Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 4 de junho de 2013

«AS GREVES EM PORTUGAL»

Como conceito, o vocábulo exprime a ideia de suspensão simultânea do trabalho, resultante de uma decisão tomada pelos trabalhadores, com o objectivo de conseguirem a satisfação de exigências de ordem  profissional, tais como, aumentos de salários, melhorias de condições de trabalho ou regalias sociais.

A designação tem a sua origem no nome da praça onde, em Paris, se reuniam habitualmente os operários sem trabalho –Place de la Grève.

O conceito de greve surge ligado à greve operária, tendo-se depois alargado e aparecido com sentidos mais latos, por exemplo designando diversos outros tipos de greve; a greve política; a greve económica; a greve de zelo; a greve patronal, isto é, o lock-out…

O problema da greve está ligado ao das relações de trabalho (patronato-trabalhadores) e ao das relações entre o Estado e os sindicatos, na medida em que o direito de greve deriva do reconhecimento por parte do governo da liberdade sindical, estando esta liberdade, por sua vez, ligada ao problema dos direitos fundamentais dos cidadãos e, em particular, dos trabalhadores.

As lutas operárias desencadeiam-se em 1843, quando o Decreto de 7 de Maio aboliu as corporações dos mesteres e dissociou o capital e o trabalho. Nessa altura viu-se o operariado em luta constante com o patronato para obtenção de melhores salários e de mais regalias sociais e económicas, na procura e defesa permanente da sua emancipação.

A dependência entre o patrão e o assalariado permite, com muito peso social e económico, uma ascendência hierárquica por parte do detentor do  capital ou  seu representante. E esta situação foi foi criando foros desde o começo da organização das sociedades até que o proletariado reconheceu, como verdade, a exploração de que era objecto.

O acontecimento desencadeador desta tomada de consciência foi a Revolução Industrial e as suas consequências nas relações entre o capital e o trabalho. Os anos de maior agitação reivindicativa e grevista, em Portugal, foram os anos de 1872, 1897, 1904 e 1911, sobretudo este último, durante o qual chegou mesmo  a desenrolar-se uma greve dos trabalhadores rurais no Alentejo.

Não foi fácil nem rápida a organização da Associação Internacional dos Trabalhadores em Portugal. Havia uma dificuldade muito grande nas comunicações entre Portugal e o resto da Europa. E a greve era a grande, a única forma de demonstrar a necessidade que a sociedade, apesar de tudo, tem da sua participação.

Só muito mais tarde, numa análise dos factos, posterior às consequências visíveis desses mesmos factos, é que foi possível acabar por reconhecer que certas greves não foram desencadeadas no momento oportuno, nem justificadas da forma mais correcta. Não tiveram, por isso, os resultados mais apropriados. Há quem diga, hoje, que tudo isso teve como consequência uma progressiva deterioração da I Internacional, acabando por determinar a sua extinção; acabando por conduzir a um confronto ideológico em que o internacionalismo marxista aparecia como dogma totalitário em face do antitolitarismo da ideologia aliancista; e acabando, enfim, por degradar o conceito de greve, essa forma superior de luta, de que os operários devem usar sem abusar, defendendo-a como um direito, dificilmente adquirido,, mas plenamente justificado, o qual deve contribuir para a reivindicação de exigências de ordem profissional e nunca para uma propaganda ou acção político-partidária.

Como é sabido, após a Revolução militar de 28 de Maio de 1926 e com a ascensão de Salazar ao poder e a sua Constituição de 1933, as greves foram simplesmente proibidas no país, só regressando com a Revolução de Abril de 1974, depois de “saneados” os sindicatos que existiam, sendo então criadas as Centrais Sindicais, primeiro a CGTP e depois a UGT, as mais significativas.


A par dos que viam nisso a libertação dos sindicatos da influência política, conferindo a cada cidadão o direito de exercer a sua militância partidária sem o condicionamento aos interesses do seu partido e respectiva ideologia política, baseada em princípios programáticos por ele aceites, pode dizer-se que, apesar de tudo, se vive em Portugal um sindicalismo livre, embora haja, por parte dos políticos um desejo enorme de pretenderem a sujeição aos interesses partidários. Desta forma e dentro do espírito que norteou a Revolução dos Cravos a greve é vista hoje como o recurso negocial legítimo por parte dos trabalhadores e a elaboração de leis do trabalho com a participação directa dos interessados.

Sem comentários:

Enviar um comentário