sua Eminência, o sr. Cardial Patriarca ia dando a
benção aos fiéis que, ao longo do caminho, ajoelhavam respeitosamente.
No regresso ao templo, noite já adiantada, a
Imagem de Nossa senhora, - que dentro em breve iria deixar a cidade onde fora
enternecidamente acolhida – conserva-se, posta no seu andor, meio dos umbrais do pórtico, entre bandeiras,
lumes de círios, flores, cânticos e rezas; e às 4 da madrugada é rezada missa
no altar armado no portal.
Chega o momento da despedida. Acenam milhares
de lenços brancos no “Adeus à Virgem” e quando o carro, que a trouxe e agora
novamente a vai levar para o seu santuário de Fátima, parte, a multidão,
comovida, segue-o correndo até onde pode divisar o adorado vulto branco e
luminoso e deixou presa de encanto e saudade.»
(E ainda por longos anos o povo português
viveu no “obscurantismo”, conseguindo as autoridades criar a famosa triologia
dos Efes, Fado, Futebol e Fátima. Até quando?)
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