Somos, todos nós, feitos de tal maneira, que
desejamos estar protegidos contra o risco. Ora, o risco é uma das constantes da
acção, visto que esta é uma perpétua escolha.
Para escapar aos azares da acção, procuramos
receitas; e porque elas provaram bem, em determinados casos, cremos,
ingenuamente, que são sempre infalíveis.
Revoltamo-nos, como que de um embuste, quando
constatamos que a vida exige de nós um espírito constantemente em vigília e
voltado para a invenção. Tudo recomeça, sem fim, mas de maneira sempre
diferente.
Cada caso que solicita nossa atenção é um caso específico, e tanto
pior, par nós e para os outros, se a nossa fraqueza de espírito, o nosso
instinto de comodidade nos incitam a tratá-lo como um cso conhecido,
classificado, catalogado, etiquetado e pouco susceptível de oferecer qualquer
surpresa.
Ora, em pedagogia tudo é surpresa. Tudo é
sempre novo, porque jamais h´duas almas exactamente semelhantes. E se é
verdade, por exemplo, que todo o homem tem uma inteligência e uma
sensibilidade similares, ou mesmo análogas.
Se, por consequência, se quer agir
eficazmente e com durável profundidade sobre esses dois homens, será preciso
renunciar de uma vez por todas às considerações abstractas e aceitar as
dificuldades de análise oferecidas pelo concreto.
Ser´conveniente renunciar, em definitivo aos
ficheiros e às fichas, os cartões e aos relatórios, para se lançar
deliberadamente na vida, na bela vida toda nova, toda fremente de ardor e sempre
renovada.
Será preciso aceitar o risco de inventar
sempre uma medicação específica para casos específicos e renunciar,
resolutamente, à ideia absurda que um homem, uma criança, um adolescente
sobretudo, são entidades ideais, e que basta enunciar alguns princípios
teóricos, logicamente deduzidos, para ter sobre eles uma influência definitiva.
Posto isto, é claro que, no fundo, não pode
haver senão contrariedades, discussões e exigências entre ambas as partes da
pedagogia, isto é, entre aqueles que educam e ensinam e quem detém os
cordelinhos da tutela. E, podendo haver – o que de modo algum é o caso actual –
por parte do que considero uma alínea (b), ou até (a) nas e das escolas
nacionais – os alunos – que devem merecer de todos o máximo respeito e
consideração, não é menos verdade que também a pedra basilar de todo o sistema
educativo – o professor – deve também, merecer, da parte da tutela, um não
menos rigoroso respeito pelo seu trabalho, pela sua dedicação mas também pelos
seus direitos enquanto homens e mulheres que dedicam a sua vida á educação e ao
ensino dos filhos dos outros.
Um ministro é, no fundo, o quê? Um árbitro ou
um juíz? Ou alguém que recebeu e aceitou a incumbência de gerir um sector da
vida nacional de acordo com o bem-estar de todos os seus actores, isto é,
professores e alunos, mas também com as “comissões de pais” que, em muitos
casos, não deveriam poder marcar presença nas reuniões escolares, tal é a sua
ignorância e parcialidade.
Ainda há dias se soube que uma professora foi
espancada, arrastada para fora da sala de aulas pela mãe de um menina, valendo-lhe
a ajuda recebida de colegas, não se ouvindo a voz do ministro a condenar
semelhante acto de estupidez, permitindo que partisse levando a filha pela mão,
antes da chegada das autoridades. Porque é preciso ver a que ponto de degradação
chegaram as nossas escolas, em que os pais e ou familiares de alunos pensam
poder fazer tudo quanto lhes apeteça, sem que a justiça imponha penas
pesadas tais actos de violação dos
direitos dos professores.
Que fazer em semelhantes condições de
trabalho? Porque, minhas amigas e meus amigos, as contínuas perseguições de que
têm sido vítimas os professores dão azo a que muitos pensem que não passam de
lacaios das suas filhas e filhos dentro da coisa pública, como é e deve ser a
escola.
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