Que, só por si é figura da exclusão e da
exploração, encarna o escravo do mundo moderno sem o qual não há civilização
possível, como dizia Aristóteles – o que pensam também todos os devotos do
capitalismo.
Os bens, as riquezas, os benefícios, as
mais-valias, os lucros, os relatórios, os ganhos, eis as obras-primas do mundo
moderno, as pirâmides do capitalismo e as catedrais da industrialização.
Para construir esses edifícios, não se
regateia um,a mão-de-obra que, tanto ontem como hoje, se paga com um punhado de
feijões, com uns pedaços de pão seco e com umas zurrapas como bebidas.
O preço dessas construções? Pois, o trabalho
das crianças, sem distinção de idade, os salários de miséria cordados aos que
penam, a indigência absoluta para os miseráveis privados de emprego, a
escravatura, o dia de trabalho, legal, de catorze horas, as doenças
profissionais, os acidentes, as dívidas, os alojamentos vergonhosos, quando
existem, a ausência do direito ao trabalho, a repressão de qualquer aspiração
sindical, o seguimento policial, través de documentos apropriados, dos contratos
tomados pelo operário.
E depois? Bem, depois surgem os apoiantes de
tudo isto, que escrevem e falam contra a revolta dos trabalhadores contra exploração pelos capitalistas e políticos,
fazendo-o contra a dignidade humana ou para a
humanidade dos homens, mulheres e crianças que possibilitavam a existência de
riquezas e a sua confiscação pelo capital.
Promovem-se as associações e as sociedades de
resistência, os contratos colectivos de trabalho, as eleições de delegados nas
empresas, ausência de sanções em caso de
greves, o respeito pela liberdade sindical. Problemas de humanismo elementar?
Acaba-se com pena de morte por razões de
ordem política, promove-se a igualdade dos homens e das mulheres, a liberdade
imprescritível dos cidadãos, a supressão da escravatura, a criação de férias
pagas. Mas, como?
Problemas estruturais devidos ao
empobrecimento? Efectuam-se nacionalizações, reforma da banca, dos créditos, da
fiscalidade, separa-se a Igreja do Estado, laiciza-se a instrução e a saúde, torna-se
a escolaridade obrigatória para as crianças.
Generaliza-se e expande-se, o sindicalismo, o
corporativismo operário. A direita recusa em bloco!
Quem poderá dizer que hoje estes problemas
desapareceram? Que deixaram de ser especificamente os mesmos? A miséria, o
emprego, o direito ao trabalho, o humanismo elementar, o empobrecimento
induzido pelas instâncias estruturais, o alojamento, a organização do trabalho, a
formulação das reivindicações, a acção – não desapareceu nada daquilo que acossa
o trabalhador e os indigentes, como não perderam a actualidade as soluções que
foram trazidas pelos homens e mulheres que se dedicaram ao génio colérico da
revolução.
Regressa-se ao feudalismo, atacado com a ajuda
da democracia e da igualdade, por intermédio do cidadão, a industrialização
posta em causa pela democracia, por intermédio do trabalhador, apenas estavam
^espera do capitalismo criticado segundo o princípio libidinal e libertário, por
intermédio do indivíduo, cuja data de nascença é, incontestavelmente, Abril de
1974.
Certamente que na nossa história actual, tudo
isto permanece de uma terrível actualidade, de uma verdade gritante e de uma
desesperada pertinência, mas tudo permanece também verdadeiro e pertinente em
matéria de soluções.
O que regozija os que o capitalismo
desenfreado já não satisfaz ou deixou de satisfazer.
Longe das dissertações filosóficas ou das
divagações doutorais sobre os méritos comparados das justiças cumuativa ou
distributiva, sobre a relação mantida entre a caridade e outras virtudes
teologais do género da fé ou da esperança, com as quis nada podemos fazer, o
princípio de Antígona quer a equidade segundo
ordem humana.
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