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terça-feira, 25 de junho de 2013

«AMBIÇÃO DE CERTOS POLÍTICOS»

Compreendo mal a sua ambição de fazer de uma época em que o epígono é de preceito. Impõe-se aqui uma comparação.

Napoleão teve, no plano filosófico, rivais que o igualaram: Hegel pela desmesura do seu sistema, Byron pela sua irregularidade, Goethe por uma mediocridade sem precedentes.

Nos nossos dias, seria em vão que partiríamos à procura dos equivalentes aventureiros, dos tiranos deste século que se auto-proclamam “democratas”.

Se, politicamente, demos provas de uma demência antes de nós desconhecida, no domínio do espírito revolvem-se apenas pequenos destinos; nenhum conquistador da pena; nda para além de abortos, de histéricos, casos sem mais nada.

Nõ temos nem teremos nunca, receio, a obra da nossa decadência, um D. Quixote no Inferno. Quanto mais os tempos se dilatam, mais delgada se torn a literatura. E é como pigmeus que nos precipitamos no inaudito.

É mais do que evidente que precisaremos, para revigorarmos as nossas ilusões estéticas, de uma ascese de alguns séculos, de uma provação de mutismo, de uma era não-filosófica.

De momento, resta-nos corromper todos os géneros, impeli-los para extremos que os neguem, desfazer o que foi feito. Se, em tal empreendimento, pusermos algum escrúpulo de perfeição, talvez consigamos criar um tipo novo de vandalismo político-social.

Colocados à margem, incapazes de harmonizarmos as nossas derrotas, já não nos definimos por referência à Grécia: ela deixou de ser o nosso ponto de orientação,  nossa nostalgia ou o nosso remorso; apagou-se em nós, como também aconteceu com o Renascimento.

De Hölderlin e Keats a Walter Pater, o século XIX sabia lutar contra s suas opacidades e opor-lhes a imagem de um antiguidade mirífica, cura de luz, paraíso.

Paraíso forjado, não seria necessário dizê-lo. O que conta é que se aspirava  ele, que mais não fosse para se combater a modernidade e os seus esgares.

Era possível escolher outra época e cingi-l com toda a violência da saudade. O passado ainda funcionava.

Nós já não temos passado; ou antes, já nada há no passado que seja nosso; j´não há país de eleição, salvação enganadora, refúgio naquilo que foi.


As nossas perspectivas? Impossível decifrá-las; somos bárbaros sem futuro e, como a expressão já não possui a envergadura necessária para se medir com os acontecimentos, deveria caber-nos ter orgulho no que fizeram nossos pais e avós, sabendo exigir respeito por quem pensa ser dono de todos nós,  antes que entremos numa época de formas estilhaçadas, de criação às avessas, na qual qualquer um poderá prosperar nesse e noutros domínios, desde que alinhem com a barbárie hoje em moda.

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