Um retrocesso na
aplicação do programa da 'troika' ou eleições antecipadas em Portugal podem
gerar "intranquilidade" em Berlim, considera uma especialista em
assuntos europeus de um 'think tank' alemão.
Almut Möller, responsável pelo
departamento de política europeia do 'think tank' alemão DGAP (Concilio Alemão
para as Relações iz Externas), que falou com a Lusa em Berlim, qualquer
retrocesso no memorando assinado com a 'troika', como os efeitos que um eventual
cenário de eleições antecipadas poderia ter em Portugal, "não seriam uma
boa notícia para Berlim".
"Uma
zona euro controlada será uma das bandeiras para Angela Merkel nas próximas
eleições. Mais uma crise poderá afectar a sua recandidatura" nas
legislativas de Setembro, referiu à Lusa a especialista em assuntos europeus da
organização que se dedica ao debate das relações externas na Alemanha, numa
altura em que o governo português completa dois anos desde que foi eleito.
Questionada
sobre como veria o executivo alemão um cenário de eleições antecipadas em
Portugal, Almut Möller afirma que isso poderia gerar "alguma
intranquilidade em Berlim", caso tivesse efeitos no memorando assinado com
a 'troika'.
Segundo
a responsável, a generalidade dos alemães não sabe o que se passa em Portugal,
nem os efeitos que as medidas de austeridade estão a ter no país.
"Portugal
não é tão problemático como, por exemplo, a Grécia. Isto nota-se pois Portugal
não está no centro do debate, assim como a Irlanda", disse Almut Möller,
salientando que se se fizer um levantamento nas ruas alemãs sobre os países que
pediram resgate financeiro "muitas pessoas provavelmente não se lembrarão
de Portugal".
Quanto
ao governo português, Almut Möller diz que este nutre de uma imagem "de
grande competência e responsabilidade" junto do executivo alemão e que
Angela Merkel e seus pares procuram sempre dar palavras de incentivo aos seus
parceiros europeus, "pois isto também se trata de um jogo psicológico onde
o mínimo de incerteza tem um efeito quase que imediato nos mercados".
A
especialista em assuntos europeus considera ainda, que as recentes medidas
anunciadas por Berlim de apoio as pequenas e medias empresas de Portugal e
Espanha, através do banco de fomento alemão KFW, "são uma forma da
Alemanha mostrar que esta empenhada nos problemas dos países em dificuldades e
que tem confiança no caminho que estes estão a seguir".
Por
outro lado, Almut Möller afirma que a Alemanha também aposta nesta cooperação
de forma a tirar dividendos, dando como exemplo o aumento de recrutamento de
mão-de-obra qualificada, por exemplo de engenheiros, nos países considerados
periféricos.
A
especialista do DGAP diz ainda que um dos próximos grandes desafios para Europa
será o Conselho Europeu de Junho, onde se compreenderá de que forma a Europa, e
particularmente a Alemanha, podem conciliar austeridade com crescimento sustentável,
numa altura em que o grande debate europeu é a criação de uma
economia sustentável e fomento do emprego.
N. M.
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