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domingo, 2 de junho de 2013

«AS PESSOAS SENTEM-SE HOJE MAIS ALIENADAS»

A humanidade assistiu nos últimos séculos a mais progressos tecnológicos do que nos dez mil anos anteriores. E assim como muitos conceitos científicos foram ultrapassados, também o foram muitos valores tradicionais.

Hoje em dia, a religião está menos presente e a moral é menos rígida. Questões sobre o certo e o errado, o bem e o mal já não são fáceis de responder. Esta crise dos valores e das crenças provoca em muitos de nós uma crescente falta de sentido da vida, o que é igualmente uma forma de alienação.

A tecnologia produziu também uma mudança radical nos estilos de vida. A vida rural, assentando nos valores da família e da comunidade, deu lugar a uma sociedade mais urbana e mais móvel e individualista.

Numa tendência que se iniciou com a Revolução Industrial e a produção em série, os trabalhadores perderam toda a ligação com o produto que fabricam e não têm uma sensação de identificação, o que também é visto como uma forma de alienação.

No escritório e na fábrica, o trabalho tornou-se progressivamente mais automatizado e, embora a tecnologia dos computadores possa atenuar muito a escravatura do trabalho, pode também divorciar ainda mais os trabalhadores da produção personalizada.

A alienação é muitas vezes de origem social e a sua “terapia” passa por uma vida familiar, profissional e comunitária mais humanizada; ao nível das dificuldades individuais, há, no entanto, várias respostas terapêuticas, como técnicas de treino de aptidões sociais e intervenção psicoterapêutica, que podem ajudar o indivíduo a sentir-se melhor.

Qual a diferença entre alienação e a solidão?

Ao passo que o indivíduo alienado se sente rejeitado ou posto de parte, sofrendo de ansiedade ou depressão, o indivíduo que vive sozinho fá-lo muitas vezes por opção voluntária.

A ênfase dada pela psicologia à vida de relação tem feito esquecer os benefícios que sempre foram associados à solidão. Muitos criadores  - quer da ciência, quer das artes – necessitavam de isolamento para o seu trabalho.

As pessoas sujeitas ao isolamento forçado, seja por circunstâncias de doença ou por encarceramento natural de alienação sublimando-o no enriquecimento intelectual ou na criação artística.

Na sociedade moderna, aos valores do grupo, ao bem-estar colectivo, subjacentes aos grandes movimentos sociais que nortearam os anos 60, sobrepõem-se os valores individuais, a preocupação com o nosso bem-estar doméstico, a segurança do nosso núcleo familiar restrito, a valorização da nossa imagem através da ascensão económica e profissional.

Cada homem tornou-se responsável por si próprio e é-lhe dada toda a liberdade, todos os recursos para triunfar – não em Portugal, evidentemente – desde que o faça sozinho.

Cada homem tornou-se narcisicamente dono de si próprio e fonte do seu próprio prazer.


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