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sexta-feira, 19 de julho de 2013

«DA SOBERANIA SUBMETIDA À SOBERANIA LIBERTA»

Cada medalha ou moeda tem duas faces, que popularmente se designam por “caras ou coroas”, seja em brincadeiras de crianças seja, por exemplo, nos estádios e campos desportivos para a escolha de campo, sendo lançadas ao ar pelo árbitro.

Esta passagem. Efectuada pelo outro lado da face, autoriza uma redefinição do pensamento, desde há muito tempo, nas paragens “socialistas”, marxistas, cientistas e positivistas do século passado.

De Proudhom a Jean Grave, de Kroptkine a Elisée Reclus, de Bakounine a Han Ryner, o poder foi apreendido por estes grandes antigos como uma figura monoteísta encarnada do Estado.

Para mais, parece que o conjunto de pensamentos formulados no século passado e no começo deste, antes da explosão das máquinas infernais da propaganda pelos factos, se encontra pouco mais ou menos reduzido a uma laicização do pensamento.

Nietzsche tinha razão ao dizer que o socialismo era um platonismo para os pobres, essa antiga doutrina filosófica, tendo sido, ela própria, a matriz do cristianismo sob o selo do Vaticano.

A maioria das vezes o humanismo dos antigos libertários supõe o irianismo e o optimismo, o puritanismo e a moral, o pacifismo e a educação, o anti-clericalismo e o evolucionismo, a sociologia e uma multitude de outras tantas escolas, actuando como prisões tanto teóricas como dialécticas.

As invocações a uma justiça generalizada, a crença num teologia positiva,  a submissão aos dogmas doa amanhãs que cantam, a fé na bondade natural dos homens, a celebração da escola e da cultura como únicos meios para combater o infame, a revolução social como oportunidade única para realizar a humanidade acabada e perfeita, eis o que constituía um credo poeirento, uma série de dogmas pulverizados pelas lições da Primeira e, depois, da Segunda Guerra Mundial.

Nas trincheiras de Verdun e, depois, nas câmaras de gás de Auschwitz, encontram-se os despojos de um pensamento tornado inutilizável.

Tanto quanto se sabe, depois desses dois apocalipses que ensanguentaram o século, ninguém voltou a empunhar, nitidamente, o archote.

E, contudo, uma outra descendência, menos religiosa e mais artística, radicou em Félix Fénéon, fornecendo uma genealogia desse novo pensamento anarquista que, pelos seus rizomas, permite uma gloriosa constelação: Tristão Tzara e Marcel Duchamp, Jean Dubuffet e John Cage, Noam Chomsky e Paul Fayerabende, Kate Millet e Merce Cunningham, Henri Laborit e Frank Loyd Wright.

À sua maneira cada um formulou um vontade própria em promover novas formas, livres e libertas, nos domínios respectivos.

A estética, a música, a linguística,  epistemologia, o feminismo,  dança, a ciência e a arquitectura encontraram-se, deste modo, revigoradas.

Divergindo apenas quanto aos meios e não quanto às finalidades, os anarquistas e os marxistas do século passado queriam acabar com o Estado assimilado a um bode expiatório, única fonte de todos os males.

Depois do pensamento de 68 já não se ignora que o poder age noutro lado e de outro modo, do que, apenas, concentrado nessa forma, dispondo, por si só, do monopólio da obrigatoriedade legal.


Entretanto, na Europa e mais especialmente em Portugal, Grécia, Irlanda, Espanha e Itália, sobretudo em Portugal, assiste-se a uma total distorção do que deve ser a democracia e o social, massacrando o povo com impostos sempre novos e também novas formas de imposição de ideologias que nada ficam a dever a um totalitarismo disfarçado.

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