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segunda-feira, 17 de junho de 2013

«COMO SE COMPÕE UM MINISTÉRIO»

É um dos traços da vida política portuguesa que a frequência com a qual se fazem e desfazem os governos. Pode lamentar-se  esta instabilidade: pelo menos ela testemunha de uma rara independência do Parlamento em relação ao executivo… E o que é curioso é que os deputados, eleitos pelo povo, em vez de o defenderem e de aprovarem leis que lesem gravemente a cidadania, limitam-se a dar apoio aos projectos de leis apresentados pelos governantes, adulando o ou os ministros que “fabricaram” certas leis que são verdadeiras aberrações.

A formação de um novo ministério não é sempre coisa fácil e supõe uma rte subtil de dosagem. Eis um exemplo acerca da empresa de transformar um candidato aos Negócios Estrangeiros num simples ministro do Trabalho…

(Qualquer coincidência com nomes ou frases é mero e puro acaso, não devendo, portanto, ser feita qualquer comparação com o que actualmente se passa ou se passou aquando da criação da actual “santa coligação”.)

Um pouco antes das sete horas da tarde, um estafeta leva ao senhor Paulo qualquer coisa uma convocatória do senhor Pedro, pois pretendia confiar-lhe o cuidado de formar um novo ministério.

Dizia o seguinte, como se pode verificar em termos muito corteses: “Se não vos incomoda passar pelo meu gabinete, terei todo o prazer de dar uma saltada até sua casa. Mas, como estou bastante ocupado, seria muita gentileza a sua se viesse, De imediato pensei em si, como alguns amigos meus, que o são também seus. O seu nome só sabe levantar simpatias. Sabe que formo um ministério claramente de direita. Tenho já várias promessas para as finanças. Posso inscrevê-lo na minha lista?

Paulo leu a mensagem atentamente e, como tinha o estafeta, que era um dos motoristas do gabinete do senhor Pedro, decidiu aceder ao convite; fez sinal ao motorista, foi buscar o casaco, meteram-se no elevador, entraram no carro que era um topo de gama cinzento metalizado e foi falar com o senhor Pedro.

Chegados ao gabinete do seu possível líder ministerial, caso aceitasse o convite, após os cumprimentos da praxe, foi convidado a sentar-se e a dizer o que pensava da proposta/convite que lhe enviar, disse:

“No que respeita  tendência, não terei qualquer objecção; com efeito, resta saber qual a pasta que pretende e pode oferecer-me.

«Claro, evidentemente… mas é você quem conta, mais que a pasta, não é verdade?... a sua pessoa… tudo o que representa… tudo farei para reservar o Trabalho.»

O senhor Paulo sorriu enfastiado:

“J´em tempos recusei o Trabalho quando mo ofereceram. Não penso aceitá-lo hoje.”

«Ah! Não sabia… desculpe-me… perturba as minhas ideias… Mas… tudo se arranjará de qualquer maneira. Será que posso propor-lhe a Agricultura, a Lavoura, como dizia há meses atrás?»

O senhor Paulo sorriu sem se dar a pena de responder.

«Então, estou um tanto embaraçado… aceitaria o quê..?»

“Os Negócios.”

Esta decisão foi dita em tom de ultimato. O senhor Pedro mostrou um ar cordialmente desesperado.

«Os Negócios!... Mas prometi-os já  alguém, que aliás é um dos eixos da minha combinação!... Poderia arriscar, com extremo rigor, seriam as colónias se ainda fossem nossas... mas os Negócios..?...»

O senhor Pedro observou-o atentamente com olhar ácido, o mesmo tempo que lhe dizia que se alguém o convocou para aquele encontro tinha sido o senhor Pedro e que se pretendia o seu concurso deveria ser ele a estudar o assunto e a oferecer-lhe os Negócios… ou, então nada feito e que ele era o principal eixo da combinação, pelo que só lhe restava oferecer-lhe os Negócios, dizendo-lhe mesmo que ou Negócios ou nada e também nada de combinação, isto é, de coligação governamental.

E, levantando-se, começou a dirigir-se para a porta, dizendo ao senhor Pedro que desse ordens ao motorista que o reconduzisse a casa.


«Rogo-lhe, meu caro; não me diga não, pois estou francamente interessado em si Dê-me apenas uns minutos par pensar… é que… sabe, eu só aceitei este lugar por dever patriótico A verdadeira questão que se coloca, é a de agrupar um certo número de pessoas que tenham os mesmos interesses. Pois, pode contar com os Negócios… farei que o outro aceite o Trabalho e um outro a Agricultura. O lugar dos e nos Negócios é seu desde já. E agora desculpe-me, mas devo entrar em contacto com eles… Ó António, leve o senhor Paulo a casa e regresse rapidamente.»

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