A humanidade
assistiu nos últimos séculos a mais progressos tecnológicos do que nos dez mil
anos anteriores. E assim como muitos conceitos científicos foram ultrapassados,
também o foram muitos valores tradicionais.
Hoje em dia,
a religião está menos presente e a moral é menos rígida. Questões sobre o certo
e o errado, o bem e o mal já não são fáceis de responder. Esta crise dos valores
e das crenças provoca em muitos de nós uma crescente falta de sentido da vida,
o que é igualmente uma forma de alienação.
A tecnologia
produziu também uma mudança radical nos estilos de vida. A vida rural,
assentando nos valores da família e da comunidade, deu lugar a uma sociedade
mais urbana e mais móvel e individualista.
Numa
tendência que se iniciou com a Revolução Industrial e a produção em série, os
trabalhadores perderam toda a ligação com o produto que fabricam e não têm uma
sensação de identificação, o que também é visto como uma forma de alienação.
No
escritório e na fábrica, o trabalho tornou-se progressivamente mais
automatizado e, embora a tecnologia dos computadores possa atenuar muito a
escravatura do trabalho, pode também divorciar ainda mais os trabalhadores da
produção personalizada.
A alienação
é muitas vezes de origem social e a sua “terapia” passa por uma vida familiar,
profissional e comunitária mais humanizada; ao nível das dificuldades
individuais, há, no entanto, várias respostas terapêuticas, como técnicas de
treino de aptidões sociais e intervenção psicoterapêutica, que podem ajudar o
indivíduo a sentir-se melhor.
Qual a
diferença entre alienação e a solidão?
Ao passo que
o indivíduo alienado se sente rejeitado ou posto de parte, sofrendo de
ansiedade ou depressão, o indivíduo que vive sozinho fá-lo muitas vezes por
opção voluntária.
A ênfase
dada pela psicologia à vida de relação tem feito esquecer os benefícios que
sempre foram associados à solidão. Muitos criadores - quer da ciência, quer das artes –
necessitavam de isolamento para o seu trabalho.
As pessoas
sujeitas ao isolamento forçado, seja por circunstâncias de doença ou por
encarceramento natural de alienação sublimando-o no enriquecimento intelectual
ou na criação artística.
Na sociedade
moderna, aos valores do grupo, ao bem-estar colectivo, subjacentes aos grandes
movimentos sociais que nortearam os anos 60, sobrepõem-se os valores
individuais, a preocupação com o nosso bem-estar doméstico, a segurança do
nosso núcleo familiar restrito, a valorização da nossa imagem através da
ascensão económica e profissional.
Cada homem
tornou-se responsável por si próprio e é-lhe dada toda a liberdade, todos os
recursos para triunfar – não em Portugal, evidentemente – desde que o faça
sozinho.
Cada homem
tornou-se narcisicamente dono de si próprio e fonte do seu próprio prazer.
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